Depois de notícias de compra de ações, convocação de assembleia e pedido de troca de conselheiros, as interferências do empresário Michael Klein no Grupo Casas Bahia parecem ter dado uma trégua. Mas, segundo informações do jornal O Estado de S. Paulo, o empresário segue se movimentando nos bastidores para voltar a ocupar a presidência do conselho da empresa em 2026 e ditar os rumos da varejista.

Atualmente, o filho do fundador das Casas Bahia é o maior acionista individual da companhia, com cerca de 10,4% de seu capital, após a compra de ações na bolsa nos primeiros meses deste ano. O empresário enxergou uma oportunidade para voltar a atuar no negócio em meio à baixa dos papéis e à reestruturação das Casas Bahia após uma das maiores crises de sua história.

Em 2024, a companhia entrou em processo de recuperação extrajudicial que envolveu a renegociação de R$ 4 bilhões em dívidas. O processo também levou a empresa a fechar dezenas de lojas e demitir mais de 10 mil funcionários. 

Após essas medidas, a empresa fechou o ano com um prejuízo de R$ 1 bilhão, frente aos R$ 2,6 bilhões de 2023. Já no primeiro trimestre de 2025, a varejista teve prejuízo de R$ 408 milhões por conta da alta com despesas financeiras. 

Um enredo de idas e vindas familiares

Apesar de os números estarem melhorando, Michael Klein acredita que poderia acelerar o processo de recuperação. Essa não é a primeira tentativa de Michael Klein de reassumir o controle da companhia. Desde que sua família vendeu o controle da empresa em 2009 para o Grupo Pão de Açúcar, a relação dos Klein com o negócio oscilou entre aproximações estratégicas e rupturas marcadas por disputas familiares e empresariais.

Naquele ano, a união de Casas Bahia com o Extra, do grupo de Abílio Diniz, e Ponto Frio formou a Via Varejo. Michael inicialmente apoiou a fusão, mas logo se desentendeu com o novo sócio, alegando que os ativos da Casas Bahia foram subavaliados. O conflito resultou em uma renegociação que manteve a família com 47% do capital e entregou a presidência da nova empresa a Raphael Klein, filho de Michael.

Dois anos depois, com a saída de Raphael da presidência, Michael tentou recomprar a empresa — sem sucesso. Em 2019, conseguiu retornar ao controle ao liderar um grupo de investidores que comprou a participação do GPA, após um longo processo de desinvestimento. 

Na época, ele promoveu uma ampla reestruturação, investiu em e-commerce e voltou a presidir o conselho. Mas, conflitos com o filho Raphael, que já ocupava e continua ocupando uma cadeira no conselho da varejista, o levaram a se afastar novamente do grupo.

Disputas familiares e escândalos

Além das divergências empresariais, a família Klein vive um conturbado processo judicial envolvendo a herança do patriarca Samuel Klein, falecido em 2014. Saul contesta judicialmente doações feitas pelo pai ao irmão mais velho, o Michael. Já Michael e sua irmã Eva processam o irmão Saul por ter transferido seus direitos na partilha para uma empresa sem clareza no contrato. 

Saul Klein também enfrenta uma condenação judicial por tráfico de mulheres e exploração sexual. Em 2023, foi condenado por liderar um esquema de aliciamento de jovens em situação de vulnerabilidade, revelado em 2021. Seu pai também fazia parte desse esquema. Embora os processos judiciais corram paralelamente, o escândalo ampliou o desgaste da imagem familiar.

Novo comando, nova estratégia

Desde abril de 2023, quem comanda a operação das Casas Bahia é Renato Franklin, ex-CEO da Movida. Sob sua gestão, o foco está em melhorar a rentabilidade da varejista. 

A empresa reformulou sua estratégia comercial, adotou o nome Casas Bahia para se referir ao grupo e vem apostando novamente no tradicional sistema de crediário que fez a fama das Casas Bahia. Com ele, a empresa alcançou uma carteira de R$ 6,1 bilhões ao final do primeiro trimestre de 2025.

A nova abordagem contrasta com a gestão anterior, que apostou em tecnologia e preços agressivos para ganhar mercado no ambiente digital. Em vez de expansão, o plano agora é consolidar margens e recuperar o equilíbrio financeiro. A abertura de novas lojas, por exemplo, está fora dos planos até, pelo menos, 2026.

O conselho de administração atual conta com cinco membros: três independentes, Raphael Klein (filho de Michael) e André Coji, indicado por Michael. Além de Michael, outros integrantes da família Klein detêm cerca de 11% das ações da varejista. Segundo informações do jornal O Estado de S. Paulo, a intenção de Michael Klein para 2026 é voltar à presidência do conselho e trazer outros dois nomes para compor o conselho. A ver como será o retorno de Michael desta vez. 

O InvestNews procurou Michael Klein, mas o empresário não concedeu entrevista.