Há pouco mais de uma semana com as ações da JBS sendo negociadas na Bolsa de Nova York, a diretoria do frigorífico da família Batista se prepara para nos próximos dias, enfim, tocar o sino da NYSE — um gesto simbólico que marca a estreia da companhia em solo americano e coroa uma ambição de quase uma década. Uma ambição que, por muito pouco, não foi adiada.
A chamada “dupla listagem” — eufemismo adotado pela companhia para descrever sua presença simultânea na NYSE e na B3, via BDRs — foi aprovada por 53,8% dos votos válidos, o equivalente a uma diferença de 45,3 milhões de ações (cada papel confere um voto).
O placar apertado lança luz sobre um episódio que esquentou os bastidores: a venda, às vésperas da assembleia, de um bloco expressivo de ações pelo BNDESPar, braço de investimentos do banco estatal.
Entre os dias 23 de abril e 20 de maio, o BNDES declarou ter vendido 58,3 milhões de ações da JBS, reduzindo sua participação de 20,8% para 18,18% do capital total. Desse total, 45,4 milhões de ações foram negociadas em um block trade no dia 20 de maio, em uma operação de R$ 1,9 bilhão. Segundo apuração do Brazil Journal, a ordem de compra foi executada pela corretora do BTG Pactual.
O banco de fomento firmou um acordo com a J&F, controladora da JBS, comprometendo-se a se abster da votação sobre a listagem. Em contrapartida, garantiu um “seguro” de até R$ 500 milhões, caso os papéis da JBS no exterior não atinjam um valor de referência — que não foi divulgado pelas partes.
Com a ausência dos dois principais acionistas — J&F e BNDESPar — na votação do item mais sensível da pauta, o resultado final refletiu exclusivamente o posicionamento dos acionistas minoritários. Na votação à distância, em que os investidores estrangeiros costumam votar em massa, o placar era pela rejeição.
Consultorias internacionais de voto, como ISS e Glass Lewis, contratadas por grandes fundos internacionais para indicar como os gestores gringos devem votar, haviam recomendado a rejeição da proposta, citando preocupações com governança e a adoção de estruturas com ações de voto diferenciado, concentrando poder nas mãos dos controladores.
O nome do comprador do bloco vendido pelo BNDESPar não foi divulgado oficialmente. O que se sabe é que a operação ocorreu em um momento de forte valorização das ações da JBS — e dias antes de uma votação em que cada ação teve peso decisivo.
Desde a estreia da companhia na NYSE, em 13 de junho, os papéis da JBS acumulam uma queda de 5,9%, sendo negociados a US$ 13,27 nesta segunda-feira (23). O valor de mercado da companhia está em US$ 29,4 bilhões.