Os maiores festivais internacionais de música realizados em São Paulo passaram por uma “dança das cadeiras” de suas produtoras e acabaram consolidando o Autódromo de Interlagos como o principal palco de grandes shows da cidade em 2023.
Tradicional pista de eventos de automobilismo da cidade, o espaço recebeu o Lollapalooza (realizado entre os dias 24 e 26 de março), do The Town (entre os dias 2 e 10 de setembro) e receberá a segunda edição brasileira do Primavera Sound nos dias 2 e 3 de dezembro.
Neste ano, tanto Primavera Sound como Lollapalooza foram produzidos pela Time 4 Fun (SHOW3). Já o The Town surgiu como nova marca da Rock World, produtora do Rock In Rio. Os dois eventos já realizados, Primavera e The Town, tiveram uma média de 100 mil ingressos vendidos por dia, segundo dados divulgados pelos organizadores.
Empresa de capital aberto na bolsa de valores de São Paulo, a T4F viu suas ações dispararem mais de 15% após o anúncio de que assumiria a 2ª edição do Primavera Sound. Na estreia em 2022, sob produção da Live Nation Brasil, o festival reuniu 55 mil pessoas no distrito Anhembi, o sambódromo de São Paulo.
‘Dança das cadeiras‘
O pontapé inicial das mudanças certamente partiu da Live Nation Entertainment, companhia surgida nos Estados Unidos em 2010 após a fusão entre a Ticketmaster e a Live Nation. Em 2014, a empresa adquiriu a C3 Presents, empresa estadounidense dona da marca Lollapalooza. Já em 2018, a multinacional tornou-se sócia majoritária da Rock World.
O Lollapalooza havia apresentado sua primeira versão brasileira em 2012, no Clube Jockey de São Paulo, com a Geo Eventos responsável por sua edição nacional. Em 2013, a C3 Presents assinou um contrato com a T4F, vigente por um período de 10 anos, para realização das edições seguintes. Foi então que mudou para o atual local.
“Ao tomar a decisão de levar o LollaBR para o Autódromo de lnterlagos, a T4F consolidou o formato do festival e ainda colocou o Autódromo na rota de grandes shows”
– T4F em nota após notícia de que a C3 Presents não renovaria contrato do Lollapalooza.
Para 2024, a Live Nation Entertainment parece querer contar com a expertise da Rock World para a edição brasileira do festival. “Esse movimento faz parte da estratégia de expansão da Live Nation Entertainment no mercado”, afirmou a empresa na nota com o comunicado.
“A escolha deles foi fazer um festival com quem tem essa tradição de festival e capacidade de captação como o pessoal do Rock In Rio”, avalia Fabiana Lian, produtora de eventos e fundadora da escola de formação para showbusiness ON STAGE LAB.
A T4F ficaria então ainda com seus três grandes festivais originais: Turá, Girls e Popload. A empresa, porém, abocanhou o Primavera Sound que, no ano anterior, havia chegado a São Paulo pela Live Nation com grande aceitação pelo público.
Lian avalia assim que o novo acordo firmado para pela T4F com o Primavera foi uma forma de “ter ainda uma marca internacional na carteira”.
Reportagem do InvestNews tentou contato com as empresas para entender as mudanças, porém não obteve respostas.
Mudanças no Primavera Sound
Sob gestão da Rock World, o Lollapalooza ainda não anunciou seu próximo line-up, nem nenhuma grande mudança em relação às últimas edições.
Já o Primavera Sound foi alvo de críticas nas redes sociais devido a queda no número de atrações. Em 2022, sob administração da Live Nation Brasil, o festiva apresentou mais de 60 atrações. Já para sua segunda edição, com produção da T4F, foram anunciados 31 nomes.
“Vamos ser sinceros, no momento a gente vive com tantos concorrentes!”, avalia Fabiana Lian. “A tendência quando o mercado está assim aquecido é rolar um leilão de cachês”, complementa.
Para a especialista, a redução do LineUp pode ainda ter a ver com um resultado financeiro mais fraco da primeira edição, ou com um interesse da T4F em não se arriscar no primeiro ano da nova parceria.
Outra mudança do Primavera Sound foi em relação ao local, do Distrito Anhembi para o Autódromo de Interlagos. “Para eles é um espaço seguro, é um lugar que eles estão atuando há pelo menos 9 anos, né?”, analisa Lian sobre a decisão da T4F.
Ainda assim, a especialista critica a concentração dos três maiores festivais paulistanos no mesmo espaço. “O tamanho de São Paulo, né? Dá pra ter festival em tudo quanto é canto”, reflete. “A gente tem uma dificuldade sim de lugares com uma implantação decente, mas eu acho que tinha que tentar esparramar pela cidade.”
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