O objetivo da companhia é descarbonizar as operações.
A depender dos resultados dos testes, que incluem o uso de 10% de etanol no combustível marítimo, a empresa deverá iniciar negociações comerciais com grandes produtoras do biocombustível no Brasil, como Raízen, Copersucar, Inpasa, FS e Atvos. A informação é do vice-presidente de Políticas Regulatórias da Maersk Latam, Danilo Veras.
Considerando os grandes volumes de combustíveis consumidos pelas embarcações, as negociações deverão versar sobre a capacidade de as companhias ofertarem o etanol de forma sustentável, disse Veras, ponderando que o biocombustível brasileiro se mostra com elevado potencial de descarbonizar.
“É a primeira vez que se queima etanol em motor de dois tempos que tem quatro andares de tamanho. É uma outra escala de pesquisa, outro nível de preocupação”, afirmou o executivo da Maersk, referindo-se ao tamanho do motor dos grandes navios.
A busca pela descarbonização é uma questão chave para o setor de transporte marítimo, que responde sozinho por cerca de 3% de todas as emissões de gases do efeito estufa (GEE) do planeta.
Indústria do etanol
Por outro lado, o movimento tem potencial para abrir um mercado enorme para a indústria de etanol. Uma mistura de 10% no combustível de todo o segmento marítimo no mundo poderia demandar, por hipótese, 50 bilhões de litros, um volume que supera com folga a produção brasileira, que deve girar em torno de 35 bilhões de litros em 2025.
Veras evitou afirmar quando a companhia poderia adotar uma mistura de etanol no combustível de suas embarcações. Mas pontuou que a escala de aumento da demanda pelo biocombustível e seus impactos são questões analisadas.
“Quando você dá um salto em escala é preciso estar muito certo de que este salto é sustentável”, afirmou ele, ao lado de executivos da Raízen, Copersucar, Inpasa, FS e Atvos.
A Maersk, que representa 15% do mercado mundial de transporte marítimo, tem meta de ter emissões líquidas zero até 2040, alcançando um equilíbrio entre a quantidade de GEE emitida e o volume removido da atmosfera, e os testes para usar biocombustíveis são um dos caminhos nesta direção.
Ele explicou que, embora o etanol brasileiro seja produzido em áreas de cana-de-açúcar consolidadas, sem impacto relevante para desmatamento, ou fabricado em regiões onde se produz o milho na segunda safra, o que reduz a pegada de carbono, as empresas fornecedoras precisarão comprovar que todo o processo é ambientalmente sustentável. O uso de biomassa para movimentar as caldeiras das usinas também é outro fator favorável ao etanol brasileiro, acrescentou.
“Parte das discussões comerciais é a discussão sobre sustentabilidade”, declarou, ressaltando que a companhia não admite que o processo possa causar devastação ambiental. “Estamos felizes até o momento porque está caminhando com dados de boa qualidade.”
O vice-presidente de Novos Negócios da Atvos, Caio Dafico, um dos executivos de empresas produtoras de etanol presentes no anúncio, afirmou que o Brasil tem condições de quadruplicar a produção de etanol de forma sustentável, desde que receba uma sinalização de demanda.
“Isso chamou a atenção da Maersk. O Brasil tem condição muito específica e singular de conseguir quadruplicar a produção de combustível barato nos próximos anos havendo a demanda”, disse ele, citando a ampla disponibilidade de terras de pastagens degradadas que poderiam ser convertidas em lavouras.
As discussões com as empresas produtoras de etanol começariam tão logo os testes com a mistura de etanol em bunker terminarem.
Os testes da mistura de etanol em navios movidos a metanol devem terminar em 23 de outubro, antes de a companhia realizar os mesmos procedimentos com bunker.
A adoção da mistura de biocombustível, contudo, tem desafios de infraestrutura portuária no Brasil, e a companhia avalia se exportaria o biocombustível para realizar a mescla no exterior, em um primeiro momento.
Em nota, o vice-presidente sênior e head de Transição Energética da Maersk, Morten Bo Christiansen, informou que as empresas apoiam os trabalhos adicionais da Organização Marítima Internacional (IMO) para examinar a compatibilidade de segurança do etanol com a tecnologia de motores marítimos, após o órgão adiar, na sexta-feira, as discussões sobre o tema.