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Negócios

Marcelo Tas: 41 anos de carreira em ‘modo beta’

Comunicador lança autobiografia profissional ‘Hackeando sua carreira’ e fala ao InvestNews

“O povo daqui gosta do governo que tem aqui. Espero que o povo de lá também esteja gostando do governo que tem lá porque o presidente é o meu pai”. A honestíssima declaração de Sarney Filho em 1985 foi ao repórter Ernesto Varela, em plena Praça Vermelha, no coração da Rússia soviética, durante o Festival da Juventude Comunista. 

Essa descrição parece inverossímil, mas é bem acurada. A única imprecisão é que Ernesto Varela, o repórter, era na verdade um personagem sob o qual estava Marcelo Tas, então com 25 anos de idade e uma cabeleira razoável. Atrás da câmera, um Fernando Meirelles que se acostumava a ser chamado de Valdecir pelo repórter de mentirinha. 

“Agora eu sei dar nome para a [produtora] Olhar Eletrônico, que foi a primeira empresa em que eu trabalhei. Ela era uma startup. Uma startup que fazia um produto que ninguém sabia se ia ter público: o vídeo”, explica ao InvestNews Marcelo Tas, agora aos 64 anos e dono de uma conhecida e lustrosa careca. “Muitas vezes você está testando um formato ou um produto e, enfim, a coisa não vai dar certo. Mas pode ser que dê.”

O olhar para trás não é à toa. Tas passou os últimos dois anos em conversas, anotações e escritas para botar de pé sua autobiografia profissional Hackeando sua carreira – como ser relevante num mundo em constante transformação. No livro, lançado pela Planeta, fica claro o permanente “modo beta” de Tas. 

Ele foi Ernesto Varela, Professor Tibúrcio e o Telekid (“‘Porque sim’ não é resposta!), foi roteirista e diretor do Castelo Rá-Tim-Bum, coordenou o Telecurso 2000, apresentou o CQC, comanda o Provocações, comenta no Jornal da Cultura. A lista completa é muito maior, mas essa coleção já dá conta de mostrar como é difícil definir a ocupação de Marcelo Tas. “Comunicador” talvez dê conta da maior parte de uma carreira que começou quando ele ainda cursava engenharia civil na Poli-USP. 

Para Tas, permitir-se uma vida cheia de experiências diversas é essencial. Mas refletir sobre elas e articular essas vivências é ainda mais importante. 

“A grande brincadeira é você ligar pontos diversos na sua vida. É uma delícia, é muito árduo e é o melhor caminho para a criatividade, não tenho dúvida. Até para resolver problemas… principalmente para resolver problemas.”

Às vezes, os problemas podem ser metaforicamente chamados por Tas de “encruzilhadas”. Uma delas veio aos 30 anos, quando um acidente lhe custou uma fratura em cada calcanhar e fez com que ele tivesse de lidar com a ideia de não poder caminhar, dois anos de recuperação e muita fisioterapia. “Aquilo me pegou, fiquei no fundo do poço mesmo. É possível que eu nunca mais ande?”, pensou. 

A parada obrigatória no momento em que a carreira decolava ensinou uma lição preciosa sobre o cuidado com a saúde. “Sempre cuidei do corpo. Mas aí comecei a cuidar muito melhor. Minha saúde melhorou muito depois desse tombo”. 

“Essas encruzilhadas servem para ampliar os campos de visão. Podem servir para isso, depende muito de você…”

Mas os momentos de parada não precisam ser fruto do acaso ou do azar. Logo depois de chegar à Globo, em 1987, Tas foi aprovado para uma bolsa de estudos na New York University. Quando veio o convite para fazer o Video Show, ele avisou à chefia que, se a bolsa saísse, ele iria para a Big Apple e pronto. Dito e feito. 

“Eles não acreditaram que eu ia ter essa coragem, mas se eu não tivesse feito a NYU, ficado lá um ano e meio e aprendido tudo o que eu aprendi, nunca teria feito o que veio na sequência”.

Foi na NYU que Tas conheceu os computadores Apple – nos quais ele se inspirou para criar o Telekid do Castelo Rá-Tim-Bum, um garoto que responde aos porquês das crianças por meio de pesquisas feitas em um walkie-talkie que abria janelas virtuais com as respostas. E isso em 1994, antes de qualquer coisa remotamente parecida com o Google. 

Os escritos do psicólogo e Nobel de Economia Daniel Kahneman foram da companhia de Marcelo Tas durante o processo de escrita do livro. O especialista da escola comportamental ajudou o comunicador a formar seus raciocínios a respeito das tomadas de decisão necessárias na carreira. 

O “modo beta” de Marcelo Tas não impediu que projetos longos acontecessem. Na passagem atual pela TV Cultura já são oito anos. Oito anos também foi o período na Band, quando planejou e apresentou a versão brasileira do formato argentino Custe o Que Custar (CQC). Ele se orgulha dessas relações duradouras, mas alerta: “Quando você chega no piloto automático, é perigoso, mesmo que você esteja monetariamente gerando valor”. 

“Às vezes você vai ficar muito rico até, mas aí vai ter aquela tristezinha no final do espumante em Veneza”, brinca. Aqui, Tas fala de um amigo que conquistou muito dinheiro durante a carreira. 

“No final do espumante, virou para mim: ‘No fundo eu queria ter sido como você. Porque você fez o que quis’. Mas eu lembro do que ele queria: ele queria ficar rico, e conseguiu”. Tas tira uma lição: “Se você tem como meta ficar rico, tome cuidado: você pode conseguir. E talvez isso não signifique que você vai estar feliz”. 

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