O mercado de aquisições de startups está em alta este ano, representado no mega acordo de US$ 32 bilhões fechado na semana passada pela startup de cibersegurança Wiz. O movimento sinaliza otimismo no Vale do Silício com as políticas antitruste da administração Trump e sugere que empresas apoiadas por venture capital finalmente têm uma saída para monetizar seus investimentos.

Houve 11 vendas de startups de mais de US$ 1 bilhão anunciadas até agora neste ano, acumulando US$ 54,5 bilhões — um total que supera facilmente recordes anteriores para totais trimestrais comparáveis, de acordo com dados compilados pela CB Insights.

Em contraste, no primeiro trimestre do ano passado, houve apenas duas aquisições de startups de mais de US$ 1 bilhão, que juntas renderam apenas US$ 3,2 bilhões.

O acordo do Google para comprar a Wiz marca o maior negócio já feito para uma startup apoiada por capital de risco. A notícia veio logo após uma série de outros anúncios importantes: somente neste mês, a SoftBank concordou em comprar a designer de chips Ampere Computing por US$ 6,5 bilhões, a Scopely concordou em comprar o negócio de jogos da Niantic por US$ 3,5 bilhões, e a PepsiCo fez um acordo para comprar a startup de refrigerantes Poppi por quase US$ 2 bilhões.

Os negócios relacionados à inteligência artificial, em particular, têm sido uma febre. No início de março, a CoreWeave concordou em comprar o negócio de IA Weights & Biases por US$ 1,7 bilhão, e a ServiceNow Inc. disse que iria adquirir a empresa de IA Moveworks por US$ 2,85 bilhões.

“Você vai ver muito mais negócios sendo anunciados”, prevê Matt Murphy, sócio da Menlo Ventures e conselheiro de duas empresas recentemente adquiridas, incluindo a Egynte, vendida a fundos de private equity por US$ 1,5 bilhão em fevereiro. Segundo ele, após um período de desencontro entre expectativas de compradores e vendedores, “agora ficou mais fácil fechar acordos”.

O reaquecimento do M&A representa um alívio para investidores do Vale do Silício, após anos de seca em IPOs e grandes negociações. Analistas apontam que o cenário mudou por vários motivos. No caso da Wiz, fontes próximas ao negócio afirmam que a mudança na presidência dos EUA teve influência: com a saída de Lina Khan — crítica ferrenha do setor tech — da presidência da FTC e a entrada do republicano Andrew Ferguson, há expectativa de uma postura mais branda em fusões. Ferguson já declarou que vai “acabar com a guerra de Lina Khan contra as aquisições”, embora também tenha prometido manter o combate ao poder excessivo dos gigantes da tecnologia.

Para Michael Brown, sócio do escritório Fenwick (que assessorou a venda da Wiz), outro fator que impulsiona as aquisições é a retomada dos IPOs de tech no segundo semestre. Quando uma startup tem a opção de abrir capital, isso “muda a dinâmica de negociação”, permitindo melhores preços de venda. Brown também destaca que, após anos de poucos negócios, “os compradores têm caixa acumulado para gastar” — a Wiz, por exemplo, foi vendida ao Google 100% em dinheiro.

David Chen, chefe de investment banking em tecnologia do Morgan Stanley (que participou do acordo Google-Wiz), descreve o momento como “um clima extremamente vibrante para fusões e aquisições”. Na visão dele, mais do que a política antitruste de Trump, o que está acelerando as negociações é a volatilidade causada por medidas como tarifas comerciais, deixando empresas mais inclinadas a buscar compradores.

“A disposição dos vendedores aumentou porque a instabilidade do mercado tornou os IPOs arriscados”, explica. Além disso, a alta inicial das ações após as eleições deu a alguns compradores “confiança para fechar os negócios dos sonhos”.

Outro motor do movimento é a corrida por talentos em IA, segundo Jamie Leigh, sócia do escritório Cooley, que assessora grandes empresas de tech. “Compradores sabem que precisam garantir expertise em tecnologia de ponta”, afirma. Leigh também cita o cenário de juros mais favorável e a demanda reprimida após anos de lentidão.

Apesar do boom, mais de mil unicórnios (startups avaliadas acima de US$ 1 bilhão) ainda aguardam uma saída — seja por venda ou IPO. Para elas, a retomada das aquisições pode ser a diferença entre o sucesso e o fracasso.