Sem encontrar interessados há mais de um ano, a Minerva terá de levar a leilão, até o fim do primeiro semestre de 2026, uma planta em Pirenópolis (GO), cuja venda foi determinada pelo Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) como condição para aprovar a transação entre as rivais.
O frigorífico goiano faz parte do pacote de 16 plantas anunciado em agosto de 2023, numa transação que previa também a aquisição de unidades no Brasil, Argentina, Chile e Uruguai. Destas, porém, nem todas puderam ser incorporadas: além das restrições brasileiras, o “Cade uruguaio” vetou a venda de três plantas naquele país, reduzindo o alcance inicial do acordo. No total, a Minerva acabou levando 12 frigoríficos.
No caso brasileiro, o Cade condicionou o negócio ao desinvestimento em Pirenópolis para evitar um nível considerado excessivo de concentração no mercado de abate e desossa de bovinos em Goiás. Se a planta fosse mantida, JBS e Minerva passariam a concentrar até 77% das compras de gado para abate no estado, segundo estimativas do próprio tribunal.
A Marfrig, que operou Pirenópolis no passado, já havia desativado a unidade há anos, e sua ausência reforçaria a dominância de suas duas maiores rivais. Embora esteja desativado, o frigorífico tem um autorização do SIF (Serviço de Inspeção Federal), essencial para comercializar carne além das fronteiras estaduais e pré-requisito para habilitações futuras de exportação.
É um diferencial relevante: parte significativa dos abates brasileiros ocorre em plantas com inspeção apenas estadual, limitadas ao consumo local. Um SIF ativo, portanto, torna a estrutura mais atrativa para grupos que miram mercados externos – mesmo que a unidade exija investimentos para retomar a operação.
Leilão
Para viabilizar a aplicação do remédio concorrencial, o Cade estabeleceu um prazo de 24 meses para que a Minerva encontre um comprador. Como não houve interessados no primeiro ano, o tribunal autorizou agora a contratação de uma consultoria independente, que ficará responsável por definir o valor mínimo de referência para a realização do leilão.
Caso, mesmo assim, a planta não atraia compradores, a Minerva poderá permanecer com o ativo — sem que isso represente descumprimento do remédio imposto. O próprio conselheiro-relator do caso, Carlos Jacques, reconheceu que, nesse cenário, o Cade não deve reabrir a discussão.
Goiás segue como um dos polos mais estratégicos da pecuária nacional, com forte oferta de bois terminados, boa malha logística e presença das grandes processadoras. No desenho resultante da operação, a Minerva ficará com duas plantas no Estado, nos municípios de Mineiros e Palmeiras.