A N5X, bolsa de comercialização de energia elétrica, começa sua operação hoje no Brasil. A plataforma oferece a possibilidade de empresas que participam do mercado livre de energia fecharem contratos de compra e venda de forma eletrônica. O que promete simplificar a vida das companhias que querem acessar esse mercado e, como resultado, aumentar a liquidez e, como consequência, reduzir os preços da energia negociada.
Atualmente, 71% da comercialização de energia no mercado livre é feita de forma bilateral. Ou seja, todo o processo é feito entre as duas companhias, desde a análise de crédito até o fechamento do contrato. Isso torna o processo mais lento, caro e, de certa forma, aumenta o risco de algo sair errado no meio do caminho.
Na primeira etapa de atuação da nova plataforma, a negociação também será bilateral. Mas a operação será fechada por meio da boleta eletrônica e de um contrato padrão desenvolvidos pela N5X que, na visão da empresa, podem tornar o processo mais ágil e mais seguro do ponto de vista jurídico.
O plano da N5X, entretanto, é atuar como contraparte central, o que tiraria o risco de crédito das mãos das empresas que fecham o negócio e, com isso, pode atrair mais participantes para esse mercado. Para isso, a N5X precisa ainda da aprovação regulatória da CVM e do Banco Central.
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A N5X já está trabalhando em mecanismos para que, a partir de 2025, seja possível fazer as negociações dentro da plataforma, com as cotações sejam solicitadas e exibidas na tela.Hoje, esse processo ainda é feito de forma manual, sujeito a erros.
Em uma terceira etapa, que também depende de autorização dos reguladores, a N5X quer desenvolver contratos de derivativos, como futuros, swaps e opções de energia. “Temos uma jornada regulatória pela frente, que acreditamos que levará no mínimo dois anos”, diz Dri Barbosa, CEO da N5X.
Joint venture entre um fundo apoiado pela B3 e a Nodal Exchange, bolsa de derivativos da alemã European Energy Exchange (EEX), a N5X nasce como uma concorrente do Balcão Brasileiro de Comercialização de Energia (BBCE), plataforma que movimentou R$ 40 bilhões em 40 mil operações.
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Para desenhar a plataforma, a empresa buscou referências internacionais e iniciou conversas com agentes do setor elétrico brasileiro em outubro do ano passado. A estreia da bolsa acontece com 160 empresas cadastradas, entre elas grandes companhias como Casa dos Ventos, Copel, Raízen, Assaí Atacadista e a trading Danske.
O Brasil é o sexto maior mercado consumidor de energia elétrica do mundo. O mercado livre atende a 37% desses consumidores, que são empresas que utilizam energia de alta tensão. Os demais 63% estão no mercado cativo.
O desenvolvimento de instrumentos mais transparentes para esse mercado pode contribuir para atrair mais players e aumentar os negócios. E isso levaria a uma queda dos preços da energia na visão de Edmundo Grune, diretor técnico na consultoria do setor de energia PSR.
Na negociação bilateral, como acontece hoje, a definição do preço tem menos transparência e, portanto, menos eficiência. Isso afasta alguns grandes players desse mercado. “Não tem um índice de preços, então fica difícil decidir se faz sentido fechar o negócio ou não”, explica. Olhando para o exemplo internacional, diz Grune, é possível afirmar que a melhora da eficiência desse mercado aumenta a liquidez e, com isso, barateia a energia.
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