Ao menos essa é a aposta da gestão da companhia. Na terça-feira, 16, a mineradora abriu seu capital na Nasdaq, em Nova York, sob o ticker AUGO. O IPO, que captou US$ 200 milhões para o caixa da Aura, é o começo de uma migração do principal local de listagem – da Bolsa de Toronto para o mercado americano, onde a liquidez dos papéis promete ser maior, e o poder de atração sobre novos investidores também.
A entrada na Nasdaq foi como um follow on. A Aura emitiu 8,1 milhões de ações e vendeu na bolsa americana. Antes, ela era dividida em 66,4 milhões de papéis. Agora, são 74,5 milhões. 12% das ações da companhia, portanto, agora são negociadas em Nova York, e a ideia é ir aumentando essa proporção com o tempo.

Controlada pela Northwestern Enterprise, de acionistas brasileiros, desde 2016, a Aura também tem BDRs emitidas na B3.
Até agora, antes da listagem nos EUA, os papéis movimentavam menos de US$ 15 milhões por dia, abaixo do patamar necessário para ter acesso aos tubarões do mercado. “Não tínhamos volume para atrair os grandes fundos estrangeiros. Aumentar a liquidez, então, era algo que planejávamos há alguns anos”, diz Rodrigo Barbosa, CEO da Aura, em entrevista ao InvestNews.
A decisão, porém, estava atrelada ao crescimento da companhia – que foi comprada da YamanaGold com a tese de recuperação do negócio. “Não tínhamos tamanho suficiente para atrair a atenção dos investidores, dado a escala. Então fomos entregando projetos, aumentando reservas, crescendo produção, e isso permitiu que a gente acelerasse, agora, o projeto de migrar para os EUA.”
A escalada do ouro
A abertura de capital da Aura nos EUA ocorre em um momento particularmente favorável para o mercado de ouro, o principal produto da mineradora: quase 80% da receita vem do ouro – o cobre responde pelo resto.
Em 2025, os preços do metal subiram quase 30% no acumulado do ano, superando recentemente a marca histórica de US$ 3.500 por onça, a unidade de medida mais usada para o metal, equivalente a 31 gramas.
São duas as grandes razões que têm feito o metal cumprir como nunca a máxima do “a preço de ouro”.
Uma delas é a guerra entre Ucrânia e Rússia, que levou ao subsequente bloqueio das reservas russas em dólar (mais de US$ 300 bilhões). Isso ligou a sirene de bancos centrais como o da China, que em caso de conflito com os EUA também poderia ver sua poupança confiscada – já que reservas em dólar ficam na forma de títulos públicos americanos (se os EUA não quiserem pagar, não pagam). Logo, esses BCs passaram a comprar mais ouro.
Não só eles. Outra razão é o crescente endividamento e déficit americano, que não dá sinais de que terá uma solução de curto prazo e que passou, pela primeira vez, dos US$ 33 trilhões, ajudando a desvalorizar a moeda americana.
Isso torna o dólar, automaticamente, um ativo menos seguro. E aumenta o apetite dos BCs por mais ouro para compor suas reservas.
O movimento, vale notar, ganhou ainda mais gás com a subida de tom do governo de Donald Trump nas disputas tarifárias.
Os bancos centrais em todo o mundo têm agora quase tanto ouro quanto tinham em 1965, quando o metal era a principal reserva de valor dos países – e o lastro do próprio dólar. O estoque de ouro mantido pelos bancos centrais chegou a 36 mil toneladas em 2024, com Polônia, Índia e China se destacando entre os maiores compradores.

No começo deste ano, pouca coisa mudou, com mais uma vez a Polônia e a China liderando essa “caça ao tesouro”. No caso do país de Xi Jinping, o clima de disputa geopolítica com os Estados Unidos intensifica esse ritmo.
“A China está transferindo as riquezas que tem em dólar para outros ativos, entre eles o ouro. Acho que isso não tem volta: a tendência é de mais distanciamento entre China e Estados Unidos”, avalia o CEO da Aura. E é por isso que a cotação do ouro deve continuar subindo, segundo o executivo.
Para deixar de ser uma junior mining
A migração da listagem principal para a Nasdaq faz parte do plano da Aura para deixar de ser vista como uma junior mining. A Aura passou por um profundo turnaround nos últimos seis anos, após ter sua gestão abrasileirada. A mineradora opera hoje um plano de expansão agressivo que pode quase dobrar sua produção nos próximos anos.
Entre os projetos prioritários está Cerro Blanco, na Guatemala, descrito pelo time BTG Pactual como o projeto “Aura 2.0”. Segundo o banco, o ativo pode dobrar a produção da Aura a um custo base menor, com o desenvolvimento avançando acima das expectativas. Apesar disso, Cerro Blanco ainda não está precificado nos modelos financeiros, sendo considerado uma opcionalidade significativa para a tese de investimento.
Além de Cerro Blanco, a Aura já colocou em operação a mina Borborema, que deve adicionar cerca de 82 mil onças anuais, e projeta para 2027 o início da produção de Matupá, com potencial de 54 mil onças ao ano.
O time do banco estima uma produção de 280 mil onças para 2025. A companhia mantém uma projeção entre 266 mil onças e 300 mil onças para este ano, mas prevê superar as 450 mil onças anuais nos próximos anos.
Se os planos se confirmarem, as 450 mil onças ou cerca de 14 mil toneladas ao ano fariam a Aura superar a Vale na extração de ouro – a gigante do minério de ferro é a segunda maior produtora de ouro do Brasil, com 13 mil toneladas em 2024.
Para Barbosa, o crescimento virá tanto de projetos internos quanto de novas aquisições. “Vamos continuar olhando M&A. Isso ainda faz parte da nossa estratégia de continuar crescendo, e estamos sempre monitorando alternativas”, diz.
Em junho, a empresa concluiu a compra da mina Serra Grande, vendida pela AngloGold Ashanti por US$ 76 milhões. Os recursos levantados no IPO agora devem ser usados para pagar essa aquisição, enquanto o restante deve ser investido em outros dois projetos: Era Dourada, na Guatemala, e Matupá, em Mato Grosso.
A estratégia inclui aproveitar a especialidade da Aura em recuperar ativos subdimensionados. “Esse é o nosso background. Conseguimos entrar em ativos que não estão performando bem, implementar nossa gestão e reduzir custos, o que nos permite gerar valor de forma consistente”, diz Barbosa.
Parte do mercado tem reconhecido o modelo de gestão da Aura como um diferencial competitivo, destacando o case como exemplo de eficiência no setor. Segundo análise da HIX Capital, a mineradora adotou um modelo de gestão mais descentralizado, permitindo que cada mina seja responsável pelas próprias decisões, diferente do modelo mais centralizado e engessado, comum na indústria de mineração.
Essa cultura, segundo a gestora, possibilitou maior nível de controle e eficiência nas operações, contribuindo para a Aura sustentar custos abaixo da média do setor e destravar valor em ativos que antes não performavam.

A operação atual da Aura conta com quatro minas em operação comercial: Almas (Tocantins), Apoena (Mato Grosso), Minosa (Honduras) e Aranzazu (México). No Brasil, Borborema (Rio Grande do Norte) está em fase de ramp-up, enquanto Matupá (Mato Grosso) e Era Dourada (Guatemala) são os projetos em crescimento no pipeline de médio prazo. Em exploração, a Aura mantém áreas em Carajás (Pará) e Tolda Fría (Colômbia). Além disso, a mina de Serra Grande, recém adquirida, já é operacional.
“Vamos dobrar de tamanho e continuar na trajetória que temos construído de ser a maior pagadora de dividendos entre as mineradoras de ouro no mundo”, defende Barbosa. Pelos cálculos do BTG, o retorno sobre os pagamento de dividendos da Aura deve ser de 10% neste ano – em dólar, naturalmente.