Negócios
‘Netflix’ da energia solar: como startup levou clientes a economizarem R$11 mi
Após captação milionária, Lemon Energia quer ampliar base de clientes com serviço por assinatura e parceria com Ambev.
Aos moldes do serviço disponibilizado pela Netflix (NFLX34), uma startup oferece no Brasil um “catálogo” de energia solar por assinatura, mas sem precisar instalar placas solares e sem o alto custo embutido. A Lemon Energia opera há quatro anos semelhante ao canal de streaming, sem usinas ou infraestrutura, com uma plataforma que conecta pequenos negócios a distribuidoras. O “plus” do serviço são as fontes renováveis e uma economia de no mínimo 10% na conta de luz – podendo ser maior, a depender da região.
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A startup afirma que seus mais de 5 mil clientes economizaram pelo menos R$ 11 milhões desde 2019 nos seis estados atendidos, além de terem sido evitadas 8,5 mil toneladas de gás carbônico (CO2) na atmosfera.
Ao InvestNews, o diretor de operações da Lemon fala sobre os planos de expansão, o aporte milionário recebido em 2022, e por que a Ambev (ABEV3) tornou-se uma das investidoras da empresa.
Desconto na conta de luz atrai clientes
No final de setembro, a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) anunciou reajustes para algumas permissionárias, entre elas, a Cervam, que atende indústrias, empresas de médio e grande porte ou consumidores com sistemas de irrigação no estado paulista. Para os clientes da empresa, o percentual reajustado foi de 23,97%.
De olho nisso, o diretor da Lemon, Rafael Zanardo, apontou que o serviço prestado pela startup foi pensado justamente nos pequenos empreendedores, uma vez que é uma dor sentida por esta parcela, já que a conta de energia está entre os maiores custos do negócio.
“Um bar ou restaurante precisam ter muitas geladeiras, freezers, ar condicionado, o que pesa na conta de luz e no custo fixo mensal. O mesmo não se aplica tanto às pessoas físicas. Por isso que, a princípio, nosso foco é em CNPJs.
Rafael zanardo, diretor de operações da lemon.
O executivo aponta que a próxima tacada da Lemon será atender também domicílios, mas por enquanto, a estratégia da empresa é aumentar a presença do serviço em diferentes regiões do país. Hoje, seis praças contam com energia por assinatura da startup: Minas Gerais, Brasília, Distrito Federal, interior de São Paulo, Rio de Janeiro e Goiás. Equatorial (Goiânia) e CPFL Paulista estão entre as distribuidoras parceiras. As regiões de Goiânia e do interior paulista devem responder por quase metade da operação até o fim de 2023 (25% e 20%, respectivamente).
Já outra frente de crescimento está em Minas Gerais, hoje o principal mercado da companhia e onde recentemente foi expandida a oferta de energia limpa e mais barata após um acordo com a Ludfor, que vai acrescentar três usinas solares ao portfólio da Lemon ainda neste semestre.
Captação de R$ 60 milhões
No ano passado, a Lemon levantou R$ 60 milhões em uma rodada de captação série A, liderada pelo maior fundo de venture capital da América Latina, o Kaszek, além da participação do Lowercarbon, fundo dedicado a startups de impacto ambiental.
A gigante de bebidas Ambev também é investidora e parceira, uma vez que a startup oferece seu serviço para pontos de venda da dona da Budweiser, Brahma, Corona, Stella Artois, Skol e Guaraná Antarctica. A “tática” é impulsionar o plano de descarbonização da Ambev. Em contrapartida, a Lemon amplia – e muito – a sua base de clientes.
Segundo a startup, qualquer estabelecimento pode receber seus serviços, mas os que estão ligados à Ambev recebem a oferta primeiro.
Apesar de agora o foco não estar em novas rodadas de captação, a startup aponta que o valor levantado no ano passado está sendo investido em tecnologia e usado para melhorar o atendimento. Na visão de Zanardo, isso é essencial, uma vez que os clientes de energia elétrica no Brasil “tipicamente não estão acostumados a ter” acesso a isso.
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Apagão em São Paulo
Na última sexta-feira (3), a cidade de São Paulo sofreu uma forte tempestade, causando a interrupção do fornecimento de energia elétrica pela Enel em grande parte da capital e outros 23 municípios paulistas.
A agência do setor chegou a convocar uma reunião para analisar não apenas as consequências do temporal, mas também debater o que é preciso ser feito para que haja uma rede elétrica mais resiliente diante de eventos meteorológicos extremos – e cada vez mais recorrentes.
Segundo Zanardo, os clientes da empresa não correm risco de desabastecimento por falha ou manutenção na usina solar em um determinado mês. Neste caso, o consumidor receberia energia elétrica da rede comum, apesar de mais cara e com mais emissões de CO2.
No caso da falta de energia elétrica enfrentada por milhares de moradores da capital paulista, a startup apontou que ainda não opera na região atendida pela Enel, mas nas regiões das concessionárias CPFL Paulista e Neoenergia Elektro.
Ainda assim, o diretor da startup apontou que o serviço foi criado para dar mais segurança à rede, uma vez que as fontes que entregam energia são descentralizadas.
“A ideia é que futuramente o serviço seja semelhante à indústria de telecomunicações. Cada pessoa tem uma operadora, Vivo, Tim, Claro… só que todos usam as mesmas antenas. Temos a escolha de decidir qual operadora faz mais sentido a oferecer serviços de telefonia e internet. É este o papel da geração descentralizada de energia”.
Rafael zanardo, diretor de operações da lemon.
Como funciona o serviço por assinatura?
No caso da Lemon, a startup não distribui nem vende energia e, sim, faz a ponte entre usinas (solares, biogas ou pequenas hidreletricas) e pequenos comércios, intermediando a gestão de créditos na conta. A venda e distribuição de energia é feita pelas concessionárias das respectivas regiões.
As usinas de geração renovável associadas à Lemon injetam energia sustentável no sistema de distribuição, gerando créditos que são abatidos das contas dos consumidores que aderiram ao serviço da startup.
Por não precisar adquirir placas solares nem alterar a instalação do local, a empresa usa tecnologia e dados para conectar usinas de energia renovável a estabelecimentos físicos. É como um aluguel de um pedaço de um gerador de energia sustentável.
Depois de aderir ao serviço, cada cliente recebe a conta tradicional zerada na parte do consumo, exceto pelas tarifas e impostos da região (como o ICMS) pelo “frete” da energia que continua chegando pelos fios e postes. Depois, a Lemon gera uma conta própria para o cliente, com o devido desconto.
Para a usina, a vantagem de se associar à Lemon é conquistar mais clientes e aumentar seus retornos.
Geração solar compartilhada
Segundo a Associação Brasileira de Energia Solar Fotovoltaica (Absolar), existem 6.782 usinas de energia solar instaladas no Brasil com esse tipo de serviço por assinatura. Elas estão presentes em 1.216 municípios e abastecem 301.372 unidades consumidoras (o que inclui residências, comércios e indústrias).
A potência instalada é de 657 megawhats. Para base de comparação, a potência total da matriz elétrica brasileira é de 219.181 megawahts, sendo 50% proveniente da matriz hídrica e 15,4% solar fotovoltaica.
De 2020 a 2022, o número de consumidores utilizando essa solução passou de 3.250 para 11.712. Até o fim de 2023, a Lemon Energia prevê chegar a pelo menos 10 mil clientes.
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