A Netflix refinanciou parte de um empréstimo-ponte de US$ 59 bilhões com dívida mais barata e de prazo mais longo, reforçando o pacote financeiro que sustenta sua oferta pela Warner Bros. Discovery.

A gigante do streaming obteve uma linha de crédito rotativa de US$ 5 bilhões e dois empréstimos a prazo com saque diferido (delayed-draw) de US$ 10 bilhões cada para refinanciar parte do empréstimo-ponte contratado para a proposta pela Warner, segundo um documento protocolado nesta segunda-feira. Com isso, restam US$ 34 bilhões para levantar via sindicato de bancos.

A Netflix fechou um acordo no início de dezembro que avalia os ativos de estúdio e streaming da Warner em US$ 82,7 bilhões. Na sequência, a Paramount lançou uma oferta hostil de aquisição por toda a Warner, desencadeando uma disputa que vai redesenhar a indústria do entretenimento, independentemente de quem vença. As ofertas rivais envolvem operações de dívida de vários bilhões de dólares, entre as maiores da última década.

Na semana passada, a Warner recomendou que seus acionistas rejeitassem a oferta da Paramount em favor do acordo original com a Netflix. A Warner descreveu a proposta da Paramount — que inclui US$ 54 bilhões em compromissos de dívida — como “inferior e inadequada” e afirmou que o financiamento do negócio era arriscado demais.

Embora a Netflix conte com o apoio do conselho da Warner, ela enfrenta obstáculos regulatórios e políticos para concluir a aquisição. A senadora democrata Elizabeth Warren, de Massachusetts, classificou a oferta como um “pesadelo antimonopólio”, e a Netflix se moveu para tranquilizar funcionários de que o negócio não resultará no fechamento de estúdios.

Empréstimos-ponte

Empréstimos-ponte cobrem lacunas imediatas de financiamento e são usados com frequência por empresas que se preparam para ofertas de compra. Em geral, eles são substituídos semanas ou meses depois por dívidas mais permanentes e baratas, muitas vezes distribuídas entre um número maior de credores.

Embora durem pouco, esses empréstimos permitem que bancos construam relacionamento com empresas para conquistar mandatos mais bem remunerados no futuro. Com os mercados de crédito quietos recentemente, a competição entre bancos tem sido intensa pelas poucas oportunidades que se concretizaram.

Wells Fargo, BNP Paribas e HSBC estão entre os bancos que forneceram à Netflix o empréstimo-ponte sem garantia.

A dívida anunciada nesta segunda-feira vence em prazos escalonados. Supondo que a aquisição avance, a linha de crédito rotativa — que permite tomar e devolver recursos com facilidade — vencerá em 2030 ou três anos após a conclusão do negócio, o que ocorrer primeiro. Já os empréstimos a prazo com saque diferido vencem em dois e três anos, respectivamente, segundo o comunicado.

A Netflix deve recorrer ao mercado de capitais para reduzir ainda mais o tamanho do empréstimo-ponte e alongar os vencimentos de sua dívida. Quando isso acontecer, a dívida provavelmente terá grau de investimento, já que a Netflix tem rating A3 de dívida pela Moody’s Ratings e A pela S&P Global Ratings.

A empresa recorreu ao mercado de bonds de alto rendimento (junk bonds) no início do seu negócio, mas passou a acessar financiamento mais barato quando foi elevada ao status de “blue chip” em 2023.