O consumo de carne bovina dá sinais de retração no Brasil, enquanto o frango se consolida como a escolha principal do consumidor. Ao mesmo tempo, suínos e industrializados ampliam espaço, garantindo margens mais previsíveis para os grandes frigoríficos.

Os resultados de BRF e Marfrig, empresas controladas pelo empresário Marcos Molina e que representam duas das maiores produtoras de carnes do mundo, dão pistas da dinâmica atual e indicam as direções que o setor deve seguir nos próximos meses.

Se o ano passado trouxe boas notícias para os frigoríficos, especialmente em relação ao consumo interno impulsionado pela recuperação econômica e maior poder de compra, 2025 se desenha como um período de ajustes. 

Após o preço subir mais de 20% no ano passado, maior nível em cinco anos, o consumo de carne bovina deve seguir um caminho mais tortuoso, enquanto o de frango segue disparado na liderança.

O desafio do consumo

A Marfrig, especialista na carne de boi, viu suas vendas crescerem 27,2% em volume no Brasil em 2024, atingindo uma receita líquida de R$ 7,6 bilhões (+17,7%). No entanto, a empresa já sinaliza um cenário de menor oferta de bois para abate e, consequentemente, preços mais elevados em 2025.

A produção nacional de carne bovina deve cair 4,9% em 2025, de acordo com a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab). Como resultado, o consumo da proteína por habitante cairá 8,9%, com o consumo de 31,9 kg per capita.

“A redução na oferta de gado impacta a indústria como um todo, mas seguimos focados em agregar valor aos nossos produtos”, afirmou Rui Mendonça, CEO da Marfrig para a América do Sul, em conversa com jornalistas. 

Se a carne bovina perde espaço na mesa do consumidor, o frango segue nadando de braçada como a proteína dominante. Em momentos de preços mais altos da carne de boi, os consumidores costumam migrar para opções mais baratas – um movimento conhecido no mercado como tradedown – e a primeira opção costuma ser a carne do galináceo.

A Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA), que representa os frigoríficos de carne suína e de frango, projeta que o consumo per capita da carne de frango crescerá 2% em 2025, atingindo 46,6 kg por habitante, um recorde que reforça ainda mais sua posição de proteína preferida – contra os 31,9 kg per capita da carne bovina. 

A BRF, dona da Sadia e da Perdigão, tem conseguido capitalizar essa tendência, com um crescimento de 7,4% na receita líquida no Brasil, que chegou a R$ 28,8 bilhões, o que ajudou a empresa a entregar um lucro líquido de R$ 3,7 bilhões – o primeiro desde 2021. Não por acaso, o resultado da carne de frango representou 74% de todo o lucro operacional (Ebitda) do grupo controlado por Molina.

“Terminamos 2024 com uma posição financeira sólida, o que nos traz perspectivas excelentes para 2025. O negócio se encontra num excelente momento e a empresa se preparou para desfrutar e aproveitar novas oportunidades”, afirmou Miguel Gularte, CEO da BRF.

Já a carne suína, a terceira proteína mais consumida no país, deve ter um incremento de consumo de 2,7% 2025, com o consumo per capita de 20,3 kg, ainda de acordo com a Conab.

Outra oportunidade está no segmento de alimentos processados – nuggets, hambúrgueres, lasanha de microondas e afins –, uma especialidade da BRF, que ampliou seu market share neste segmento, alcançando 40,8% de participação de mercado em 2024. 

“A estabilidade dos custos de produção e a valorização dos produtos industrializados são pontos-chave para garantir um crescimento sustentável da companhia”, reforçou Fábio Mariano, CFO da BRF.

Exportação segue forte

Com uma tendência de desaceleração do consumo da carne bovina no mercado interno, as exportações continuam como uma via segura e rentável para as empresas do setor.

O Brasil deve manter-se líder global na exportação de carne de frango (5,3 milhões de toneladas previstas para 2025) e carne bovina (3,9 milhões de toneladas), enquanto as exportações de carne suína devem alcançar 1,4 milhão de toneladas, superando o recorde de 2024.

Os mercados mais promissores incluem China, Oriente Médio, Filipinas e México, onde a demanda por proteínas segue aquecida, compensando parcialmente os ajustes no mercado interno e garantindo rentabilidade para os principais players do setor.