Mesmo assim, incertezas relacionadas às projeções da companhia para o preço do barril de petróleo no próximo quinquênio, a continuidade dos aportes em fertilizantes e a possibilidade de retorno ao mercado de gás de cozinha afetaram negativamente as ações da petroleira, que recuava acima de 2% no início da tarde desta sexta-feira (28).
“O endividamento bruto deve ser mantido em até US$ 75 bilhões. Isso mostra que a empresa não vai querer se alavancar mais, nem para fazer novos projetos, nem para pagar dividendos. E devem manter a lógica atual de pagamentos relacionados à geração de caixa”, diz Ilan Arbetman, analista da Ativa Investimentos. “Diante de um Brent mais baixo, a companhia vai ser mais seletiva e cuidadosa quanto a custo e despesa.”
O plano prevê a destinação de US$ 91 bilhões (R$ 485 bilhões) a projetos que serão implantados nos próximos cinco anos e outros US$ 15 bilhões (R$ 80 bilhões) que serão alocados em uma carteira de avaliação, composta por oportunidades com menor grau de maturidade, segundo a empresa.
A Petrobras deve priorizar os investimentos na Margem Equatorial como forma de mitigar a perda de receita futura com a queda da produção do pré-sal. Serão investidos US$ 7,1 bilhões para atividades exploratórias no quinquênio. As bacias do Sul e Sudeste e ativos exploratórios em outros países como Colômbia, São Tomé e Príncipe e África do Sul também foram destacados pela companhia em documento divulgado ao mercado.
O sócio diretor do Centro Brasileiro de Infraestrutura (CBIE), Adriano Pires, avaliou como positiva a continuação do projeto Sergipe Águas Profundas (SEAP), com a inauguração da primeira plataforma prevista para 2030. O projeto, que depende de licitação para entrar em operação, deve demandar investimentos da ordem de US$ 5 bilhões e tem potencial para colocar o estado nordestino em um novo patamar de arrecadação e produção energética. “É um projeto que pode produzir 18 milhões de metros cúbicos de gás por dia. Isso tem o potencial de mudar a cara do Nordeste”, diz ele.
Fatores de risco
Com o Brent, indicador usado como referência pela estatal, em queda de mais de 20% em 2025, a corretora Genial Investimentos classificou em relatório divulgado nesta sexta-feira (28) a expectativa de preços para o Brent e o dólar como “otimista” tendo em vista o atual patamar e a curva futura do Brent. Para fazer suas contas para o próximo ciclo, a empresa estimou que o barril de petróleo será, em média, US$63 em 2026, subindo para US$ 70 já em 2027 até 2030. A média do dólar, por sua vez, estaria cotada a R$ 5,8 entre 2026 e 2030 em suas estimativas.
Alguns especialistas do setor temem, no entanto, que o preço do barril do óleo recue para a faixa de US$ 50 diante do excesso de oferta no mundo e da possibilidade de arrefecimento da guerra entre Rússia e Ucrânia. Ou seja, um desnível do preço fora do esperado poderia fazer com que toda a expectativa de investimentos para o próximo ciclo seja frustrada.
Também havia um temor por parte de especialistas do setor de óleo e gás de que a companhia anunciasse investimentos voltados à distribuição de gás liquefeito de petróleo (GLP), o tradicional gás de cozinha. A petroleira saiu desse mercado após vender a Liquigás para um consórcio formado por Copagaz, Itaúsa e Nacional Gás Butano, em 2020, e com a venda da BR Distribuidora em 2021, para a Vibra Energia.
“O negócio de GLP de um passado recente para agora ampliou a sua atratividade em 188%. Qual foi o mercado e qual foi o negócio que em tão curto período de tempo aumentou sua atratividade em 188%?”, disse Magda, em coletiva para a divulgação dos resultados do segundo trimestre de 2025. “Nós não vamos nos autolimitar, nós vamos buscar a expansão dos nossos mercados e alocação dos nossos produtos da forma mais rentável e proveitosa possível para a companhia”, reiterou.
Uma fonte próxima à companhia relatou que a prioridade, no gás, será a maturação do gasoduto rota 3, projeto inaugurado em 2024, que liga o pré-sal da Bacia de Santos ao Complexo de Gás Natural (Gaslub, agora Complexo Boaventura) em Itaboraí, Rio de Janeiro. Com 355 km de extensão (307 km marítimos e 48 km terrestres), ele transporta gás natural das profundezas do oceano até a unidade de processamento de gás (UPGN). A empresa investirá em conexões com Duque de Caxias e depois na ampliação rumo à região Centro-Oeste.
A Petrobras, no entanto, não desistiu do mercado de GLP. A empresa aguarda o desenrolar de uma proposta em análise na Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) que pode alterar a política de envase de botijões por parte das distribuidoras. Há um temor de que mudanças abram espaços para fraudes e perda de controle sobre a qualidade do produto.
“A Petrobras defende que as distribuidoras de GLP estão com margem muito alta. Ou seja, o interesse dela em voltar para o mercado é para regular a margem para baixo. Isso não tem lógica e seria péssimo para o bolso do acionista”, afirma Adriano Pires, do CBIE. “Se está acontecendo um oligopólio ou coisa parecida, cabe ao Cade olhar e multar as empresas. Você não resolve isso trazendo a Petrobras de volta a esse mercado.”
A empresa também destinará parte dos investimentos para a renovação e ampliação da frota de navios de cabotagem para classes de baixa liquidez e o afretamento de embarcações de apoio offshore. Segundo ela, os aportes “trarão novas oportunidades para a indústria naval”. O plano inclui a construção de 20 navios de cabotagem e de 18 barcaças, com investimento de US$ 2 bilhões no período e afretamento de 40 novas embarcações de apoio para renovação da frota de suporte às atividades de exploração e produção.
Outra aposta vista com certa desconfiança é no mercado de fertilizantes, mas a Petrobras pretende concluir a Unidade de Fertilizantes Nitrogenados (UFN-III), em Três Lagoas (MS), e aposta na continuidade operacional de suas operações do tipo na Bahia e em Sergipe.