Com os efeitos da pandemia da covid-19 no mundo nos últimos anos, o número de pequenos negócios no Brasil, compostos por micro e pequenas empresas (MPE) e por microempreendedores individuais (MEI), cresceu 46,2% de 2019 a 2022, partindo de um total de 14,5 milhões para 21,2 milhões, segundo dados extraídos do portal da Receita Federal. No entanto, o aumento desacelerou em 2022, em meio ao cenário de recuperação do mercado de trabalho.
Em 2020, o número de novos pequenos negócios subiu 14,5%. No ano seguinte, a alta foi de 15,66%, enquanto que de 2021 a 2022 o crescimento foi reduzido a 10,41% – menor percentual observado nos anos da pandemia.
Os números coincidem com uma inversão da tendência das demissões e contratações do mercado formal de trabalho no país.
Em 2020, o número de demissões superou o de admissões, 15,8 milhões contra 15,6 milhões, totalizando um saldo de menos 192,5 mil pessoas em emprego formal, segundo dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged).
A partir de 2021, o cenário de demissões superiores a admissões foi revertido. No ano, o número de contratados no país foi de 20,9 milhões e o número de demitidos foi de 18,1 milhões, totalizando um saldo positivo de mais 2,7 milhões de pessoas com emprego formal.
Em 2022, o saldo de admitidos foi positivo mais uma vez, embora inferior a 2021. No ano passado, o número de admissões no país foi de 21,2 milhões e o número de demissões foi de 18,7 milhões, totalizando um saldo positivo de mais 2,4 milhões de pessoas com carteira assinada.
José Sarkis, professor do curso de Administração da Fundação Armando Alvares Penteado (FAAP), comenta que o saldo negativo dos empregos formais no pior momento da pandemia pode ter sido um fator impulsionador para que as pessoas se envolvessem em algum modelo de pequeno negócio.
“Em nossa cultura, o empreendedorismo é muito apreciado. Entretanto, quando analisamos um dado de aumento de empreendedorismo, não devemos, por princípio, qualificá-lo como positivo sem entender as razões”, diz.
“É o chamado empreendedorismo por necessidade, aquele em que o profissional perde o seu emprego e sem a oportunidade de recolocação no mercado, constitui uma empresa, criando assim sua própria ocupação, o seu emprego como forma de componente de renda e subsistência.”
José Sarkis, professor do curso de Administração da FAAP
Isabella Vasconcellos, coordenadora da educação executiva na Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM), complementa que existe um conjunto de fatores que contribui para esse crescimento do número de pequenas empresas.
O primeiro é que muitas empresas precisaram trocar, durante o auge da pandemia, as contratações do regime da CLT para Pessoas Jurídicas (PJ), porque assim tinham a chance de diminuir custos, segundo ela.
“Em muitas empresas, houve a ‘pejotização’ de seus funcionários para evitar os custos da previdência. Assim elas deixaram de ter empregados e passaram a ter um fornecedores.”
Isabella Vasconcellos, coordenadora da educação executiva na EsPM
Para a especialista, outro fator impulsionador é que jovens vêm apresentando mais interesse em empreender nos últimos anos.
Atendimentos do Sebrae disparam
Embora a alta no número de novos negócios tenha desacelerado, o empreendedorismo segue crescendo. Assim, o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae) disparou em número de atendimentos.
Em 2022, o Sebrae ultrapassou 20 milhões de atendimentos. No total, foi uma média de 56 mil atendimentos por dia e mais de 2,3 mil atendimentos por hora, em todo Brasil. Em 2021, o total foi de 17,4 milhões.
A marca histórica de atendimentos registra que, em apenas um ano, de cada quatro Cadastro Nacional da Pessoa Jurídica (CNPJ) no país, um foi atendido pelo Sebrae, consolidando uma cobertura de 25% dos pequenos negócios brasileiros.
O atendimento por canais digitais consagrou-se como uma das principais frentes de atuação da instituição. Das 20 milhões de empresas atendidas, 52% optaram pelas soluções online. As inscrições nos cursos online, por exemplo, cresceram 196% em 2022, quando comparado com 2018. Neste ano, o ensino à distância registrou 4 milhões de matrículas, contra 236 mil há quatros anos.
Por necessidade ou não, como começar a empreender?
Um dos itens fundamentais para começar ou manter um negócio consolidado é contar com um planejamento estratégico – que serve para lidar com erros e acertos ao longo da jornada das micro e pequenas empresas –, segundo a Razonet, empresa de contabilidade digital.
Para a organização, traçar metas de curto, médio e longo prazo, de acordo com a realidade do empreendedor, torna o futuro do negócio algo mais concreto e palpável.
“Apesar de não saber o que o futuro nos reserva, não podemos ficar dependendo de mudança de governo ou outros fatores para determinar o futuro da empresa, caso contrário, viramos apenas passageiros”, aponta Valdenir Menegat, sócio da Razonet Contabilidade Digital.
Após cuidar do planejamento, veja 4 dicas para empreender e ter sucesso, de acordo com a Razonet.
1 – Gerir a equipe e o conhecimento
Para iniciar ou manter um negócio, é sempre importante alinhar a equipe e os sócios, assim como o conhecimento que cada um tem, com a finalidade de ter melhores resultados.
“Enquanto gestor, é necessário avaliar quem é essencial e quem faz questão de participar do dia a dia da empresa. Essas sim são pessoas que o empreendedor deve buscar. Nessa reunião, as pautas serão aumento de vendas, expectativa de faturamento, estratégias de marketing, projeção financeira e outros pontos que julgarem importantes”, diz Menegat.
2 – Cuidar do financeiro
Para a Razonet, a contabilidade é um dos principais instrumentos do negócio, é “quem” leva a informação para o empreendedor, que deve se atentar aos números. O responsável do negócio deve estar a par de tudo que acontece para que sua tomada de decisão seja assertiva e próspera para o negócio.
O sócio da Razonet faz uma analogia com médicos e pacientes. “Como um médico traça o diagnóstico sem saber dos sintomas? Sem examinar? Não existe isso. O mesmo acontece com empresários que ignoram os números. Não há chance de prosperar sem analisar o financeiro”, finaliza.
3 – Alavancar as vendas
Vendas, lucro e fidelização do cliente, para a Razonet essas circunstâncias caminham juntas e merecem atenção para trazer os resultados desejados.
“O empreendedor deve focar nas vendas porque só assim seu lucro vai aumentar. Nada adianta ter uma empresa bem estruturada se ela não consegue vender. Clientes satisfeitos recomendam seus produtos/serviços. Eles voltam e atraem outras pessoas junto deles – nada melhor do que uma propaganda boca a boca”.
4 – Autoanálise da gestão empresarial
O gestor, muitas vezes dono do negócio, deve saber quais são suas deficiências e quais aspectos deve melhorar, para assim poder trabalhar da melhor maneira.
“Aprendi observando, ao longo de 30 anos, que todo empresário é um pouco arrogante. A liderança não está ali para fazer um favor para o cliente. A liderança é a que serve o cliente. O empreendedor deve ter a humildade de discernir a diferença e trabalhar para a melhoria constante”, reflete Menegat.
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