Desde o dia 1º de setembro, a Aegea enfrenta mais um importante teste de fogo: a concessão para prestação do serviço de água e esgoto no Pará, adicionando 4,5 milhões de clientes à sua base. O acordo prevê um volume de investimento de mais de R$ 15 bilhões para a universalização do acesso à água e esgoto no estado. Hoje, os índices de atendimento de água e esgoto no Pará são de 47,53% e 7,73%, respectivamente, segundo dados do PPI (Programa de Parcerias de Investimentos).

Controlada pelo grupo Equipav, que detém 71% de seu capital votante, a empresa estreia no estado às vésperas da COP 30, evento sobre as mudanças do clima que será sediado em Belém, em novembro, e que deve levar à região milhares de visitantes. Vencedora de todos os blocos no estado, a Aegea corre contra o tempo para antecipar o atendimento para melhorar as condições de saneamento de Belém, Ananindeua e Marituba, as duas últimas na região metropolitana.

As atividades antecipadas, segundo a empresa, priorizam o abastecimento de água tratada em áreas de alta vulnerabilidade, com foco na regularização do fornecimento e implantação de infraestrutura de redes elevadas. Na Vila da Barca, uma comunidade sobre palafitas de Belém, a empresa está implantando uma adutora e a instalação de ramais domiciliares com hidrômetros. No estado, cerca de 40% da população local é beneficiada com a Tarifa Social, o que equivale a 1,8 milhão de paraenses de baixa renda. 

Fundada em 2010, a empresa começou operando em municípios de baixa densidade populacional, e hoje tenta sanar um problema crônico do país, o acesso à água de qualidade e esgoto tratado, atendendo a 39 milhões de pessoas espalhadas por cerca de 900 cidades em 15 estados.

Novos caminhos

Em busca de novos mercados, a Aegea adquiriu a Ciclus Rio, uma das principais operadoras do fragmentado mercado de tratamento de resíduos sólidos no Brasil, por R$ 1,9 bilhão. Apesar de estar situada em outro mercado, a Aegea vê sinergias entre os negócios. A empresa já presta os serviços de saneamento no Rio de Janeiro e prevê uma guinada maior para investimentos em aterros a partir de 2033, primeira data prevista pelo marco legal do saneamento básico para a universalização do acesso à água tratada no Brasil.

Fundada em 2010 como uma joint venture entre a Simpar e a Haztec, a Ciclus opera, desde 2011, o CTR Seropédica, uma central de tratamento de resíduos com 3,7 milhões de m² de área. O aterro sanitário bioenergético processa cerca de 10 mil toneladas de resíduos por dia e capta 24.000 m³ de biogás por hora, que pode ser utilizado como fonte de energia limpa.

A ampliação da operação para resíduos sólidos já estava no radar da companhia, mas a aquisição da Ciclus faz parte de uma oportunidade de mercado, segundo Radamés Casseb, CEO da Aegea.

“Na discussão do marco, a gente viu que água, esgoto, gestão de resíduos sólidos e drenagem fazem parte do mesmo arcabouço regulatório. Quando a gente olha a operação de forma integrada, vemos sinergias entre os custos estruturados da gestão de um aterro sanitário e ganhos, principalmente, com a geração de energia, como principal insumo da cadeia de gestão de água e esgoto”, diz Casseb ao InvestNews.

Radamés Casseb, CEO da Aegea (Divulgação)

“A gente está muito concentrado em ampliar o serviço de água e universalizar esgotos. Normalmente, essa cadeia de expansão vai acabar em 2033. Estamos tentando nos preparar para isso. Nesse sentido, resíduos sólidos é a próxima fronteira”, complementa.

Para analistas e fontes do mercado, o passo dado para o setor de energia pode se transformar em um ponto de atenção para o futuro da companhia. “A Aegea está com muitos ativos. Por mais que isso tenha um lado bom, o risco de execução aumenta. Então, esse é trade-off: você cresce mais, mas também tem um risco associado”, diz uma fonte.

Crescimento alavancado

Com uma receita líquida de R$ 9,3 bilhões nos seis primeiros meses do ano, crescimento de 19% frente ao mesmo período do ano passado, a Aegea estuda a participação em novos certames. Pernambuco, Minas Gerais e Rondônia estão no roadmap da companhia. “Vamos estudar todos”, diz Casseb.

Para bancar uma agenda de investimentos arrojados no setor, a Aegea tem usado o mercado para emissões de debêntures. Desde a implementação do marco regulatório no país, em 2020, a Aegea e os ativos que fazem parte do grupo emitiram 68 debêntures, um total de R$ 55,9 bilhões emitidos. O volume, segundo o CEO, é empregado para o pagamento de outorgas e na gestão dos passivos.

Com o crescimento, o endividamento também subiu. A relação entre a dívida líquida e o Ebitda hoje está em 4 vezes, 0,3 ponto percentual acima do volume registrado um ano antes. Ou seja, para cada real que a Aegea gera de caixa operacional, ela deve quatro reais — um nível um pouco acima do registrado no ano passado. Esse número é importante porque a própria companhia estabeleceu um limite de endividamento em 4 vezes o Ebitda. Segundo o CEO, a empresa vem tentando reduzir esse peso desde que comprou a concessão no Rio, quando a dívida chegava a seis vezes o caixa.

Fontes do setor classificam a situação do endividamento da Aegea como razoável. Principal concorrente no setor, a Sabesp tem alavancagem de 1,9 vez.

Potencial para consolidação

Dado o crescimento expressivo da Aegea no país, o nome da empresa vira e mexe aparece no noticiário ligado a aquisições de outras companhias. Uma fonte do setor disse ao InvestNews que há conversas entre a empresa e a Iguá, parceira na prestação de serviços de água e esgoto no Rio de Janeiro. Casseb, no entanto, descarta a investida.

A Iguá tem passado por maus bocados. Teve de renegociar a outorga com o governo do Rio e passou por uma troca recente em seu comando. “Acho que isso é especulação natural do mercado. A Iguá, assim como a BRK, a Sabesp e a GS Inima, são operadores importantes para que esse ecossistema de competição e atendimento continue atraindo mais capital. São empresas que a gente acompanha e admira, mas isso é parte de especulação”, afirmou o executivo.

Uma fonte ouvida pela reportagem acredita que o BNDESPar, sócio da Iguá, poderia ser um entrave para que haja um acordo entre as partes, uma vez que a Aegea já opera dois blocos de saneamento no Rio e acabou de ampliar sua atuação para a gestão de aterros no estado com a Ciclus.

Apesar de desconversar sobre a consolidação no setor, uma coisa que Casseb não esconde é o desejo de realizar uma oferta pública inicial (IPO, na sigla em inglês) em breve. Segundo ele, a empresa está atrás de “um momento ideal”. “Uma hora isso vai acontecer. A gente vem se preparando para isso”, diz o executivo.

Além da Equipav, 19% do capital votante da empresa é do GIC, o fundo soberano de Cingapura. Outros 10% pertencem à Itaúsa.