A operação da Orizon deve se modificar radicalmente após a aquisição da Vital, anunciada na última quarta-feira (17), num negócio de R$ 3 bilhões que movimentou o setor de aterros sanitários. É que a empresa combinada estuda ter até 28 plantas de biometano para explorar o potencial efervescente desse mercado. Isso se dará em até sete anos e a primeira inauguração pós fusão deve acontecer nos próximos dias.

A Orizon captou cerca de R$ 450 milhões por meio do Fundo Clima e da linha Finem, do BNDES, para colocar em pé sua segunda planta de purificação de biogás (resultante da decomposição de materiais orgânicos, como alimentos e resíduos industriais) em biometano (a versão renovável do gás natural).

Localizada em Paulínia, interior de São Paulo, a operação é fruto de uma joint venture com a Edge, do grupo Cosan, de Rubens Ometto. A unidade terá capacidade de produzir até 225 mil metros cúbicos (m³) por dia de gás de origem renovável e deve ser inaugurada em até duas semanas.

Milton Pilão, CEO da Orizon, avalia a inauguração de diversas plantas do tipo no Brasil nos próximos anos, já calculando a estrutura adquirida da junção dos negócios com a Vital. O potencial de biometano combinado após a fusão é estimado em 2 milhões de metros cúbicos por dia. Hoje, a produção brasileira é de 840 mil metros cúbicos por dia, segundo a Associação Brasileira do Biogás (Abiogás).

“Hoje, o que eu tenho de produção, contando com Paulínia, equivale a quase 300 mil metros cúbicos por dia, mas o nosso potencial é de 1,3 milhão. E a Vital tem operado 30 mil metros cúbicos, com potencial para 700 mil”, diz Pilão ao InvestNews. “Devemos ter a construção da ordem de 18 plantas na Orizon durante os próximos cinco anos. E aproximadamente mais 10 plantas da Vital nos próximos seis ou sete anos. Ou seja, são praticamente 28 plantas de biometano.”

Na mágica de transformar lixo em energia, a empresa pretende se colocar em uma posição estratégica na comercialização de gás natural renovável no país.

“Com 2 milhões de metros cúbicos por dia, que representa mais do que o dobro da produção atual no Brasil, a gente se torna um player extremamente relevante no mercado de gás natural renovável e isso certamente será uma das grandes vertentes de potencial de crescimento da companhia”, reitera Pilão.

Para concretizar todo esse potencial, no entanto, a Orizon ainda terá que desembolsar “alguns bilhões em investimentos” nos próximos anos, segundo o CEO.

Hoje, o gás natural gerado pela empresa atende a comercializadoras e distribuidoras como Compass, Copergás e Ultragaz. A partir delas, o combustível é distribuído para termelétricas, indústria (como a de alimentos e bebidas, que faz pasteurização em escala abismal) e residências com gás encanado.

Fusão com a Vital

A combinação de negócios com uma das principais concorrentes era algo mapeado há um tempo. Pilão conta que a empresa negociou por mais de um ano a aquisição da Vital. Agora, a companhia resultante da fusão passa a deter 30 aterros sanitários e a tratar resíduos gerados por cerca de 40 milhões de brasileiros – antes da junção dos negócios, a Orizon tratava um pouco mais da metade disso. Isso significa uma fatia de quase 20% no fragmentado mercado de resíduos no país.

“A Vital é uma companhia que tem um histórico de geração de caixa, de performance, e que não estava à venda. Mas conseguimos chegar a conclusão de que nesse caso a construção de 2+2 é igual a 5, não a 4”, diz ele.

Além da capacidade de explorar o negócio de gás natural renovável no país, a Orizon agora ganha representatividade e adiciona capilaridade com a operação em estados importantes, como Espírito Santo, Maranhão, Minas Gerais e São Paulo. Estrategicamente, isso abre portas para vislumbrar um crescimento para o interior dessas regiões.

“O lixo gerado não viaja muito. Há uma barreira logística. Eu não posso transportar o lixo por mais de 50, 70 quilômetros, porque o custo logístico fica muito alto. Com essa incorporação, a gente trouxe complementariedade locacional. Isso traz mais avenidas de crescimento para esses estados onde a gente não estava presente”, comenta o CEO.