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Negócios

Comércio de celulares usados passa a ‘copiar’ as concessionárias de seminovos

A tendência é que surja um mercado de aparelhos de segunda mão tão pujante quanto o de veículos

Poucos desejos são tão universais quanto possuir um celular topo de linha. Mas não se trata de algo trivial, claro. Menos anda num país onde a renda média por cabeça é de R$ 3,2 mil – metade do preço do iPhone mais barato.

Mas estamos falando aqui do iPhone zero quilômetro. E com celulares custando tanto quanto uma moto, estranho é não haver um mercado pujante de usados, como há no mundo automotivo.

Hoje, menos de 5% dos celulares negociados no Brasil são de segunda mão, formando um mercado com cifras anuais em torno de R$ 800 milhões, segundo levantamento da consultoria IDC compilado pela Trocafone, um dos principais players deste segmento. Eles avaliam que existe potencial para pelo menos dobrar essa participação.

Para Flávio Peres, CEO da empresa, um dos caminhos para popularizar o second hand de celulares é o público construir uma relação de confiança com intermediários, posição que a Trocafone ocupa há uma década, quase como um equivalente a uma concessionária de veículos seminovos.

As vantagens de comprar um celular usado numa “concessionária de smartphones”, argumenta o executivo, é ter um celular de procedência confiável e com garantia, que, no caso da Trocafone, é de três meses.

“O mercado de segunda mão vem ganhando tração”, reforça Peres. E algo que ajuda nisso é o fato de que há relativamente poucos celulares premium no mercado. O consumidor quer ou iPhone ou Samsung Galaxy, na imensa maioria dos casos. Com isso, prossegue o executivo, “o cliente se sente mais seguro na hora de comprar um aparelho usado”. E essa segurança ajuda a dar escala às vendas.

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Isso não significa que será simples para empresas como a Trocafone ampliar o seu mercado. Embora um intermediário de confiança seja visto como um caminho mais seguro pelo público, o preço menos salgado da compra direta, pelas mãos de outro usuário, pode pesar na decisão. Nisso, OLX, Enjoei e Mercado Livre, que fazem essas pontes, são concorrentes de peso. Também tem outros candidatos a intermediários, como a Trocafy, criada em 2022 pela Allied Tecnologia. Na linha Apple, a iPlace tem feito esse papel – compra telefones usados e revende.

Números da OLX, uma das referências quando o assunto é negociação de produtos usados, mostram que a procura por smartphones de segunda mão é alta ali. Os celulares foram os produtos mais vendidos na plataforma no ano passado, representando 12% das vendas totais do site – e esse foi o item mais buscado pelos usuários.

“Em um contexto macroeconômico como o atual, nossa tese fica ainda mais relevante. No início da empresa, tínhamos que explicar o modelo de negócios, havia muitos modelos de celulares e parecia não fazer sentido o second hand”, afirma Peres. 

Hoje, a Trocafone capta 25 mil aparelhos por mês. Não só celulares, mas também notebooks e videogames, para renegociar na sua plataforma. A principal fonte de smartphones ocorre por meio de parceria com as operadoras Vivo, Claro e Tim, no chamado “trade-in”. Na prática, a Trocafone adquire os aparelhos usados que as operadoras captam em seus programas de fidelidade e revende ao mercado com uma margem de lucro em cima.

Atualmente, o aparelho mais negociado pela Trocafone é o iPhone 11, lançado há cinco anos. Mas outros produtos começam a ganhar tração na plataforma, caso dos videogames e até mesmo as famosas caixinhas de som da JBL. Em meados de junho, a Trocafone fechou uma parceria com a locadora de equipamentos de TI Voke para a venda de notebooks usados, em uma outra forma de ampliar sua oferta de produtores para além do “fone”.

Criada em Buenos Aires em 2014 pelos empresários Guillermo Freire e Guillermo Arsalian, a plataforma aperfeiçoou nesta década de existência seu modelo de negócios. Fez aquisições para ampliar seu backoffice, em especial a oferta de serviços de manutenção de aparelhos. Mais recentemente, em setembro do ano passado, trouxe Flávio Peres, executivo que fez carreira como diretor financeiro da fabricante de chips Qualcomm, para a função de CEO.

Em 2021, a Trocafone chegou a ensaiar um IPO, mas o esvaziamento do mercado para as ofertas públicas iniciais de ações fez a companhia rever seus planos. Com faturamento de R$ 416 milhões no ano passado, o objetivo da empresa é alcançar os R$ 500 milhões de receita já neste ano.

Sem o acesso à bolsa neste momento, a empresa está em uma rodada de investimentos para levantar até US$ 20 milhões, com o objetivo de ampliar sua capacidade de captação de aparelhos. Hoje, as gestoras Sallfort, Wayra, 500Startups, Lumia Capital e Quasar Ventures estão entre as investidoras da Trocafone.

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