O conflito entre as ambições do Brasil de se tornar uma liderança ambiental mais responsável e, ao mesmo tempo, aumentar as lucrativas exportações de petróleo, se transformou em mais um teste inicial para o presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
No litoral norte do Brasil, onde o rio Amazonas desemboca no Atlântico, a Petrobras (PETR3 e PETR4) tem uma plataforma de petróleo posicionada desde o início de dezembro esperando o sinal verde para dar início à perfuração.
Toda a indústria espera para ver se o poço da gigante petrolífera estatal abrirá uma nova fronteira de exploração na área chamada de Margem Equatorial. Descobertas importantes na Guiana, mais ao norte, ajudaram a gerar entusiasmo pela região.
A Petrobras planeja investir US$3 bilhões na exploração da Margem Equatorial de 2023 a 2027.
O atraso está custando à Petrobras uma fortuna de cerca de US$ 1 milhão por dia com a plataforma, três helicópteros, barcos de apoio e trabalhadores, segundo cálculos da consultoria Wood Mackenzie.
O entrave: a autoridade ambiental do Pará analisa o requerimento de licença para instalação de uma base de resgate de animais a ser usada pela Petrobras em caso de derramamento de petróleo, e pode levar até meados de abril para tomar uma decisão.
A Petrobras e outras petroleiras tiveram pouco sucesso na última década explorando as bacias marítimas no Sudeste, o que tornou a Margem Equatorial uma grande prioridade. O país precisa encontrar mais reservas, caso contrário, a produção começará a cair na década de 2030. Ao mesmo tempo, Lula também prometeu fortalecer as agências ambientais e a fiscalização, o que vai além de apenas reverter o desmatamento na Amazônia.
Um relatório da equipe de transição de Lula, entregue ao Ministério de Minas e Energia no final de dezembro, reconheceu que a necessidade de acelerar a exploração de petróleo em áreas sensíveis como a Margem Equatorial pode ser incompatível com suas metas ambientais.
A Petrobras não forneceu uma data para o início da perfuração pela ODN II quando contatada pela Bloomberg. O aluguel de navios-sonda de águas profundas similares têm taxas diárias entre US$ 300.000 e US$ 500.000, de acordo com a ABESPetro, uma associação de prestadores de serviços de petróleo.
A plataforma ODN II deixou o Rio de Janeiro em 10 de novembro e está estacionada perto do local onde o poço Morpho da Petrobras será perfurado desde 5 de dezembro, de acordo com dados de rastreamento de embarcações compilados pela Bloomberg.
“Eles estão queimando dinheiro como loucos”, disse Schreiner Parker, chefe da Rystad Energy para a América Latina. “Você não vê uma plataforma ir para o local e ficar 40 a 50 dias sem perfurar.”
A Petrobras planejou iniciar o primeiro poço no final de 2022 como parte de uma campanha de 16 poços na área. É uma região que abriga biodiversidade marinha, manguezais e recifes de corais considerados ecossistemas únicos. Os promotores federais pediram à empresa que revisse os planos de contingência de derramamento de óleo e realizasse mais discussões com as comunidades locais.
As autoridades ambientais do Brasil têm um histórico de independência e muitas vezes adiam grandes projetos industriais. A TotalEnergies e a BP desistiram de seus blocos exploratórios na Margem Equatorial em 2020 após não receberem as licenças ambientais.
“Existe uma certa ansiedade no setor” sobre quando o projeto vai começar, disse Telmo Ghiorzi, chefe da ABESPetro. “A Petrobras será pioneira na região e abrirá caminho para diversas outras petrolíferas.”
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