Mas a redução nos investimentos previstos não atingiu a divisão de Exploração & Produção de petróleo, que pode até mesmo receber mais aportes em cinco anos ante o programa anterior, dependendo do valor da commodity. O corte aconteceu principalmente em projetos de energias de baixo carbono e em iniciativas de descarbonização, informou a companhia em fato relevante ao mercado nesta quinta-feira (27).
O valor aprovado confirma reportagem da Reuters publicada na véspera, que apontou que o conselho de administração avaliaria a cifra de US$ 109 bilhões, marcando o primeiro recuo no investimento da estatal em seu plano plurianual desde o programa anunciado em 2020, em plena pandemia de Covid-19.
Do total, US$ 91 bilhões estão previstos na carteira de projetos em implantação, mas este montante pode ser reduzido para US$ 81 bilhões, se o petróleo ficar mais baixo, com a companhia criando um novo mecanismo para dar segurança à financiabilidade do plano.
“Avaliações trimestrais, à luz das projeções de fluxo de caixa e estrutura de capital, determinarão o avanço desses projetos, bem como eventual priorização”, destacou a companhia.
“Se o Brent ficar abaixo de US$ 63, se a produção estimada não vier como esperado, se cai outra variável, pode-se cortar”, disse uma fonte próxima da Petrobras, na condição de anonimato.
Nas premissas do plano, a Petrobras prevê agora o Brent, referência internacional do preço do petróleo, a US$ 63 o barril em 2026, contra US$ 77 no plano anterior, além de projetar o valor de US$ 70 para os anos seguintes.
Outros US$ 18 bilhões em investimentos, enquadrados na carteira de projetos em avaliação, composta por oportunidades com menor grau de maturidade, somam-se ao US$91 bilhões para totalizar os recursos previstos.
Agora estão previstos US$ 19,4 bilhões em investimentos para 2026, atingindo um pico no horizonte do plano de US$ 21 bilhões em 2027, para depois cair para US$ 20,5 bilhões em 2028, US$ 16,1 bilhões em 2029 e US$ 14,3 bilhões em 2030 –no plano anterior, o pico de investimentos era visto em US$ 20,9 bilhões em 2028.
Além de prometer maior eficiência na alocação do capex, a companhia prevê medidas para otimizar custos, com economia estimada de US$ 12 bilhões nos gastos operacionais gerenciáveis entre 2025 e 2030, o que representa uma redução média anual de 8,5% em relação ao plano anterior, disse a Petrobras.
Entre as iniciativas, a companhia citou redução de gastos em plataformas sem produção, otimização da logística aérea e marítima, otimização das intervenções em poços e inspeções submarinas e outras.
A Petrobras ainda demonstrou maior cautela com a remuneração aos acionistas em um ambiente mais desafiador do preço do petróleo.
No relatório, a companhia disse que os dividendos ordinários ficarão em faixa de US$ 45 bilhões a US$ 50 bilhões no período do plano, enquanto no plano anterior a previsão era até US$55 bilhões. Em contrapartida, a empresa deixou de prever dividendos extraordinários, que antes eram vistos em até US$10 bilhões.
Pico de produção
Apesar do recuo no investimento, se o mercado de petróleo se mantiver firme, a área de Exploração e Produção poderá até mesmo elevar seus investimentos, já que a empresa busca acelerar sua produção.
A Petrobras elevou em US$1 bilhão os investimentos em Exploração e Produção de petróleo e gás (E&P) em relação ao plano anterior. Principal foco da companhia, a área soma US$ 78 bilhões do total previsto para os próximos cinco anos, versus US$ 77 bilhões no plano anterior.
Neste contexto, a Petrobras prevê atingir, no quinquênio, o pico de produção de óleo de 2,7 milhões de barris por dia (bpd) em 2028, um volume de 200 mil bpd acima do previsto para 2026.
Para o ano que vem, a produção de petróleo da Petrobras deve crescer 100 mil bpd em relação aos 2,4 milhões de bpd previstos para 2025, destacou a empresa, ressaltando que esse número representa o topo da banda da meta.
Em 2027, a empresa projeta produzir 2,6 milhões de bpd, mesmo nível projetado para os dois últimos anos do plano.
Considerando a produção de petróleo e gás, o pico de produção no horizonte do plano seria de 3,4 milhões de barris equivalentes de óleo e gás por dia (boed), em 2028 e 2029, em projeções anuais com uma margem de variação de 4% para mais ou para menos.
O aumento da produção da petroleira nos próximos anos vai se dar com a implantação de oito novos sistemas de produção até 2030, sendo que sete já estão contratados. A Petrobras disse que atua como operadora de todos esses campos, com exceção do Raia, operado pela Equinor .
Mas é do campo de Búzios, no pré-sal Bacia de Santos, que virá boa parte do crescimento. Lá, a Petrobras prevê concluir a implantação de 11 unidades FPSOs até 2027, com entrada em operação das plataformas já contratadas P-78, P-79, P-80, P-82 e P-83, “além de estar em licitação uma 12ª unidade de produção, a P-91”.
Refino e corte em outras energias
Os investimentos em Refino, Transporte e Comercialização foram estimados em cerca de US$20 bilhões, estáveis ante o previsto no programa anterior.
Esses recursos serão direcionados a projetos para ampliar a capacidade instalada de processamento de 1,8 milhão bpd para 2,1 milhões bpd até 2030, um acréscimo de 320 mil bpd, incluindo os projetos em avaliação.
Já na área de Gás e Energias de Baixo Carbono, a Petrobras anunciou investimentos de US$ 9 bilhões, redução ante os US$ 11 bilhões no plano anterior. A Área Corporativa também teve os aportes previstos reduzidos a US$ 2 bilhões, versus US$ 3 bilhões anteriormente.
A Petrobras cortou investimentos em descarbonização (emissões operacionais) para US$ 4,3 bilhões no horizonte do plano, US$ 1 bilhão a menos em relação ao programa anterior.
Além disso, reduziu os aportes previstos para energias de baixo carbono (eólica onshore, solar e outras) para US$ 3,1 bilhões, versus US$ 5,7 bilhões.
Por outro lado, aumentou para US$ 4,8 bilhões o total para a área de biocombustíveis, versus US$ 4,3 bilhões no plano anterior, com o etanol mantendo os mesmos US$ 2,2 bilhões, embora desde o ano passado a companhia não tenha anunciado qualquer acordo com usinas.