O grupo português Mota Engil venceu nesta sexta-feira o leilão do primeiro túnel imerso da América Latina, entre as cidades litorâneas paulistas de Santos e Guarujá, com oferta de desconto de 0,5% sobre a contraprestação pública anual de R$ 438 milhões.

A Mota Engil venceu a outra credenciada no leilão, o grupo espanhol de engenharia Acciona, que não ofereceu desconto sobre a contraprestação.

O projeto de 1,5 quilômetro de extensão prevê investimento de cerca de R$ 6 bilhões ao longo de 30 anos de concessão e deve agilizar o fluxo entre as duas cidades, cujas populações atualmente dependem de uma conexão rodoviária de 40 quilômetros ou de balsas para se movimentarem entre as duas margens.

O grupo vencedor será responsável por construção, operação e manutenção do túnel, que promete encurtar o tempo de viagem entre as duas cidades de 1 hora para apenas dois minutos, segundo promessas dos governos federal e de São Paulo.

Segundo o governo federal, a obra será feita por meio da montagem de módulos em concreto pré-moldado formados por seções inteiras do túnel que serão imersos na água para formar a passagem.

Do 1,5 quilômetro de extensão do empreendimento, 870 metros serão submersos. O projeto prevê seis pistas para veículos, ciclovia, passagem para pedestres e espaço reservado para um futuro veículo leve sobre trilhos (VLT).

O leilão ocorreu algumas horas depois que o governo paulista leilou o lote rodoviário Paranapanema, que garantiu investimentos de cerca de R$ 6 bilhões ao longo de 30 anos de concessão.

Com os leilões desta sexta-feira, o Estado de São Paulo contratou nos últimos três anos investimentos em infraestrutura da ordem de R$ 370 bilhões, informou o governador Tarcísio de Freitas.

Gigante portuguesa

A construtora portuguesa Mota-Engil quer expandir suas operações no Brasil, já que a maior economia da América do Sul prioriza investimentos em infraestrutura para impulsionar o crescimento.

“O Brasil é uma aposta muito forte para o grupo”, disse o CEO Carlos Mota Santos em uma entrevista. “É um país com muito potencial de crescimento nos setores de petróleo e gás e infraestrutura. Estamos observando de perto as oportunidades por lá”, complementou o executivo, cuja família fundou a construtora em 1946.

A carteira de pedidos da Mota-Engil atingiu € 14,96 bilhões no primeiro trimestre, com a América do Sul respondendo por um quarto deste total.

Santos espera que a demanda por construção no Brasil e em outros países da América do Sul, como o México, continue a crescer devido aos gastos governamentais e ao investimento estrangeiro em infraestrutura. A Mota-Engil está atualmente construindo uma fábrica de fertilizantes de US$ 1,2 bilhão para a estatal Petróleos Mexicanos (Pemex).

Enquanto isso, a África continuará sendo um dos principais motores de crescimento da Mota-Engil, disse Mota Santos – a empresa tem forte presença em Angola, produtora de petróleo. O CEO também espera que os projetos de construção em Portugal — incluindo uma licitação para a construção de uma linha ferroviária de alta velocidade — sejam retomados após uma eleição antecipada neste mês.

A Mota-Engil venceu uma licitação no ano passado para construir um trecho da ferrovia de alta velocidade em Portugal e planeja concorrer a um novo trecho em uma licitação, prevista para o final do mês, afirmou Mota Santos.

“Vamos concorrer novamente e pretendemos ser competitivos”, acrescentou ele.