O CEO da Petrobras, Jean Paul Prates, permanece no comando da gigante petrolífera por enquanto, à medida que a batalha interna do governo sobre seu desempenho esfria, de acordo com pessoas com conhecimento do assunto.
Uma disputa sobre o cargo eclodiu dentro do governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva na semana passada, fazendo com que as ações da empresa caíssem fortemente em meio a relatos de que Prates seria demitido em breve. Os investidores também acompanham de perto uma decisão sobre o pagamento de dividendos extraordinários que a empresa anteriormente optou por não distribuir.
As tensões diminuíram depois que Lula considerou substituir Prates por Aloizio Mercadante, presidente do BNDES e aliado de longa data do presidente, disseram as pessoas, solicitando anonimato por discutirem assuntos internos.
A perspectiva de o cargo ir para Mercadante, co-fundador do PT, fez com que críticos de Prates, como o ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, recuassem em sua pressão por um substituto, disseram as pessoas. A proximidade de Mercadante com Lula o tornaria um adversário potencial ainda mais forte na definição do papel da Petrobras na política energética e na escolha de representantes do governo para o conselho.
Silveira queria substituir Prates por um aliado próprio, disseram as pessoas. Na terça-feira, uma semana depois de ter renovado críticas à aparente falta de alinhamento de Prates com o governo, Silveira elogiou-o, dizendo a jornalistas que admirava o CEO e que qualquer decisão pertencia exclusivamente a Lula.
O cargo de chefe da Petrobras é um dos mais cobiçados no Brasil, apesar das dificuldades de liderar uma empresa que é controlada pelo Estado e de propriedade de acionistas privados. O plano de investimento substancial da empresa – estimado em US$ 102 bilhões entre 2024 e 2028 – torna a estatal um instrumento potencial de desenvolvimento e inspirou debates no governo sobre a possibilidade de utilizá-la para impulsionar a economia.
Prates tem enfrentado pressão de Lula desde o ano passado, com cobranças pela redução dos preços do querosene de aviação e pelo aumento do investimento para gerar crescimento econômico e empregos. A disputa pelo comando da estatal começou depois que Prates se absteve em uma votação em março, na qual conselheiros indicados pelo governo rejeitaram uma proposta de pagamento de dividendos extraordinários que os investidores estavam acostumados a receber.
Lula, que queria que a empresa mantivesse os recursos e os reinvestisse, convocou Prates para uma explicação. A turbulência fez com que a empresa perdesse US$ 11 bilhões em valor de mercado.
Pagamento de dividendos
Prates e o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, que apoiou sua manutenção no comando da Petrobras, estão agora perto de convencer Lula a pagar os dividendos extraordinários que foram retidos, segundo as pessoas.
Um fator por trás da pressão de Haddad é a necessidade de receitas pela equipe econômica para atingir o seu objetivo de eliminar o déficit primário este ano. A operação renderia até R$ 15 bilhões se todo o pagamento fosse feito, projeta o Ministério da Fazenda. O dinheiro ajudaria a compensar as perdas de uma extensão pelo Congresso da desoneração da folha de pagamento que custará ao governo cerca de R$ 10 bilhões, uma das pessoas disse.
Haddad explicou ao presidente que os dividendos extraordinários não podem ser transformados em investimentos devido ao estatuto da Petrobras e considera um erro a decisão original de não efetuar o pagamento. Distribuir os dividendos, para ele, seria a melhor forma de impulsionar os investimentos e os gastos sociais, como Lula quer fazer.
Haddad, Silveira e o chefe da Casa Civil, Rui Costa, se reuniram na última quarta-feira para discutir o assunto. Embora tenham concordado que os dividendos deveriam ser pagos, ainda não houve consenso sobre o valor ou quando os pagamentos deveriam ser feitos, disseram pessoas familiarizadas, acrescentando que os ministros ainda precisam se reunir com Lula para discutir o assunto. (Martha Beck e Simone Iglesias)
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