Investidores institucionais sinalizaram interesse em adquirir mais de R$ 30 bilhões (US$ 5,3 bilhões) em ações da Sabesp — muito mais do que o que está disponível para venda — no que deverá ser a maior oferta de ações da América Latina neste ano, de acordo com fontes ouvidas pela Bloomberg.
A forte demanda já havia sido antecipada pelo governador de São Paulo, Tarcisio de Freitas, na segunda-feira (1), quando declarou a mesma cifra ao jornal “O Estado de S.Paulo”, durante um roadshow para divulgar a Sabesp a investidores internacionais, em Londres.
Os gestores se movimentam para comprar, coletivamente, uma participação de 17% na companhia paulista de saneamento, e já começaram a enviar propostas para disputar uma participação de aproximadamente R$ 8 bilhões na empresa.
A Equatorial Energia apresentou uma proposta de R$ 6,9 bilhões na semana passada para comprar uma participação de 15% na tranche dedicada a um acionista de referência estratégico. O governo de São Paulo, hoje detentor de pouco mais de 50% das ações da Sabesp, irá diminuir sua participação para 18% com o follow-on e efetivamente abrirá mão do controle da empresa.
A Equatorial, que foi a única proponente entre investidores estratégicos, ofereceu R$ 67 por ação — o que representa um desconto de aproximadamente 14% em relação ao preço de tela. Os fundos podem fazer lances a esse preço ou abaixo, mas dada a enorme demanda, o negócio provavelmente será fechado a R$ 67.
O resultado da privatização está previsto para 18 de julho. A oferta pode levantar até R$ 15 bilhões, caso a oferta ocorra dentro do preço proposto pela Equatorial.
A Equatorial contratou o Bradesco como seu assessor financeiro e está trabalhando em um empréstimo-ponte de 18 meses para ajudar a financiar sua oferta, de acordo com uma apresentação aos investidores.
Sindicato tenta barrar privatização
Em outra frente, o Sindicato dos Trabalhadores em Água, Esgoto e Meio Ambiente do Estado de São Paulo (Sintaema) e o Observatório Nacional dos Direitos à Água e ao Saneamento (Ondas) entraram com uma representação no Tribunal de Contas do Estado de São Paulo (TCE-SP) para contestar a oferta de ações que vai privatizar a Sabesp. Como próximo passo, as entidades pretendem recorrer ao Ministério Público.
A peça apresentada é baseada em um estudo elaborado a pedido do Sintaema e divulgado na semana passada. A análise questiona o cálculo do valuation utilizado pelo governo de São Paulo para precificar a operação e o volume de investimentos que devem ser feitos pela companhia nos próximos anos.
“O valor econômico da Sabesp é substancialmente superior ao preço de venda proposto pelo Estado de São Paulo. A divergência entre o valor de avaliação e o preço de venda configura uma alienação em preço vil, caracterizando uma potencial lesão ao erário”, alegaram ao TCE-SP.
No estudo, o economista André Locatelli calcula que o valor justo por ação da Sabesp seria de R$ 103,90, 44% maior do que o preço de R$ 72 usado como base pelo governo paulista no prospecto da operação. O documento também questiona a não divulgação do preço mínimo.
Ainda na representação, as entidades afirmaram que “a alienação de ações abaixo do valor de avaliação viola os princípios constitucionais da administração pública. A venda de ativos públicos a preços inferiores ao seu valor justo compromete a integridade do patrimônio público, prejudicando os interesses do Estado e, por consequência, da sociedade”.
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