A confirmação pelo governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), de que seguirá com o processo de privatização da Sabesp (SBSP3) por meio de um modelo escolhido que envolverá um follow-on da empresa é positiva, mas a falta de detalhes gera alerta. A avaliação é de analistas após informações do processo dadas na segunda-feira (01) pelo governador.
A ação da Sabesp encerrou o pregão desta terça-feira (02) em queda de 4,13%, a R$ 55,70.
Análises
Para Mateus Haag, analista da Guide Investimentos, a divulgação oficial de um modelo de follow-on é um passo importante no processo de privatização da Sabesp, embora poucas informações adicionais tenham sido reveladas.
“A privatização da Sabesp é a grande batalha do governo no campo das desestatizações. No entanto, vemos a divulgação de fatos concretos no caminho do processo como dissipadora de riscos e, à medida que novas ações nesta direção venham ocorrendo, o mercado deverá reforçar atenção sobre a privatização”, avalia Haag.
Na mesma linha, Maíra Maldonado, analista da XP Investimentos, apontou que a aprovação da privatização da companhia pelo Conselho do Programa de Parcerias para Investimentos (PPI) é um passo importante e positivo, embora vários assuntos essenciais ainda precisam ser abordados.
“A venda de participação a um sócio estratégico chamará a atenção dos investidores para a nova estrutura de governança da companhia. O modelo regulatório é outra questão crítica, visando reduzir tarifas e garantir que os municípios recebam por seus direitos de concessão. Por fim, o desafio político é dialogar com os poderes legislativo e executivo paulista. O debate em curso parece apontar para um modelo equilibrado para todas as partes interessadas”, destaca Maldonado.
Por dentro do processo
Segundo Tarcísio, os estudos para privatização buscavam um modelo que possibilitasse a antecipação das metas de universalização previstas no marco do saneamento – que estipulava o atendimento das metas até 2033 e injeção de R$ 56 bilhões em investimentos, a garantia de investimento nos municípios, inclusive onde “não há vantagem econômica”, e a garantia de redução tarifária.
De acordo com o governador do Estado de SP, o modelo permite colocar uma carga de investimentos maior, de “pelo menos” R$ 10 bilhões, sobre o plano de universalização do saneamento no Estado.
Tarcísio acrescentou que o processo considera os 375 municípios abrangidos pela Sabesp e que o Estado manterá uma participação minoritária, de tamanho ainda a ser definido, na companhia.
Maldonado, da XP, aponta que a próxima fase abordará questões críticas como:
- Governança da empresa privatizada;
- Implementação do modelo regulatório;
- Negociações com municípios (especialmente São Paulo);
- Aprovações políticas.
Victor Sousa e Israel Rodrigues, analistas da Genial Investimentos, explicaram em relatório que a ideia é a realização de uma oferta publica primária e secundária de ações, semelhante ao modelo adotado no caso da Eletrobras, com a diferença que a Sabesp manteria teria acionistas de referência, inclusive o governo de SP mantendo posição relevante.
“A vantagem dessa diferença é evitar o questionamento que se faz sobre a Eletrobras, onde o governo possui 45% das ações, mas vota como 10%. Será ainda discutido a possibilidade de o estado possuir uma “golden share” com poder de veto para algumas decisões”, destacaram os analistas da Genial Investimentos.
Ação da Sabesp: perspectivas
O Santander destacou em relatório que, apesar de alguma desilusão pela falta de detalhes sobre o modelo escolhido, mantém a classificação de desempenho superior do ativo e perspectiva otimista, por avaliar que a negociação das ações seguirá atraente à frente, com o múltiplo EV/RAB de 0,74 vez, versus histórico de 0,78 vez.
A XP Investimentos mantém recomendação neutra para a ação da Sabesp, com preço-alvo de R$52/ação.
A Guide Investimentos destacou que a Sabesp já possui bons fundamentos quando comparada com seus pares públicos, mas que ainda enxergam espaços para ganhos de eficiência e performance a partir da privatização.
(*Com informações da Reuters.)
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