A Petrobras viveu um dia amargo na bolsa de valores. Após divulgar números recordes para exploração de petróleo e gás natural no segundo trimestre de 2025, os papéis da empresa recuaram: a ação ON caiu 7,95% e a PN cedeu 6,15%, ambas nas mínimas do dia.

Em teleconferência para investidores e analistas, a petroleira deu motivos para a reação negativa: por causa da queda do preço do petróleo no segundo trimestre, a empresa decidiu rever alguns investimentos e a política de distribuição de dividendos extraordinários.

No trimestre, o pagamento de dividendos e juros sobre capital próprio (JCP) intercalares totalizou R$ 8,66 bilhões, equivalente a R$ 0,67 por ação ordinária e preferencial em circulação. O montante veio abaixo do consenso do mercado. O que incomodou investidores, no entanto, foi a decisão de não distribuir dividendos extraordinários este ano devido à baixa cotação do petróleo. A commodity se desvalorizou 10% no segundo trimestre, o que acabou mitigando os potenciais ganhos com o aumento de produção da Petrobras no período.

“O dividendo ordinário continua no mesmo patamar, não temos discussões sobre mudança nesse sentido. Mas, com uma renda menor, por certo, temos mais dificuldades em fazer pagamentos de dividendos extraordinários, embora gostaríamos muito de termos excesso de caixa aqui para poder fazê-lo”, disse Fernando Melgarejo, CFO da petroleira. “A gente vislumbra uma baixa probabilidade [de dividendos extraordinários] neste ano.”

Melgarejo apontou que a queda nas ações desta sexta-feira foi um evento passageiro, algo que não preocupa a companhia. “Talvez tenha sido um pouco frustrante o dividendo que foi gerado nesse trimestre, impactado por eventos não recorrentes e que não terão nos próximos períodos. Circunstancialmente, o mercado tem esse comportamento que a gente entende que deva ser passageiro”, afirmou. O executivo destacou que 75% dos analistas que cobrem a companhia estão indicando a compra da ação da petroleira.

Apesar disso, a CEO da Petrobras, Magda Chambriard, ressaltou que a queda na cotação do petróleo Brent, utilizado como referência para a commodity, não mudou a projeção de investimentos da empresa, mas admitiu que a Petrobras tem feito cortes de custos em suas operações.

“O preço do petróleo cru é uma variável que não está sob nosso controle, mas a mitigação desse efeito na companhia está, e nós estamos respondendo com aumento da produção, com a velocidade de entrada da nossa produção e com um olhar muito grande e muito forte para redução de custos”, disse ela. “O segundo trimestre foi impactado pela queda do preço do petróleo, que ficou da ordem de US$ 68 por barril, 10% menor do que no trimestre passado, mas nós respondemos com 5% a mais de produção, mitigando bastante esse efeito no nosso balanço.”

Petrobras revê projetos

Diante da perda de valor do petróleo no cenário global, a empresa teve de recuar no desenvolvimento de alguns projetos. “Não vamos largar esses projetos para trás, eles eram rentáveis e continuam sendo, mas a rentabilidade que eles estavam nos apresentando, num nível de preço do petróleo menor, fez com que nós decidíssemos que eles voltassem para a prancheta para otimizá-los.”

Um desses projetos foi a revitalização de Marlim Sul e Marlim Leste com o cancelamento da licitação da plataforma P-86. “Eram 45 poços e 500 quilômetros de linhas para ligar esses poços à plataforma. A gente está voltando para a prancheta para rever todo esse conceito e buscar alternativas para que a gente torne esse projeto mais rentável. Por isso a necessidade de cancelar a licitação tanto da P-86 quanto do sistema de bombeamento multifásico submarino”, afirmou Renata Baruzzi, diretora de engenharia, tecnologia e inovação da Petrobras.

A CEO da petroleira, no entanto, buscou ressaltar os bons números de produção. Em julho, a empresa aumentou novamente a sua produção, que foi para uma média de 2,4 milhões de barris por dia de petróleo. 

Magda também enfatizou o desejo de voltar a distribuir gás liquefeito de petróleo, o tradicional ‘gás de cozinha’. A petroleira saiu deste mercado após vender a Liquigás para um consórcio formado por Copagaz, Itaúsa e Nacional Gás Butano, em 2020, e com a venda da BR Distribuidora em 2021, para a Vibra Energia.

“O negócio de GLP de um passado recente para agora ampliou a sua atratividade em 188%. Qual foi o mercado e qual foi o negócio que em tão curto período de tempo aumentou sua atratividade em 188%?”, disse a CEO. “Nós não vamos nos autolimitar, nós vamos buscar a expansão dos nossos mercados e alocação dos nossos produtos da forma mais rentável e proveitosa possível para a companhia”, reiterou.