O negócio valeria mais de US$ 1 bilhão, segundo as pessoas, que pediram anonimato pois as negociações não são públicas. Uma das pessoas disse que a transação poderia chegar a US$ 1,6 bilhão. A Mercuria não quis comentar. A Vitol e a Raízen não responderam imediatamente a um pedido de comentário.
As duas tradings de commodities buscam ampliar sua presença no setor, enquanto o presidente argentino Javier Milei — fortalecido por sua vitória nas eleições de meio de mandato no mês passado — deve acelerar sua cruzada de desregulamentação. No primeiro semestre de seu mandato, Milei eliminou os controles sobre os preços do petróleo bruto e dos combustíveis.
A Raízen, maior produtora brasileira de etanol combustível a partir da cana-de-açúcar, está se desfazendo de ativos devido ao aumento da dívida e à nova gestão. A refinaria Dock Sud, em Buenos Aires, tem capacidade diária de 101 mil barris, o que a torna a terceira maior instalação do país, segundo a EIA. A rede de cerca de 700 postos de gasolina da Raízen responde por 19% das vendas de gasolina e diesel na Argentina, segundo a líder de mercado YPF.
A Mercuria possui ativos de exploração e produção de petróleo na Argentina por meio de sua participação majoritária na Phoenix Global Resources, que está perfurando em uma área de xisto em expansão na Patagônia. A Vitol possui um porto próximo a Buenos Aires para comercialização de combustíveis.
A oferta da Mercuria pelos ativos da Raízen é o exemplo mais recente de empresas de trading de commodities buscando adquirir instalações de refino e distribuição de petróleo para manter os lucros extraordinários da crise energética que se seguiu à invasão da Ucrânia pela Rússia.
A Vitol tem se expandido rapidamente nos últimos anos, investindo em distribuição na África do Sul e na Turquia, além de uma refinaria de exportação na Itália. A empresa também participou do leilão multimilionário da controladora da Citgo Petroleum. A Mercuria não possui atualmente nenhuma operação de refino de petróleo bruto.
A Raízen, uma joint venture da Shell e do conglomerado brasileiro Cosan, adquiriu os ativos da Shell, que os detinha integralmente, em 2018, durante a última experiência da Argentina com reformas orientadas pelo mercado.
Mais recentemente, a Raízen foi abalada por um alto endividamento após grandes investimentos em usinas de biomassa que não se mostraram rentáveis em meio a uma demanda mais fraca do que a esperada.
A queda nos preços do açúcar e as safras fracas também prejudicaram a empresa. Sua dívida líquida aumentou 49% no terceiro trimestre em relação ao ano anterior, chegando a cerca de US$ 10 bilhões. E na quinta-feira a Moody’s rebaixou a sua classificação de crédito da Raízen.
Para ajudar a reerguer a empresa, a Raízen, sob nova direção, está se desfazendo de ativos e a venda de sua operação na Argentina é considerada um passo fundamental.