
A Iguá Saneamento, uma das principais companhias privadas de saneamento do país, fechou 2024 com melhora significativa em seu desempenho operacional. Após passar por uma reformulação em sua estrutura de governança e controle em meados do ano passado, a empresa agora se concentra em assumir nos próximos meses a concessão dos serviços de saneamento básico de 74 municípios de Sergipe e outras 28 cidades do Paraná, que vai demandar R$ 7 bilhões em investimentos.
Em paralelo, a companhia discute no Rio de Janeiro um reequilíbrio de R$ 828 milhões em seu principal contrato de concessão. “A empresa, a partir da vitória no Rio de Janeiro, triplicou de tamanho. Agora, com Sergipe, ela acabou crescendo mais de uma vez e meia”, afirma Douglas Casagrande, CFO da Iguá, ao InvestNews. Independentemente disso, a empresa ainda tem R$ 2,7 bilhões a investir nesta concessão.
A Iguá arrematou em 2021 a concessão dos serviços de água e esgoto da região metropolitana do Rio de Janeiro por R$ 7,3 bilhões, incorporando mais de um milhão de novos clientes à sua base. Ao assumir a operação no ano seguinte, a empresa constatou que alguns indicadores operacionais não correspondiam aos anunciados à época do leilão.
A principal divergência está relacionada ao índice de perdas de água, que a companhia conseguiu reduzir em seus três anos de operação. “Nosso pleito de equilíbrio, do qual mais ou menos R$ 400 milhões se referem a perdas”, detalha o CFO.
“O edital do Rio estampava 35% de perdas de água. Para quem conhece o setor, provavelmente já olharia para esse número com certo ceticismo. Na prática, partimos com uma perda em 54% mais ou menos, índice que já conseguimos baixar para 46%.”
Diante da divergência de números, a Iguá iniciou uma arbitragem com o governo estadual para obter os R$ 828 milhões de desconto. No mês passado, a empresa realizou o pagamento da última parcela do negócio, em um valor aproximado de R$ 1,8 bilhão, sendo que apenas R$ 989 milhões foram pagos ao poder público, com o restante destinado a uma conta arbitral, cujo valor será liberado apenas com a conclusão do processo.
Expansão
A Iguá conquistou em 2024 dois importantes leilões de saneamento. No início de setembro, a empresa ofereceu R$ 4,54 bilhões para assumir por 35 anos os serviços de saneamento básico de 74 dos 75 municípios de Sergipe, aumentando sua base de clientes em mais de 2 milhões de pessoas.
Poucos dias depois, a concessionária venceu o Bloco 3 do leilão da Companhia Estadual de Saneamento do Paraná (Sanepar), por meio de uma parceria público-privada para a prestação de serviços de coleta e tratamento de esgoto em 28 municípios da região Oeste do estado. O contrato, assinado em janeiro de 2025, terá duração de 24 anos.
Desempenho em 2024
Em termos operacionais, a Iguá aumentou sua geração de caixa (Ebitda) em 25,8% na comparação com 2023, chegando a R$ 881,5 milhões. “Hoje estamos muito focados na geração de caixa operacional para pagar nossos investimentos e, lá na frente – estamos falando em mais de uma década –, conseguiremos, de fato, remunerar os acionistas que apostaram no negócio”, explica Casagrande.
Um dos indicadores de maior destaque foi a redução nas perdas de água, que caíram de 47,5% para 45,4% no último ano, enquanto a inadimplência se manteve sob controle, com uma média consolidada abaixo de 3%.
Isso contribuiu para que a margem Ebitda alcançasse 43,5%, avanço de 4,7 pontos percentuais em um ano, alinhando a companhia com a média do setor. A receita líquida cresceu 12,3% no mesmo comparativo, ultrapassando R$ 2 bilhões pela primeira vez na história da empresa. A última linha do balanço fechou com prejuízo líquido de R$ 317,3 milhões – resultado considerado natural para a atual fase da companhia.
“Nos primeiros dez, 15 anos, você se alavanca, você matura, paga a sua dívida e a partir daí começa a gerar lucro”, ressalta Casagrande. “Hoje, estamos focados em gerar caixa operacional para pagar a dívida.”
Em função dos novos investimentos, a dívida líquida da Iguá atingiu R$ 7,8 bilhões, com a alavancagem (relação entre endividamento líquido e Ebitda ajustado) de 8,8 vezes no final de 2024. O prazo médio da dívida está em 11,07 anos, o que proporciona conforto, segundo o CFO, para a empresa executar seu plano de investimento.
Nova governança
No ano passado, a Iguá passou por uma profunda transformação societária. Até maio de 2024, a empresa era controlada pela gestora IG4 Capital, que detinha apenas 3% do capital, mas era responsável pela administração por meio de contrato de gestão.
A saída da IG4 ocorreu após um ciclo de sete anos, durante o qual a gestora adquiriu a então CAB Ambiental, do grupo Galvão, e reestruturou o negócio, atraindo investimentos do Canada Pension Plan Investment Board (CPPIB) e da Alberta Investment Management Corporation (AIMCo).
Desde então, o CPPIB passou a ser o controlador do negócio, com 66,5% de participação na Iguá, enquanto a AIMCo forma o bloco de controle com outros 24%. Os 9,5% restantes pertencem ao BNDESPar. Há um acordo entre o investidor brasileiro e os canadenses para que, quando o mercado reabrir e oferecer condições favoráveis, a Iguá faça um IPO para dar saída ao braço de investimentos do BNDES.
Em novembro, houve um aumento de capital social de R$ 1,7 bilhão, com a maior parte desse aporte – R$ 1,4 bilhão – sendo direcionada à nova operação em Sergipe.
“Estamos em uma nova fase, com acionistas que têm um horizonte de investimento alinhado ao tempo das nossas concessões, que vão até aproximadamente 2060”, conclui Casagrande. “Todas as decisões da companhia são tomadas olhando o horizonte de décadas, e não mais um horizonte de curto prazo.”