A missão de Guimarães — e da quarta geração da família Marinho, que passa a assumir protagonismo — será enfrentar um conjunto de desafios simultâneos: a queda estrutural das receitas da televisão, a necessidade de tornar o Globoplay rentável de forma consistente, a pressão das big techs sobre o mercado publicitário e a busca por novos modelos de monetização.
Essa reconfiguração também é uma resposta a um dado incômodo: mesmo com ajustes e reestruturações nos últimos dez anos, a Globo tem hoje quase metade do faturamento que tinha em 2014, quando viveu seu último pico de receita. O grupo registrou R$ 16,4 bilhões em receita em 2024, enquanto, em 2014 esse montante foi de R$ 28,3 bilhões, em valores corrigidos pelo IPCA.
E, enquanto tenta crescer novamente, precisa administrar sua transição familiar mais complexa desde a morte de Roberto Marinho.
Um império reorganizado
Hoje, o grupo está dividido em quatro grandes empresas: a Globo, que reúne TV aberta, canais pagos, Globoplay, g1, GeTV e a operação da Eletromidia; o Sistema Globo de Rádio, detentor da CBN e da Rádio Globo; a Editora Globo, responsável pelos jornais O Globo e Valor Econômico e por revistas como Época Negócios e Vogue, e a Globo Ventures, braço de investimentos que mantém participações em startups como QuintoAndar, Stone, LivUp e Buser.
Além da chegada de Guimarães e da criação da holding, a partir de 2026, dois netos de Roberto Marinho ganham maior poder no grupo. Roberto Marinho Neto, hoje responsável pela Globo Ventures, vai passar a comandar também a diversificação dos negócios e oportunidades de investimentos fora do segmento de mídia.
Já Paulo Marinho, que comanda a TV Globo desde 2022, passará a liderar também a Editora Globo, o Sistema Globo de Rádio e a Eletromidia. Ou seja: ele assumirá o comando de todos os negócios do grupo, concentrando decisões e aproximando áreas que historicamente operaram com diferentes lógicas.
Caberá a essa nova estrutura tentar reverter o encolhimento de faturamento e lucro que o grupo vem enfrentando principalmente por conta da crise em seu principal negócio: a televisão.
Os desafios do grupo
Mesmo mantendo a liderança na TV aberta, a Globo opera em um mercado que diminui a cada ano. Não bastasse isso, a base de assinantes de TV paga também cai e, no streaming, o Globoplay ainda tem uma participação de mercado muito longe da líder no Brasil, que é a Netflix.
Para tentar reverter a situação, a TV Globo fez mudanças profundas nos últimos anos. A emissora rompeu com o antigo modelo de contratos longos com atores, passou a negociar direitos esportivos de maneira menos exclusiva e reviu a estrutura de produção para se adaptar a orçamentos mais enxutos. Foi dessa onda de mudanças que nasceu o maior símbolo da reinvenção digital da empresa: o Globoplay.
Lançado em 2015 com a promessa de transformar a Globo em uma empresa multiplataforma, o Globoplay levou anos para encontrar seu tamanho viável financeiramente. Em 2023, o próprio presidente da Globo admitiu que a empresa “errou a mão” em produções para o streaming que consumiram orçamento sem trazer o retorno esperado. Agora, em 2025, ao completar dez anos de operação, é que a plataforma deve fechar no lucro pela primeira vez.
Ainda assim, seu alcance está distante da líder Netflix: responde por 1,5% do total de conteúdo em vídeo consumido no país, contra 4,5% da concorrente. O avanço é real, mas o tamanho do desafio também.
A aposta para recuperar publicidade
Também conhecida como DTV+, a TV 3.0 é um novo padrão de transmissão que promete transformar a televisão aberta combinando imagem de cinema, som imersivo e interatividade. Para as emissoras, o ponto crucial desse novo padrão está na capacidade de exibir anúncios hipersegmentados.
Com esse modelo, duas pessoas assistindo ao mesmo programa poderão ver comerciais totalmente diferentes. Será possível, ainda, comprar produtos diretamente pela tela. Para as emissoras, principalmente a Globo, esse padrão pode ajudar a recuperar parte do dinheiro que migrou para o digital na última década.
A expectativa é que o novo sistema estreie em junho de 2026, durante a Copa do Mundo de Futebol, em São Paulo e no Rio de Janeiro.
O desafio do grupo Globo agora é simultaneamente tecnológico, estratégico e familiar. Os próximos capítulos dirão se esse novo ciclo será de reconstrução ou de retração.
O InvestNews procurou o Grupo Globo e a família Marinho, mas eles não concederam entrevista.