Siga nossas redes

Negócios

Sol de Janeiro, a empresa gringa que usa cores e praias brasileiras como estratégia de marketing

Marca apostou alto em influenciadores no TikTok e virou a queridinha da geração Z

Brazilian Bum Bum Cream. Beija Flor Elasti-Cream. Bom dia Bright Cream. Delícia Drench Body Butter. Carioca Crush. 

Os nomes, as cores e os ingredientes brasileiros e sustentáveis são um convite quase irrecusável a espalhar alegria pelo corpo.  Esta é a alma da Sol de Janeiro, marca de cremes para pele e cabelo e de fragrâncias corporais lançada nos Estados Unidos em 2015 – e que teve um crescimento meteórico em 2023. No Brasil mesmo, a marca só desembarcou em 2021. De lá para cá, colocou em marcha um processo acelerado de internacionalização.

Montagem com fotos dos três fundadores da marca de cosméticos "Sol de Janeiro". Em primeiro plano (da esquerda para a direita): Camila Pierotti (mulher branca de cabelos castanhos); Heela Yang (mulher asiática de cabelo preto e pele clara) e Marc Capra (homem branco de cabelo e barba grisalhos); sobre um desenho manual da praia de ipanema (com o morro dos irmãos e prédios ao fundo)
Os fundadores da Sol de Janeiro: Camila Pierotti, Heela Yang e Marc Capra./ Ilustração: João Brito

“Desde sua criação, a Sol de Janeiro soube se posicionar com uma tremenda inteligência”, diz a americana Elizabeth Kopelman, dona da consultoria Frisson Beauty. “Eles ingressaram no mercado via Sephora e se conectaram inicialmente com a comunidade latina e os brasileiros que vivem nos EUA.”

Há mais de 25 anos no segmento, Elizabeth ajuda grandes empresas de beleza e bem-estar a criarem marcas competitivas no mercado global, ganhando escala de forma estratégica e avançando em mercados internacionais. 

 “A Sol de Janeiro é uma marca muito bem elaborada, que foca seu negócio em marketing e influenciadores. Usa cores vibrantes, letras garrafais, nomes criativos e a iconografia do Brasil, cuja imagem no exterior é de positividade e de personalidade solar: a praia, o biquíni, a sensualidade das brasileiras. É diversão embalada para presente”, diz Elizabeth, que já ajudou marcas como Colgate, J&J, Neutrogena e Debut Biotech, da família L’Oréal .

 De quem é a empresa?

A Sol de Janeiro foi fundada pela coreana-americana Heela Yang (que ocupa o cargo de CEO), a brasileira Camila Pierotti e o americano Marc Capra. Em novembro de 2021, os três venderam ao grupo L’Occitane 83% da empresa.  À época, a francesa reforçou que a presença digital da Sol de Janeiro e o nicho de cuidados corporais complementam a estratégia geográfica do grupo – e a Sol de Janeiro poderia se beneficiar da presença internacional da L’Occitane para expandir seus tentáculos.

O plano de internacionalização, um marketing focado em influenciadores no TikTok e a criação de novos produtos foram colocados em marcha. O resultado? Em maio, a Sol de Janeiro entrou para a lista da revista Time como uma das 100 empresas mais influentes de 2024. 

LEIA MAIS: Sol de Janeiro, L’Oréal e Unilever: marcas disputam sua skincare – e bilhões

Segundo a revista, as fragrâncias em spray, como Cheirosa 68 (jasmim brasileiro e fruta do dragão rosa) e Cheirosa 62 (baunilha e caramelo salgado) foram os produtos de beleza virais de 2023, gerando 850 milhões de visualizações no TikTok. Vídeos e memes de influenciadores ajudaram a triplicar as vendas da marca.  

“A criação das fragrâncias corporais está alinhada com tendência do setor, de uma forma positiva, ao usar ingredientes amigáveis ao meio-ambiente”, diz Elizabeth. “A marca tem ótimas margens, um potencial de crescimento incrível em termos de inovação de produto, escala e expansão geográfica”, analisa.

Influenciadores e a geração Z

Este ano, a Sol de Janeiro contratou seis mil influenciadores e colocou foco em um público da geração Z que paga mais por estes produtos do que as fragrâncias vendidas em farmácia, mas ainda não tem poder aquisitivo para marcas de luxo ou premium. 

Na Sephora, o preço de cada fragrância varia de US$ 25 a US$ 38. O Brazilian Bum Bum Cream e o Beija Flor Elasti são vendidos por US$ 48. “Em termos de qualidade, preço e público, o Sol de Janeiro alcança uma consumidora similar à linha Victoria’s Secret”, diz. “E há quem jure de pé junto que o Brazilian Bum Bum Cream funciona maravilhas.” 

LEIA MAIS: Sem minimalismo, Granado exporta o Rio do século 19 para Europa e Estados Unidos

Em fevereiro, seguindo a estratégia de centrar foco na geração Z, o time de marketing deu mais um passo audacioso, criando uma experiência da Sol de Janeiro por apenas um mês na plataforma de videogames Roblox, a fim de se conectar com suas consumidoras mais jovens. Na experiência, uma menina asiática passa o dia se deliciando com os cuidados do corpo, num cenário tropical. 

A personagem é uma alusão à sul-coreana Heela Yang, a co-fundadora da marca. Heela cresceu imersa na tradição da k-beauty (korean beauty), que enfatiza os cuidados com a pele do rosto, um ritual que ela seguiu em casa, influenciada pela mãe e avó. A korean beauty é uma indústria que hoje desenvolve produtos de alta tecnologia e que influenciou mercados em todo o mundo. 

Como a marca surgiu

Em 2008, quando Heela estava grávida, vivenciou o “prazer de estar de biquíni nas areias do Brasil”, segundo palavras dela. A experiência foi libertadora, disse Heela em entrevistas, e dali surgiu a vontade de criar um produto de alma brasileira, com a mensagem de liberdade e aceitação do corpo. 

Heela juntou-se a Marc Capra, um americano que viveu por nove anos no Brasil, e à carioca Camila Pierotti, que na época já morava nos Estados Unidos. Juntos, eles trouxeram a essência das praias brasileiras para o centro dos negócios. 

Heela estudou em Harvard e fez mestrado em Yale. Chegou a trabalhar no Goldman Sachs, mas em seguida partiu para a indústria da beleza. Durante 12 anos ocupou cargos executivos na Lancôme e Clinique e na sequência abriu sua consultoria, a Perfect Fifth, que auxiliou grandes marcas em suas estratégias, marketing e investimento. 

Sua trajetória esbarrou com a de Camila, que estudou na Universidade George Washington e seguiu carreira na indústria da beleza, em empresas como Clinique e Nars Cosmetics. Para Camila, a criação da marca foi a oportunidade de manter uma conexão com o padrão de beleza brasileiro. Quando ela se mudou do país para os EUA, deu-se conta de que o padrão americano era muito diferente, com mulheres muito magras, mais altas e mais loiras. 

Criando a Sol de Janeiro ao lado de Heela e Marc, Camila levou para o mercado americano características como a autoconfiança para mulheres com mais curvas, celebrou a cultura dos toques e abraços e a democracia das praias brasileiras. O recado foi bem recebido. “O Brasil é sinônimo de sorrisos e de todas estas experiências sensoriais e aromáticas”, analisa Elizabeth.

Geração Z

“O Body Splash com cheiro de baunilha tornou-se o meu favorito”, diz a estudante brasileira Cecília  Siqueira, de 19 anos, que vive na Califórnia e conheceu a marca via plataforma Pinterest. “Um dos atrativos para minha geração é o preço: um pouco mais caro do que os produtos que usávamos na pré-adolescência, mas nada muito absurdo, como os produtos de grifes.” 

Cecília diz que adora os nomes em português e o fato de que cada um deles remete ao Brasil. “Nosso país tornou-se uma referência na indústria de beleza nos EUA, além de ter virado moda nas ruas”, conta. Ela ressalta a estética clean como um ponto relevante para os consumidores de hoje, e a aparência alegre da Sol de Janeiro.

“As cores vibrantes, como rosa e amarelo, são características que muitas marcas abandonaram. Além das embalagens se destacarem nas prateleiras das lojas, a Sol de Janeiro encontrou um ótimo equilíbrio entre estética e diversão, os dois aspectos que atraem a minha faixa etária”, diz Cecília. 

Abra sua conta! É Grátis

Já comecei o meu cadastro e quero continuar.