A rede de supermercados St. Marche conseguiu proteção judicial parcial contra a execução de dívidas após um fundo do BTG Pactual, seu maior credor, declarar o vencimento antecipado de R$ 275 milhões. O grupo, que tenta renegociar um endividamento total de R$ 639 milhões, obteve da 1ª Vara de Falências e Recuperações Judiciais de São Paulo uma medida cautelar que suspende execuções por 60 dias.
A rede de supermercados premium enfrenta dificuldades para manter seu capital de giro. No mês passado, com faturamento bruto de R$ 94 milhões e R$ 60 milhões comprometidos com garantias, a empresa teve caixa negativo de R$ 10 milhões após pagar R$ 103 milhões em compromissos. A situação se agravou após o FIDC Alternative Assets I, do BTG Pactual – maior credor, com R$ 275 milhões – declarar o vencimento antecipado da dívida.
A Justiça concedeu apenas parcialmente o pedido da empresa. O juiz Jomar Juarez Amorim determinou a suspensão das execuções contra o grupo por 60 dias, mas apenas para dívidas sem garantias.
O magistrado não aceitou suspender o vencimento antecipado das dívidas que têm bens ou recebíveis (como as vendas no cartão) dados em garantia, nem liberar esses valores que já estavam comprometidos com credores. Segundo a decisão, isso daria à empresa um benefício maior do que aquele previsto em uma recuperação judicial.
Os problemas de caixa já impactam as operações, relatou o St. Marche ao judiciário. O nível de estoque da rede caiu de R$ 110 milhões para R$ 93 milhões, afetando a percepção dos consumidores e a geração de receita. A empresa ainda tem R$ 42 milhões em aberto com fornecedores que não estão incluídos no procedimento de renegociação. O grupo faturou R$ 1,32 bilhão no ano passado.
O aperto financeiro acontece após um período de forte expansão. O grupo investiu significativamente na abertura de novas lojas entre julho de 2021 e agosto de 2023, mas não conseguiu realizar a planejada abertura de capital na bolsa devido ao cenário macroeconômico adverso.
A alta da taxa Selic impactou significativamente os custos financeiros do grupo, que ainda foi afetado pelo caso Americanas, que mudou o comportamento dos credores no setor varejista, especialmente nas operações de risco-sacado, argumenta o St. Marche.
Além do BTG, outros grandes credores incluem a Eco Securitizadora (R$ 224 milhões), Banco do Brasil (R$ 27,9 milhões), Santander (R$ 24,2 milhões) e Via Invest (R$ 13,9 milhões).
O St. Marche foi criado pelos empresários Bernardo Ouro Preto e Victor Leal e tem como sócio o fundo Catterton desde 2016, que permanece no negócio. Segundo reportagem recente da Bloomberg, a gestora colocou sua participação à venda e está em busca de propostas.