A Suzano entrou no segundo semestre diante de uma equação difícil de resolver: o preço da celulose segue no piso, a dívida aumentou e o custo de capital está mais alto.
“Não podemos depender de um novo patamar de preços para entregar resultados”, afirmou o CEO Beto Abreu, em conversa com analistas sobre os resultados do terceiro trimestre. Segundo ele, a empresa tem sido eficiente, mas, em um setor em que os ciclos são longos, as variáveis externas seguem pesando sobre os números.
O lucro líquido da Suzano foi de R$ 1,96 bilhão, uma redução de 39% em comparação ao mesmo período de 2024, enquanto a margem caiu de 53% para 43%. O Ebitda, que mede o lucro operacional antes de juros e impostos, recuou 20% no mesmo comparativo, refletindo a pressão sobre as margens.
A alavancagem em dólar, métrica usada pela Suzano em sua política financeira, subiu para 3,3 vezes o Ebitda, o maior nível em três anos. Em reais, o indicador ficou em 3,1 vezes, mas a empresa considera a medição em dólar mais fiel à realidade, já que 74% da dívida está dolarizada (ou 87% com hedge) e boa parte da geração de caixa também.
O aumento reflete preços de celulose ainda deprimidos e geração de caixa mais fraca, limitando a desalavancagem no curto prazo. A dívida líquida encerrou o trimestre em R$ 69 bilhões, ligeiramente abaixo dos R$ 70 bilhões de um ano antes.

Embora a Suzano mantenha R$ 24 bilhões em caixa, o endividamento líquido ainda consome boa parte da geração de caixa. No trimestre, a companhia alongou o perfil de pagamentos com a emissão de US$ 1 bilhão em títulos de dez anos, elevando o prazo médio (“duration”) da dívida para 80 meses, contra 74 no trimestre anterior.
Mas esse fôlego vem a um preço: o custo médio subiu para 5% ao ano em dólar, num ambiente global de juros altos. “O alongamento foi importante para reforçar a flexibilidade financeira”, afirmou o diretor financeiro Marcos Assumpção, “mas seguimos com disciplina para que a alavancagem volte a cair conforme o ciclo melhora.”
Demanda
A Suzano é especialista na venda de fibra curta, feita de eucalipto e usada em papéis mais macios — como papel higiênico, guardanapos e papéis de imprimir. Com o desaquecimento da economia chinesa e a oferta elevada no mercado internacional, o preço médio recuou para US$ 525 por tonelada, cerca de 22% abaixo do nível de um ano atrás.
Para atravessar o ciclo, a empresa vem apertando custos: o custo caixa caiu para R$ 801 por tonelada, o menor desde 2022, graças a ganhos logísticos e menor uso de insumos industriais. “Estamos entregando o menor custo em reais desde o início da pandemia, e isso é resultado de eficiência operacional, não de sorte de ciclo”, disse Abreu.
A companhia afirma já ver os primeiros sinais de melhora na demanda. “Vemos pedidos mais firmes e aumentos de preço sendo aceitos. O nível atual é insustentável para parte da indústria, e ajustes de oferta devem acontecer”, afirmou o vice-presidente comercial Leonardo Grimaldi, indicando que os reajustes de US$ 20 por tonelada, iniciados em outubro, possam aparecer nos resultados do quarto trimestre.
Já o segmento de papel e embalagens — que responde por cerca de um quarto da receita — avançou 6% em vendas, e a operação americana, adquirida em 2024, registrou seu primeiro Ebitda positivo (R$ 43 milhões). Mesmo assim, a divisão ainda não é suficiente para compensar o ciclo fraco da celulose.
No balanço consolidado, a Suzano registrou receita líquida de R$ 12,2 bilhões, uma queda de 1% em relação ao mesmo período do ano anterior, refletindo o recuo dos preços da celulose no mercado internacional.
Mesmo com custos menores e volumes maiores, a deterioração das cotações foi suficiente para comprimir a rentabilidade e conter o avanço da geração de caixa operacional, que somou R$ 3,4 bilhões, 22% abaixo do resultado de 2024.
Tarifaço breve não afetou
O episódio do tarifaço americano também entrou na pauta. Grimaldi contou que o momento em que os EUA incluíram e depois retiraram a celulose brasileira da lista de produtos com tarifa de 50% gerou volatilidade de preços em agosto e setembro, especialmente na China, onde parte das empresas exporta para o mercado americano.
Segundo o executivo, o impacto foi temporário e afetou mais as negociações à vista (spot). Após a retirada da tarifa, os volumes voltaram ao normal, e as exportações para os EUA — menos de 5% das vendas totais — não sofreram prejuízo direto.