O plano há muito adiado do TikTok de se separar de sua controladora chinesa, a ByteDance, começou a sair do papel na quinta-feira (18), quando a empresa afirmou que está sendo comprada por um grupo de investidores liderado pela Oracle Corp.

O diretor-presidente do TikTok, Shou Chew, informou aos funcionários que a empresa e a ByteDance assinaram acordos vinculantes para criar uma joint venture nos Estados Unidos com controle majoritário de investidores americanos, segundo um memorando interno analisado pela Bloomberg. Chew escreveu que estava “satisfeito em compartilhar uma ótima notícia” e disse que os acordos com a Oracle, a Silver Lake Management e a MGX foram assinados. A expectativa é que a transação seja concluída em 22 de janeiro de 2026, embora Chew tenha acrescentado que “ainda há mais trabalho a ser feito” até lá.

Os reguladores chineses ainda não disseram se vão aprovar a transação.

Após a conclusão do negócio, a joint venture americana passará a operar como uma entidade independente, responsável pelo controle da proteção de dados, da moderação de conteúdo e da segurança dos algoritmos no país, afirmou Chew aos funcionários no memorando. A nova entidade nos EUA também será “governada por um novo conselho de administração com sete membros, majoritariamente americanos”, acrescentou. As ações da Oracle subiram cerca de 5,2% nas negociações iniciais de sexta-feira, antes da abertura dos mercados.

O memorando detalhou um acordo que corresponde ao que a Casa Branca anunciou em setembro, que à época ainda dependia da aprovação da China e avaliava as operações do TikTok nos EUA em aproximadamente US$ 14 bilhões. O texto de Chew divulgado na quinta-feira não mencionou a posição da China sobre a transação, que retiraria parte — mas não o controle total — do TikTok US das mãos da ByteDance. Pelo arranjo, 50% dos investidores do TikTok nos EUA serão novos: Oracle, Silver Lake e MGX, uma empresa de investimentos sediada em Abu Dhabi, cada uma ficará com 15% de participação; 30,1% ficarão com afiliadas de determinados investidores atuais da ByteDance; e 19,9% permanecerão com a própria ByteDance.

Os termos descritos no memorando do CEO parecem deixar aberta a possibilidade de a ByteDance manter supervisão sobre partes-chave do TikTok nos EUA, um aplicativo usado por metade do país. A Bloomberg News já havia noticiado que a controladora chinesa ficaria com cerca de 50% do lucro das operações do TikTok nos EUA. O envolvimento da ByteDance há muito é um ponto sensível nas negociações e levou críticos — inclusive membros do próprio partido político de Trump — a argumentarem que o arranjo negociado pela Casa Branca pode não resistir a questionamentos legais. A lei de segurança nacional aprovada e sancionada durante o governo do ex-presidente Joe Biden determinava que o TikTok US e a ByteDance não tivessem qualquer relação operacional.

Os valiosos algoritmos de conteúdo da ByteDance são considerados centrais para o modelo de negócios do TikTok. De acordo com a versão do acordo mais recentemente delineada pela Casa Branca, espera-se que a ByteDance licencie sua tecnologia de recomendação baseada em inteligência artificial para a nova entidade do TikTok nos EUA, que usará o algoritmo existente para treinar um novo sistema com dados americanos protegidos pela Oracle, parceira de nuvem do TikTok.

O papel da Oracle como guardiã da segurança dos dados também levantou preocupações. O arranjo lembra uma colaboração anterior entre TikTok e Oracle proposta há anos ao governo dos EUA como forma de resolver preocupações semelhantes relacionadas à propriedade chinesa do aplicativo. Essa parceria, conhecida como Project Texas, acabou sendo rejeitada pelo governo americano por ser considerada insuficiente para enfrentar os riscos à segurança nacional.

Se for finalizado, o acordo eliminará um tema persistente nas relações entre Pequim e Washington e sinalizará avanços em negociações mais amplas entre os dois países, que têm se confrontado em questões comerciais e outros temas.

O acordo de Trump sobre o TikTok com a China — o que sabemos?: QuickTake

A Casa Branca vinha dominando as divulgações sobre o arranjo proposto, que foi imposto por motivos de segurança nacional por uma lei sancionada no ano passado durante o governo Joe Biden. Autoridades americanas expressaram preocupação com o fato de o TikTok pertencer a uma empresa chinesa e temem que Pequim possa usar o aplicativo para coletar dados de cidadãos dos EUA ou influenciar narrativas junto aos americanos por meio do algoritmo de recomendação.

Pela lei, o prazo inicial para a regra de “vender ou banir” era janeiro deste ano, mas Trump prorrogou o prazo várias vezes desde que voltou ao cargo, mais recentemente estendendo-o até janeiro de 2026.

Nos últimos meses, à medida que a possibilidade de um banimento sob Trump se tornou cada vez menor, o TikTok tem operado normalmente e reforçado sua posição como uma força cultural dominante nos Estados Unidos. A empresa vem avançando agressivamente no comércio eletrônico e nas vendas por transmissões ao vivo, inclusive firmando parcerias com grandes empresas de tecnologia americanas, como a Amazon.com Inc. No mesmo dia em que Chew anunciou que um acordo havia sido fechado, o TikTok realizou em Los Angeles seu primeiro evento com tapete vermelho no estilo do Oscar, o TikTok Awards.