Em novembro de 2023, a Enel viveu uma grande crise de imagem depois que um temporal deixou milhares de pessoas sem luz por seis dias na maior cidade do país. A situação rendeu um sem-número de reportagens e postagens nas redes sociais e a repercussão levou o prefeito Ricardo Nunes a defender uma medida extrema: o fim da concessão.
O tempo passou, promessas foram feitas e altos executivos da Enel apostaram no corpo a corpo com ministros e com o próprio presidente Lula para contornar a crise. A Enel falou em investir R$ 20 bilhões no Brasil até 2026.
Agora, a empresa italiana responsável pela distribuição de energia na Grande São Paulo voltou ao centro da discussão depois que chuvas e rajadas de vento deixaram 2,6 milhões de pessoas sem energia na sexta-feira (11). Coisa de momento, certo? Não mesmo. Até a manhã deste domingo, quase um milhão de consumidores seguiam sem luz.
O novo quiprocó estimulou políticos de diferentes pontos do espectro a falarem sobre a possível caducidade da concessão da Enel e tem servido até de ensaio para embates que podem acontecer nas próximas eleições gerais. Afinal, 2026 é logo ali.
A dias do segundo turno contra Guilherme Boulos, Nunes disse que a Enel é “inimiga do povo de São Paulo” e que espera que a cidade logo “possa se livrar dessa empresa.”
Defensor das privatizações e candidato a herdeiro do espólio eleitoral de Jair Bolsonaro, o governador Tarcísio de Freitas foi às redes sociais para defender a perda da concessão e também para espinafrar o governo federal.
No Instagram, escreveu que “se o Ministério de Minas e Energia e, sobretudo, a Aneel, tiverem respeito com o cidadão paulista, o processo de caducidade será aberto imediatamente”.
O ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, rebateu. “Gostaria de lembrar ao governador Tarcísio que a atual composição da Aneel foi nomeada com mandato pelo governo anterior, do qual ele foi destacado integrante”, escreveu no X. “A Aneel bolsonarista não deu andamento ao processo de punição, nem mesmo a uma fiscalização adequada.”
Depois de tentar colar no governo anterior os desgastes de imagem da Aneel, Silveira ficou mais à vontade para criticar a agência. Disse que a Aneel “claramente se mostra falha na fiscalização da distribuidora de energia” e acusou a agência de descompromisso com a população.
“A agência reguladora não deu qualquer andamento ao processo que poderia levar à caducidade da distribuidora, requerido já há um ano pelo Ministério, o que deve ensejar a apuração da atuação da Aneel junto aos órgãos de controle”, disse em nota o MME.
Com políticos da direita e da esquerda levantando a pauta do fim da concessão, a Aneel afirmou em nota que “instaurará processo de recomendação da caducidade da concessão” caso a Enel não apresente uma “solução satisfatória e imediata na prestação do serviço”.
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