Os agentes do mercado de petróleo estão se preparando para uma nova alta nos preços depois que ataques israelenses a instalações de energia do Irã aumentaram os riscos para o fornecimento no Oriente Médio.

Israel derrubou temporariamente uma unidade de processamento de gás natural ligada ao gigantesco campo de South Pars, o maior do Irã, em um ataque no sábado. Tanques de armazenamento de combustível também foram alvo, como parte da campanha de Israel contra o programa nuclear de Teerã.

Embora o ataque tenha se concentrado no sistema de energia doméstico da República Islâmica — e não nas exportações ao mercado internacional —, traders e analistas de petróleo estão se preparando para mais turbulências, após os preços registrarem na sexta-feira o maior salto em três anos.

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Apesar das sanções dos EUA, o Irã continua sendo o terceiro maior produtor da Opep. Seus aliados no Iêmen, os rebeldes Houthis, têm atacado navios na região e Teerã já ameaçou no passado fechar o Estreito de Hormuz, um ponto de passagem crucial no Golfo Pérsico. Até hoje, no entanto, o Irã nunca bloqueou efetivamente esse gargalo marítimo.

“O conflito está escalando, é provavelmente prolongado, e a expansão para alvos econômicos com vítimas civis deve adicionar um prêmio de risco extra ao preço do petróleo no início desta semana”, disse Bob McNally, presidente e fundador da Rapidan Energy Advisers LLC e ex-assessor de energia da Casa Branca.

O contrato futuro do petróleo do tipo WTI, referência dos EUA, subiu até 14% na sexta-feira, encerrando o dia perto de US$ 73 o barril. O JPMorgan Chase & Co. prevê que um fechamento de Hormuz pode levar os preços internacionais a até US$ 130 por barril. Um salto nesses níveis aumentaria a pressão inflacionária global.

O ataque de sábado provocou uma explosão e um incêndio na planta de processamento de gás, e forçou a paralisação de uma plataforma de produção no South Pars, segundo a agência semi-oficial Tasnim.

“Agora que essa linha foi ultrapassada, surgem dúvidas sobre se Israel vai mirar outras infraestruturas energéticas iranianas”, disse Richard Bronze, chefe de geopolítica da consultoria Energy Aspects Ltd. “Parece que estamos num ciclo de escalada.”

Se o fornecimento de petróleo for afetado, o presidente Donald Trump provavelmente pedirá ao grupo Opep+, liderado pela Arábia Saudita, que use sua capacidade ociosa de produção, disse Helima Croft, chefe de estratégia global de commodities da RBC Capital Markets LLC e ex-analista da CIA, em nota divulgada na sexta-feira.

Mas não está claro se a Opep conseguiria compensar uma interrupção severa e prolongada da produção iraniana, que atualmente gira em torno de 3,4 milhões de barris por dia.

Uma simples tentativa nesse sentido pode, inclusive, colocar a infraestrutura energética da Arábia Saudita e dos Emirados Árabes Unidos na linha de fogo. Depois que Riad apoiou a repressão de Trump contra Teerã em seu primeiro mandato, as instalações críticas de processamento de petróleo em Abqaiq foram atacadas pelos Houthis em 2019.

“A capacidade ociosa da Opep poderia ser ativada para compensar a redução dos barris iranianos”, disse Clay Seigle, pesquisador sênior no Center for Strategic and International Studies em Washington DC. “Mas seria politicamente delicado para a Arábia Saudita e os Emirados se beneficiarem dessa forma às custas do Irã.”

Produção de petróleo do Irã está no maior nível em anos

O fato de que grandes instalações petrolíferas ainda não tenham sido atingidas nos conflitos recentes pode trazer alguma tranquilidade ao mercado.

“Provavelmente precisaríamos ver sinais de uma guerra mais intensa – com danos muito mais generalizados e grande número de vítimas civis – para que essa percepção mude e o prêmio de risco no petróleo suba ainda mais”, disse Vandana Hari, fundadora da consultoria Vanda Insights, com sede em Cingapura.

A Agência Internacional de Energia (IEA), com sede em Paris e criada por países consumidores, afirmou que os mercados globais de petróleo estão bem abastecidos, diante da queda na demanda por combustíveis e dos aumentos recentes de produção da Opep+. A agência disse que está preparada para liberar estoques emergenciais se necessário.

No domingo, o presidente Trump publicou no Truth Social que os dois países em conflito “deveriam e vão” fechar um acordo de paz. Antes dos ataques de Israel, Trump já havia declarado estar insatisfeito com a alta nos preços do petróleo.

Os temores em torno do Estreito de Hormuz também podem estar sendo exagerados, acrescentou Hari. Uma medida tão extrema cortaria a própria rota de exportação do Irã e alienaria seu maior cliente, a China.

“O Irã nunca bloqueou de fato o canal, apesar de muitas ameaças ao longo dos anos, e não espero que o faça agora”, afirmou.

Por Grant Smith e Anthony Di Paola