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Transição energética é ponto-chave para o futuro da Vale, preveem analistas

Segundo especialistas ouvidos pelo InvestNews, impacto deve aparecer no longo prazo, mas há desafios pela frente.

As expectativa de demanda menor pelo minério de ferro nas próximas décadas, aumento de investimentos direcionados para metais básicos, além de novas legislações que possam surgir  fazem com que a transição energética seja o ponto-chave para o futuro da Vale (VALE3). É o que avaliam analistas consultados pelo InvestNews, que apontam, no entanto, que a mineradora ainda enfrentará desafios.

Recentemente, a Cosan (CSAN3) anunciou a compra de uma fatia de 4,9% na Vale, em um negócio avaliado em até R$ 22 bilhões. De acordo com a companhia, o movimento de entrada acontece em um momento favorável para criação de valor para o portfólio da Cosan, pelo fato de a mineradora ser um ativo com mix de produtos essenciais na economia e relevantes para a transição energética.

Outro ponto de destaque citado pela Cosan é a qualidade das reservas de minério de ferro e metais básicos da Vale, sendo, na avaliação da empresa, fundamental para viabilizar a descarbonização siderúrgica e eletrificação.

Além disso, a Vale divulgou seu relatório de produção e vendas, que mostrou que a produção de níquel da mineradora somou 51,8 mil toneladas entre julho e setembro, avanço de 71,5% ante o terceiro trimestre de 2021. Já a produção de cobre subiu 7,4%, para 74,3 mil toneladas.

Régis Chinchila, analista da Terra Investimentos, avalia que os investimentos direcionados para o segmento de metais básicos e a posição estratégia da Vale em locais físicos fora do Brasil, na América do Norte e Ásia, são pontos fortes em movimento de transição de mercado.

”A transição energética é o ponto-chave para o futuro da mineradora. A razão disso é a expectativa de demanda menor pelo minério de ferro nas próximas décadas. Assim, o foco de investimentos deve ser a divisão de metais básicos, como níquel e cobre, a fim de atingir uma fatia maior do mercado”, avalia Chinchila.

Além disso, ele acrescenta que a estrutura sólida no minério de ferro minimiza os riscos de transição, sendo uma fonte segura de recursos para investimento e experiência nos processos de mineração”, avalia Chinchila.

Já a especialista em mercado de capitais Ariane Benedito destaca que os últimos números divulgados pela Vale mostram que 54% de seu consumo é com geração própria, principalmente de fontes hidrelétrica e eólica, porém, de toda a base de consumo, mais de 50% ainda vêm de fontes poluentes (24% a diesel, 17% a carvão e 12% outros óleos). 

”Sendo assim, o desafio ainda é grande em relação a investimentos e eficiência no processo transição”, afirma Benedito.

Importância do cobre e níquel

Caminhão transporta níquel em planta de produção da Vale Indonesia. Crédito REUTERS/Yusuf Ahmad/File Photo

Separação de unidades nos planos da Vale

Além de o relatório de produção e vendas do terceiro trimestre  de 2022 da Vale trazer números mais robustos para níquel e cobre, recentemente, o CEO da mineradora, Eduardo Bartolomeo, informou que a empresa estuda separar a unidade de cobre e níquel do negócio de minério de ferro, já que as duas unidades têm perspectivas de crescimento diferentes.

Estes metais devem acompanhar uma forte demanda como resultado da transição dos combustíveis fósseis, pois são necessários em veículos elétricos, nas estações de carregamento e outras infraestruturas de energia renovável.

A Vale informou no seu XXII Investor Tour, em setembro, que a demanda global por níquel está para aumentar rapidamente nesta década com a transição energética, impulsionada pela rápida expansão das vendas de carros elétricos, que devem ser quatro vezes maior até o final desta década, com químicas ricas em níquel, favorecidas pela melhor performance, variedade e reciclabilidade.

Níquel e cobre em alta

A Vale estima que, em 2030, o mercado de níquel será responsável pela demanda de 6,2 milhões de toneladas, representando um crescimento de 44%.

A mineradora apontou que o fornecimento de níquel de baixo carbono será fundamental para cumprir os objetivos de descarbonização dos veículos elétricos e que mecanismos de precificação de carbono acentuarão a diferenciação de preços para produtos de baixo carbono.

Já no caso do cobre, a Vale aponta que o crescimento da demanda na década deve ser impulsionado, principalmente, pelos veículos elétricos e renováveis, enquanto a oferta primária precisará lidar com a queda de incertezas regulatórias. 

A demanda total de cobre estimada pela Vale deve avançar próximo de 20% até 2030, para 37 milhões de toneladas. 

Impacto de longo prazo para a Vale

Chinchila aponta que o volume é significativamente baixo em relação ao produzido pela divisão de ferro da Vale. Desta forma, segundo o analista da Terra Investimentos, o minério de ferro será o grande gerador de receitas pelos próximos anos, indicando que os resultados da transição serão relevantes apenas nos próximos 10 a 30 anos, com o avanço da indústria neste contexto.

”O movimento não é propriamente de alta, e, sim, de recuperação. Mas serve como um indicativo de que a companhia está caminhando nessa direção, que gera reações muito positivas nos investidores de longo prazo”, pontua Chinchila.

A especialista em mercado de capitais Ariane Benedito avalia que o projeto da transição de matriz energética da Vale é um dos mais claros e bem estruturados, até mesmo por ser geradora da maior parte da energia que consome.

Segundo Benedito,  esse fator torna mais factível o desenvolvimento do modelo energético que hoje se baseia em substituição de fontes convencionais de energia por energia renovável, modelo de gestão sistematizado e equipes multidisciplinares visando a eficiência e a substituição de combustíveis fósseis por energia renovável através da eletrificação de máquinas e equipamentos.

Impulsionadores da transição energética

Metais de qualidade, eletrificação acelerada, aumento de demanda de metais básicos, possibilidade de descarbonização de siderurgias estão, segundo Chinchila, como importantes impulsionadores da Vale no processo de transição energética global. Ele destaca, no entanto, que o grande catalisador para esses segmentos são as novas legislações que podem surgir. 

”A pauta ambiental está se fortalecendo com o tempo no âmbito político, e essa tendência demonstra que muito da transição energética pode ser impulsionada, ao passo que novas leis de preservação sejam criadas, forçando a população e indústria a reduzir suas emissões a partir de novas tecnologias fabricadas com os metais básicos”, diz o analista da Terra Investimentos.

Benetido alerta que, segundo a Vale, a empresa tem como objetivo maximizar a redução do consumo de energia através da implantação de iniciativas de eficiência energética em todas as operações, contribuindo assim para redução de emissões de gases de efeito estufa e redução de custos. 

Felipe Leão, especialista da Valor Investimentos, destaca que é importante a Vale conseguir manter a qualidade dos serviços prestados, já que a companhia tem grande produção de níquel, de alta qualidade, que é muito valorizado para aplicações em galvanização e em baterias.

”Isso é bem importante para a energia elétrica. A Vale é uma das maiores produtoras globais de níquel. É importante pensar na transição energética  por esses outros materiais que a Vale é líder de mercado. Essa empresa é chave para a transição energética global e descarbonização”, diz Leão.

Alavanca de valor aos acionistas

Caminhões em Mina da Vale em Carajás
Mina da Vale em Carajás 29/7/2012. Crédito REUTERS/Lunae Parracho

Régis Chinchila considera que, caso a Vale consiga se posicionar nesse novo mercado na mesma forma que está posicionada no de minério ferro, a recompensa para os acionistas da mineradora será grande. 

Ele alerta, no entanto, que é um projeto de longo prazo, o que não permite saber como estarão posicionados os players do atual mercado, mas que, diante dos investimentos feitos recentemente e a serem feitos no futuro próximo, a perspectiva é positiva.

A especialista em mercado de capitais Ariane Benetido aponta que, no curto prazo, a empresa demandará mais investimentos para o andamento do projeto, e, no longo prazo, a redução nos custos são significativos, o que abre espaço para aumento na margem líquida da companhia. 

Além disso, segundo Benedito, dentro das políticas e normas da iniciativa, a Vale conta com o processo de compra e venda de energia, onde a comercialização busca maximizar os resultados e diminuir os custos das operações.

”O projeto de mudança na matriz energética da Vale traz uma expectativa de diminuição de custos significativo para a operação no longo prazo e, consequentemente, atrai mais investidores que virão fazer parte da distribuição de lucros da companhia. Em 2021, a mineradora registrou recorde histórico no lucro líquido de uma empresa de capital aberto no Brasil, o equivalente a R$ 121 bilhões”, afirma Benedito.

Sinal de alerta para investidores

Régis Chinchila destaca que os números de produção de metais básicos da Vale são animadores, mas representam menos de 10% do resultado operacional da mineradora e possuem lucratividade significativamente menor. 

Portanto, segundo o analista da Terra, não se pode fugir do fato de que o valor da companhia será definido pela divisão de minério de ferro e espera-se que a produção continue aumentando, a fim de manter o volume de receitas em um cenário de menores preços do minério à frente. 

Caso isso não ocorra, Chinchila alerta que a empresa tende a se desvalorizar, apesar dos bons resultados no segmento de níquel e cobre.

Já Ariane Benedito avalia que, no balanço de risco, entre os fatores do custo do projeto que se eleva no curto prazo, e os riscos climáticos que a operação está exposta, o investidor deve estar atento ao risco da participação de joint ventures no projeto. 

Conforme relatado pela própria companhia, partes importantes dos segmentos de minério de ferro, pelotização, níquel, carvão, cobre, energia e outros negócios são operadas por intermédio dessas empresas. Segundo a Vale, isso pode reduzir o nível de controle, bem como a capacidade de identificar e gerenciar riscos. 

Ainda de acordo com a mineradora, caso quaisquer dos parceiros não cumpram com seus compromissos, a joint venture ou o consórcio afetado poderá não ser capaz de operar de acordo com os seus planos de negócios. Ou é possível que a mineradora tenha que aumentar o seu nível de investimento para implementá-los. 

”Assim, deve ser monitorado com atenção o cumprimento dos investimentos acordados, conforme divulgado no balanço da companhia trimestralmente, para avaliação de risco do investidor”, recomenda Benedito.

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