A gestão comandada por Gustavo Pimenta vê espaço para aumentar em até 3% a produção de minério de ferro no próximo ano em relação ao projetado para 2025, numa faixa entre 335 milhões e 345 milhões de toneladas da commodity.
A expectativa da diretoria é manter os investimentos em torno de US$ 6 bilhões por ano, reduzir o custo C1 do minério — o gasto direto de produção, antes do transporte — para algo próximo de US$ 20 por tonelada, alcançar 360 milhões de toneladas de ferro em 2030 e praticamente dobrar o volume de cobre até 2035. No meio do caminho, a empresa ainda precisa fazer o negócio de níquel parar de queimar caixa.

O ponto sensível continua sendo o mesmo: credibilidade. Pimenta reconheceu a analistas que parte do ceticismo decorre do histórico de metas não cumpridas — inclusive em cobre.
A gestão afirma que as projeções atuais foram modeladas sem depender de “alívios” regulatórios, como o decreto de cavidades, e estão apoiadas em projetos já licenciados e, em boa medida, em expansões brownfield.
A aposta é que a combinação de disciplina de custos e entrega operacional ajude a encurtar a distância em relação a concorrentes como BHP e Rio Tinto — e sustente a ambição da Vale de voltar a ser a maior produtora global de minério de ferro.
Minério de ferro
No minério de ferro, o diretor de operação (COO) Carlos Medeiros reafirmou que a meta de produção para 2026 passou a ser de 335 milhões a 345 milhões de toneladas — abaixo da estimativa anterior, de 340 a 360 milhões —, mas com o objetivo de longo prazo mantido em 360 milhões de toneladas anuais até 2030.
Segundo ele, o cumprimento desses volumes depende mais das condições de mercado do que de limitações operacionais ou de licenciamento: os projetos necessários já estão autorizados.
O aumento de produção virá de um pacote de expansões em andamento. O projeto Serra Sul+20, em Carajás (PA), deve adicionar 20 milhões de toneladas de minério de alta qualidade por ano, com início das operações no segundo semestre de 2026. A Vale projeta custo C1 de US$ 14 por tonelada nesta expansão — patamar que tende a torná-la a operação mais barata da companhia.
Em paralelo, Vargem Grande, Capanema e o Compact Crusher em Serra Sul completam o reforço de capacidade. Capanema, por exemplo, deve saltar de 8 milhões de toneladas em 2025 para 13 milhões em 2026, chegando a 15 milhões em regime, com custo abaixo de US$ 20 por tonelada.
“Podemos produzir minério de alta qualidade, mas nossa força está na flexibilidade”, diz Rogério Nogueira, vice-presidente comercial e de desenvolvimento. Depois de décadas apostando na tese do high grade, a Vale passou a enxergar valor em ajustar o mix conforme a demanda.
Entre 2023 e 2025, a fatia de minérios de altíssimo teor nas vendas diminuiu, enquanto avançou a participação dos minérios mid-grade premium, que têm melhor relação alumina/sílica. A mudança, combinada à estratégia de blending, gerou um prêmio adicional de US$ 3 por tonelada — o equivalente a cerca de US$ 500 milhões anuais de Ebitda.
Cobre e níquel
Na divisão de metais básicos, a Vale Base Metals (VBM) atravessa, nas palavras do CEO Shaun Usmar, uma reestruturação sem precedentes. Em 14 meses no comando, o executivo afirma ter substituído um modelo altamente centralizado por uma estrutura com menos camadas de gestão e mais autonomia para decidir onde alocar capital.
O cobre é o principal motor de crescimento. A Vale projeta sair das atuais 370 mil toneladas por ano para algo entre 420 mil e 500 mil toneladas em cinco anos, alcançando 700 mil toneladas em 2035. A vantagem, segundo a companhia, é que boa parte desse avanço vem de projetos brownfield — expansões de minas e plantas já existentes —, o que reduz risco de execução e demanda de capital quando comparado a grandes greenfields em novas fronteiras minerais.
A intensificação da exploração reforça essa tese. Em Parauapebas e região, a VBM aumentou o número de sondas de 8 para 23, perfurando mais de 60 mil metros no ano, com plano de ultrapassar 100 mil metros.
No níquel, o discurso é de disciplina. A divisão não pode ser subsidiada, e o foco é atingir sustentabilidade financeira até o fim de 2027, aproveitando a verticalização mina–refino sem perder de vista a rentabilidade em um mercado ainda pressionado pelo excesso de oferta. Dos cerca de US$ 400 milhões em ganhos de caixa da VBM, US$ 240 milhões já vêm do níquel — resultado de cortes de despesas, redução de custos e revisão de investimentos.
Questionado sobre uma possível consolidação maior no Canadá, Usmar afirmou que, por ora, o foco está na parceria anunciada com a Glencore em Sudbury, que compartilha uma infraestrutura de poços considerada referência no cinturão e mineralizações complementares. A ideia é usar esse modelo como piloto para futuras cooperações, mas não há discussão avançada sobre uma combinação integral dos ativos canadenses.
Quanto à estrutura de capital da VBM, o CEO da Vale, Gustavo Pimenta, foi direto: um IPO “pode ser um caminho, mas não é objetivo”. A separação societária foi feita para ampliar as opções de financiamento da unidade, e não como preparação imediata para uma abertura de capital.
Por enquanto, a Vale quer manter exposição ao negócio — especialmente porque boa parte do crescimento do cobre está em Carajás, onde há sinergias claras com o minério de ferro. O foco, disse ele, é transformar reservas em produção com retornos acima de 20% ao ano.
Custos sob controle
Do lado financeiro, o CFO Marcelo Bacci afirmou que a companhia precisa equilibrar as ambições de crescimento com disciplina de gastos. Ele lembrou que entre 60% e 70% da estrutura de custos da Vale é fixa — o que torna essencial diluir essas despesas com mais volume e, ao mesmo tempo, atacá-las diretamente.
Nos últimos anos, a mineradora reduziu o gasto fixo anual de US$ 6,3 bilhões para US$ 5,8 bilhões, com plano de chegar a US$ 5,7 bilhões em 2026. No minério de ferro, o custo C1 deve fechar 2024 em cerca de US$ 21,3 por tonelada (ante US$ 22,3 em 2023). Para 2025, a orientação é de US$ 20 a US$ 21,5, com o objetivo declarado de aproximar-se de US$ 20.
O all-in cost do minério deve ficar em torno de US$ 55 por tonelada este ano, com guidance entre US$ 52 e US$ 56 para 2025. No cobre, o custo total está próximo de US$ 1.000 por tonelada, beneficiado por subprodutos como ouro.
No níquel, a Vale projeta encerrar o ano em torno de US$ 13 mil por tonelada, com meta de US$ 12 mil a US$ 13,5 mil em 2025. Somando o capex de manutenção, o custo total sobe para US$ 15 mil a US$ 16 mil por tonelada. A meta é terminar o próximo ano com a operação de níquel gerando caixa neutro nos níveis de preço atuais.
Investimentos e dividendos
Bacci afirmou que a Vale seguirá controlando seus investimentos nos próximos anos. A expectativa é que o capex de 2025 fique em US$ 5,5 bilhões, quase US$ 1 bilhão abaixo das estimativas iniciais. Para 2026, os aportes devem ficar entre US$ 5,4 bilhões e US$ 5,7 bilhões, com a meta de manter o capex abaixo de US$ 6 bilhões por ano até o fim da década.
Entre as grandes mineradoras globais, esse é um dos menores níveis de investimento para o volume de projetos em carteira, segundo o Itaú BBA.
Uma parte relevante da folga de caixa virá da queda gradual dos desembolsos ligados a Brumadinho, Samarco e ao descomissionamento de barragens. Em 2024, esses pagamentos somam US$ 4,2 bilhões; em 2025, devem cair para US$ 2,6 bilhões; em 2026, para US$ 1,9 bilhão. Depois disso, a curva tende a convergir para algo próximo — ou abaixo — de US$ 1 bilhão por ano.
Com essa redução, a companhia ganha flexibilidade para manter a dívida líquida expandida entre US$ 10 bilhões e US$ 20 bilhões. Bacci reforçou que, sempre que a empresa estiver abaixo — ou caminhando para abaixo — de US$ 15 bilhões, haverá espaço para distribuir mais caixa aos acionistas. A política pode ser revisada a partir do fim de 2027, quando os desembolsos relacionados a acordos diminuem de forma relevante.
No curto prazo, a preferência tem sido por dividendos. A Vale anunciou US$ 1 bilhão adicionais para o início de 2026, antecipando a mudança na tributação de proventos no Brasil. Mais adiante, a empresa fala em buscar um equilíbrio maior entre dividendos e recompras, dependendo do preço da ação e do nível de alavancagem.