A economia chinesa mais fraca e os preços de minério de ferro em baixa derrubaram as ações da Vale e deixaram os investidores cautelosos com as incertezas que assolam um dos maiores fornecedores mundiais do ingrediente siderúrgico.

A crise persistente no setor imobiliário da China e seus impactos no minério de ferro — que responde por cerca de 80% da receita da Vale — fizeram os investidores cortar as alocações na empresa brasileira no ano passado. Isso levou as ações da Vale ao seu nível mais baixo desde 2020, eliminando mais de R$ 100 bilhões em valor de mercado em 2024.

O declínio continuou este ano, fazendo com que a mineradora sediada no Rio de Janeiro perdesse sua posição como a terceira maior empresa da bolsa.

“Acho que tem um pouco de medo de você comprar Vale, mas aí a China dá uma piorada e você perde dinheiro”, disse Florian Bartunek, sócio-fundador e CIO da Constellation Asset Management. “Então as pessoas estão um pouco com pé atrás.” 

A crise da Vale continua mesmo depois da resolução de muitos problemas que azedaram o sentimento dos investidores, incluindo uma sucessão confusa que, no final, viu o diretor financeiro Gustavo Pimenta assumir o cargo de presidente. A Vale também chegou a um acordo pelo desastre na barragem da Samarco em 2015 e renegociou um aerto com o governo para acesso ferroviário às suas principais minas no ano passado.

“Infelizmente, agora que a empresa consertou as coisas, todos estão preocupados com a China novamente”, disse Josh Rubin, gestor na Thornburg Investment Management.

Cerca de metade da receita da Vale vem da China. A empresa embarcou 185,5 milhões de toneladas métricas de minério de ferro para o país asiático em 2023, quase 60% da produção anual da Vale.

A desaceleração da economia chinesa prejudicou o mercado imobiliário e a construção, reduzindo a demanda por minério de ferro justamente quando as grandes mineradoras estão aumentando a oferta global. O preço do ingrediente siderúrgico caiu mais de 25% no ano passado, fechando dezembro em cerca de US$ 100 a tonelada métrica.

A esse preço, os dividendos e recompras de ações da Vale podem cair pela metade para US$ 2,1 bilhões este ano e o fluxo de caixa operacional encolheria para o menor nível desde 2016, de acordo com a Bloomberg Intelligence.

Os preços do minério de ferro se recuperaram um pouco em janeiro com as expectativas de mais estímulos de Pequim, mas a China está mudando seu foco para um crescimento e consumo mais verdes e de alta tecnologia — diminuindo a importância do aço para sua economia.

“O cenário de geração de caixa da Vale é um pouco pior do que os pares”, disse Humberto Meireles, sócio e integrante da equipe de gestão de ações da Vinland Capital, acrescentando que há incertezas “sobre o quão efetivo vai ser o governo chinês em reativar a demanda doméstica”.

As ações da Vale em Nova York foram negociadas a cerca de 4,6 vezes os lucros estimados, em comparação com uma proporção de 11 vezes para o BHP Group e 9,1 vezes para a Rio Tinto. Ambas as empresas têm um portfólio mais diversificado, com a perspectiva de enfraquecimento da demanda por minério de ferro levando-as a investir fortemente em cobre e lítio.

A Vale está mudando a estratégia sob seu novo CEO, vendendo diferentes tipos de minério de ferro para atrair mais clientes e desenvolvendo projetos em países como a Arábia Saudita para diversificar. A produtora de metais também busca aumentar a produção de cobre e níquel no Canadá, Brasil e Indonésia.

A empresa perdeu na última quinta-feira sua posição como a terceira maior empresa de capital aberto da bolsa em valor de mercado para a Weg, fabricante global de equipamentos elétricos e industriais. As ações da Weg saltaram 72% nos últimos 12 meses, enquanto as ações da Vale caíram 24%.

A Vale não quis comentar.

Os investidores não estão sinalizando confiança na recuperação das ações da Vale no curto prazo. Os papéis estenderam o declínio do ano passado, caindo 2,3% desde o início de janeiro. No início do mês, o conglomerado Cosan, do bilionário Rubens Ometto, se desfez de uma participação de 4,1% na Vale com prejuízo — o valor de seu investimento caiu 34% desde que a empresa comprou as ações em 2022.

Ainda assim, alguns veem uma oportunidade de compra: o analista do JPMorgan Chase Rodolfo Angele reiterou uma visão positiva para a Vale em nota de 17 de janeiro, observando que a empresa está gerando fluxo de caixa livre sólido e está bem posicionada para um real mais fraco.

“Essa grande desconexão é uma oportunidade para os investidores”, escreveu.