No apagar das luzes da semana passada, a Vale (VALE3) chegou a uma solução sobre a sucessão no cargo de presidente. A decisão de estender até dezembro o mandato do atual CEO, Eduardo Bartolomeu, que encerrava em maio, desfaz o nó no ‘cabo de guerra’ entre o governo Lula e a mineradora em torno da questão.
Mas isso não significa que as pressões políticas vindas do Palácio do Planalto em relação a quem irá comandar a empresa acabaram. Ao contrário. Uma vez definido que Bartolomeo se mantém no cargo de CEO até o fim deste ano, começa uma nova etapa: o processo de sucessão para escolher o próximo executivo-chefe que assumirá em janeiro de 2025.
Na lista dos possíveis candidatos, estão Sergio Rial, ex-Santander e também quem revelou o rombo contábil na Americanas dias após assumir o comando da varejista; Walter Schalka, da Suzano; e Gustavo Pimenta, atual diretor financeiro (CFO) da Vale. Na avaliação do mercado financeiro, essa lista afasta as tentativas do governo de influenciar na escolha.
“Com o movimento, o Conselho de Administração da Vale busca evitar narrativas de influência política”
Ygor Araújo, analista da Genial Investimentos, em relatório
Isso porque os conselheiros discutiram em detalhes as características que o novo CEO precisará ter. Entre elas, o nome indicado não pode ser ligado aos atuais acionistas. Assim, ficam descartadas, as tentativas do governo de emplacar o ex-ministro Guido Mantega, bem como a do Previ de apoiar Paulo Cafarelli (ex-Banco do Brasil e Cielo).
Apesar dessa e outras restrições impostas, relatos na imprensa nacional dão conta de que o perfil do futuro presidente terá de ser um executivo que transite bem entre as áreas de mineração e os corredores de Brasília. Além disso, a Vale também avança em projetos sustentáveis, de olho na transição energética e na descarbonização da indústria.
Em relatório recente, analistas do BB Investimentos lembram que isso requer a oferta cada vez maior de produtos premium, o que lança desafios, em termos de custos. No entanto, Mary Silva e Victor Penna avaliam que a Vale está bem preparada, o que deve contribuir com a entrega de melhores resultados financeiros e também na geração de valor dos produtos.
Próximos passos
Com isso, começa agora a contratação de uma empresa “headhunter” que será responsável pela seleção de executivos. A lista com os nomes dos candidatos pode até ser mais ampla, no começo, mas, aos poucos, vai sendo afunilada até chegar a, no máximo, três. Nesta lista tríplice, deve estar o futuro presidente da Vale.
Por enquanto, o novo CEO da mineradora é o próprio Bartolomeo, ironiza o analista da Genial Investimentos. Para ele, a decisão de renovar o mandato do atual presidente é “parcialmente negativa”, pois o prazo tão curto implica em dizer que a discussão em torno do nome definitivo para assumir de 2025 em diante ainda continua nos próximos meses.
“A decisão de estender o mandato do Bartolomeo até dezembro não remove incertezas e continua a abrir caminho para que o governo pressione por algum nome alinhado aos seus interesses”
Ygor Araújo, analista da Genial Investimentos, em comentário
A reunião do Conselho da Vale que decidiu pela extensão do mandato de Bartolomeo durou até a noite de sexta-feira (8) e contou com dois votos contrários (José Penido e Paulo Hartung), do total de 13 conselheiros. Segundo a Vale, Bartolomeo acompanhará o processo de sucessão, e servirá de consultor em um período de transição no ano que vem.
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