Cerca de dez anos e meio após ter se despedido da B3, em maio de 2013, a Amil desta vez se prepara para ser vendida nos próximos dias. A informação foi divulgada no domingo (17) pelo colunista Lauro Jardim, d’O Globo, e circula na imprensa e no mercado financeiro nesta segunda-feira (18).
Um mês antes, o jornalista havia informado que o BTG Pactual, que coordena o processo de venda, havia ampliado o prazo para 2024. Porém, ao que tudo indica, o anúncio da conclusão da operação deve ser feito em breve, cerca de três meses após a dona da Amil, a americana UnitedHealth Group (UHG), pôr à venda a operadora e a rede de hospitais.
Os ativos da Amil são avaliados em R$ 10 bilhões, com faturamento anual de R$ 27 bilhões. A expectativa é de que o negócio movimente algo em torno de R$ 1,5 bilhão, em uma operação com a participação da própria UHG, que deve financiar parte da transação. A Amil possui cerca de 5,5 milhões de usuários entre planos de saúde e dental, 30 hospitais e centros médicos, cada.
Na disputa, estão o fundo americano Bain Capital; o antigo fundador da Qualicorp, José Seripieri Filho; o empresário e investidor Nelson Tanure, além da família de Edson Bueno de Godoy, fundador da Amil. Portanto, nenhuma das rivais da Amil no Brasil está entre os cotados para assumir os ativos que a UHG pretende se desfazer no país.
Até porque a situação financeira das concorrentes brasileiras não é propícia para uma aquisição desse porte. Talvez, por isso, a troca de controle não deve ser vista como uma ameaça para as demais empresas do setor, como Rede D’Or (RDOR3), Qualicorp (QUAL3) e Hapvida (HAPV3), na visão de especialistas.
“Dado o tamanho e perfil da Amil, a aquisição da empresa por algum dos outros players é improvável”.
Fernando Siqueira, analista da Guide Investimentos
A Hapvida, por exemplo, anunciou nesta segunda-feira (18), a emissão de R$ 1 bilhão em debêntures para reestruturar as dívidas da empresa. Os títulos têm prazo de sete anos e remuneração equivalente a DI mais 1,75% ao ano.
Dados de outubro da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) mostram que a Hapvida perdeu 40,7 mil beneficiários no mês, enquanto a Sulamérica (SULA11) perdeu 6,5 mil beneficiários.
Por sua vez, a Amil recebeu 5,7 mil beneficiários com planos de saúde e 4,8 mil novas contas nos planos odontológicos no mesmo mês, no oitavo mês seguido de aumento. Já a Bradesco Saúde adicionou 12,8 mil beneficiários, no terceiro mês consecutivo de alta.
“Os números mostram a resiliência do mercado de saúde, mesmo com aumento de preços implementados neste ano, ainda que isso signifique queda no volume de beneficiários no curto prazo, devido ao foco em rentabilidade”, comenta o analista da Ajax Asset, Rafael Passos.
ANS pode barrar negócio
Porém, a estratégia agressiva de preços da Amil reflete as dificuldades de operação no Brasil que a operadora vem enfrentando, devido à carteira dos planos individuais. Dados da ANS mostram que o número de reclamações de clientes da operadora cresceu quase 50% entre 2019 e 2021.
Para se ter uma ideia, esse aumento no número de reclamações contra a Amil na ANS nos últimos três anos, passando de quase 20 mil para cerca de 30 mil, supera a alta de 40% no total de queixas contra planos de saúde como um todo no mesmo período. Por isso, o órgão regulador deve estar atento ao eventual anúncio de venda da empresa de plano de saúde.
O motivo seria o fato de uma grande empresa de saúde seguir nas mãos de investidores estrangeiros, sendo gerida por uma lógica financeira e de curto prazo. Com isso, um dos principais pontos a ser considerado pela ANS é a preservação da assistência médica de qualidade e acesso aos serviços, em especial na saúde suplementar brasileira.
Vale lembrar que a ANS já demonstrou preocupação com transações semelhantes no passado, envolvendo a própria Amil, ao vetar a transferência do controle de operações de saúde para a Fiord Capital, alegando que a empresa financeira de Nikola Lukic possuía pouca experiência no setor. O episódio ocorreu em 2022.
O receio da ANS era o de que a transação resolvesse os problemas da UHG no Brasil e deixasse os clientes dos planos de saúde individuais desatendidos, afetando especialmente a classe média. Por isso, até por não ser para rivais brasileiros do setor, a venda estará sujeita a um escrutínio rigoroso, seja quem for o vencedor.
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