O desempenho foi impulsionado pela venda da operação no Marrocos – anunciada em setembro do ano passado e que foi contabilizada neste trimestre, adicionando R$ 866 milhões ao resultado – e por efeitos positivos na linha de impostos.
A receita líquida global somou R$ 7,5 bilhões no trimestre, alta de 5% na comparação com um ano antes, puxada por maiores volumes e preços em praticamente todas as regiões onde a companhia atua. O lucro operacional (Ebitda) ajustado cresceu 5% em moeda local, para R$ 1,8 bilhão, com margem de 24%, um ponto percentual acima de 2024. Já o volume de vendas de cimento totalizou 9,3 milhões de toneladas, aumento de 3% no período.
No Brasil, principal mercado da companhia e onde a Votorantim é líder, a receita cresceu 8% no trimestre, acompanhando o avanço moderado das vendas de cimento no país. Mesmo com o desempenho doméstico positivo, a empresa segue com desafio para repassar preços e projeta desaceleração na América do Norte para o decorrer do ano.
Apesar de o segundo semestre ser tradicionalmente mais forte para o setor, a previsão é de queda no consumo de cimento nos Estados Unidos e, de forma ainda mais intensa, no Canadá, pressionando as margens em um momento de alta competitividade.
“Mesmo com a sazonalidade favorável, a previsão é de demanda mais fraca na América do Norte neste ano. É preciso cautela”, disse o CEO Osvaldo Ayres, em conversa com o InvestNews.
Repasse preços
No mercado doméstico, a Votorantim Cimentos tem buscado repasse de inflação no reajuste de preços. A empresa já implementou reajustes de preços no segundo trimestre e, para o atual trimestre, já fez novo anúncio para repassar os aumentos de custos.
Por outro lado, a demanda segue como fator positivo. De janeiro a julho, as compras de cimentos no país cresceram 3,7%, de acordo com o Sindicato Nacional da Indústria do Cimento (SNIC). “A tendência do mercado brasileiro segue positiva. Estamos alinhados com o SNIC, que prevê crescimento de 2,1% no mercado de cimento para este ano”, acrescentou Ayres.
América do Norte
Nos EUA, maior mercado internacional da Votorantim Cimentos, a expectativa é de queda de quase 4% no consumo de cimento em 2025, segundo dados setoriais. O segmento não residencial – construção comercial e industrial – deve liderar a retração, impactado por juros altos e incertezas econômicas.
No Canadá, o cenário é ainda mais desafiador. “O mercado canadense tende a cair ainda mais que o americano”, completou Ayres.
Embora a empresa não tenha sofrido impacto direto das discussões tarifárias entre Canadá, onde a companhia possui planta, e os Estados Unidos, a incerteza contribui para reduzir o ritmo de investimentos em infraestrutura americana.
Caixa cresce
A Votorantim Cimentos encerrou junho com R$ 5,2 bilhões em caixa e alavancagem de 1,78 vez a geração anual de caixa — patamar considerado confortável para empresas de capital intensivo, com o endividamento líquido em R$ 11,8 bilhões.
No mercado de dívidas, a empresa aproveitou o trimestre para alongar o prazo de endividamento, com a emissão de R$ 1 bilhão em debêntures e a contratação de um financiamento junto a um organismo multilateral não divulgado.
“São movimentos oportunísticos que nos garantem manter a flexibilidade de caixa”, disse Leonardo Luna, gerente geral de Tesouraria e Relações com Investidores. O prazo médio da dívida da Votorantim Cimentos agora está em sete anos.
Investimentos
Apesar das incertezas de curto prazo, a Votorantim Cimentos anunciou na semana passada que vai investir R$ 330 milhões para ampliar e modernizar as unidades de Nobres e Cuiabá, ambas em Mato Grosso.
Em Nobres, a capacidade de produção de cimento crescerá 60%. Já Cuiabá receberá uma planta inédita para trituração de pneus usados, que serão aproveitados como combustível alternativo nos fornos, reduzindo a dependência de coque de petróleo.
O investimento, explica o CFO Antonio Pelicano, integra o plano de R$ 5 bilhões até 2028, dos quais R$ 2,3 bilhões já estão comprometidos em projetos como a modernização da fábrica de Salto de Pirapora (SP) e a construção de um parque solar próprio.