Só nos quatro primeiros meses de 2025, as contratações do serviço cresceram 14%, com destaque para o salto de 9,5% nas viagens nacionais na comparação com o mesmo período do ano passado, apontam números mais atualizados da CNseg (Confederação Nacional das Seguradoras).
Ainda assim, muita gente embarca achando que seguro-viagem é igual a plano de saúde — e só descobre a diferença quando o perrengue bate à porta. Escolher o seguro certo pode ser a diferença entre voltar com boas histórias ou com um problemão na mala.
A diferença é a seguinte: plano de saúde oferece cobertura contínua, preventiva e eletiva, válida no país de contratação. Já o seguro-viagem é temporário, focado em situações de urgência e emergência durante a viagem, e cobre desde despesas médicas inesperadas até extravio de bagagem, cancelamento de voos e repatriação médica e funerária. Ele não substitui o atendimento regular e preventivo do plano de saúde.
LEIA MAIS: Como montar um roteiro de viagem?
“Grande parte das confusões vem dessa ideia de que o seguro-viagem é igual ao plano de saúde. Não é. O seguro-viagem existe para tirar o segurado de um problema crítico de urgência ou emergência durante a viagem, não para cobrir consultas eletivas ou tratamentos preventivos”, explica Gabriel Nascimento, gerente de Produtos e Inovação para a América Latina da Allianz Partners.
A principal motivação para contratação do seguro-viagem é a garantia do suporte médico e hospitalar em caso de imprevistos. A cobertura hospitalar e odontológica é obrigatória para viagens internacionais e recomendada nos deslocamentos nacionais.
Outra diferença que precisa ser considerada é o seguro-viagem contratado em cartão de crédito e o ofertado pelas seguradoras. A prestação do serviço atrelado ao cartão de crédito opera exclusivamente pelo sistema de reembolso: o viajante precisa arcar com as despesas médicas ou emergenciais no exterior e, só depois, solicitar o ressarcimento mediante apresentação de comprovantes.
Já o seguro-viagem contratado diretamente com uma seguradora oferece mais flexibilidade, permitindo tanto o atendimento por reembolso quanto o acesso a uma rede própria de prestadores, onde o segurado pode ser atendido sem desembolsar valores no momento do incidente.
Essa diferença impacta diretamente o planejamento financeiro e a tranquilidade durante a viagem, sendo fundamental considerar essas modalidades na hora de montar o roteiro e fechar o pacote, especialmente para destinos onde custos médicos são elevados, como nos Estados Unidos, ou o acesso aos serviços pode ser mais complexo.
O que você tem direito?
Existe um pacote de coberturas que o seguro-viagem precisa fornecer a quem o contrata. Veja:
- Cobertura obrigatória: Para viagens internacionais, a cobertura de despesas médicas e odontológicas é exigida por lei. Para viagens nacionais, não é obrigatória, mas altamente recomendada.
- Coberturas adicionais: Cancelamento ou interrupção de viagem, extravio ou dano de bagagem, assistência jurídica, repatriação médica e funerária.
- Preços: Os planos básicos variam de R$ 7 a R$ 15 por dia, dependendo do destino, idade do viajante e duração da viagem. Para destinos como EUA e Europa, a cobertura mínima exigida pode chegar a 30 mil euros ou 60 mil dólares.
- Obrigatoriedade: O seguro-viagem é obrigatório para entrada em mais de 50 países, incluindo todos do Espaço Schengen e, a partir de 2025, para turistas brasileiros na Europa via ETIAS.
Além das coberturas básicas, é possível contratar planos específicos para esportes de aventura, gestantes, idosos, intercambistas e viagens longas, acompanhando a diversificação dos perfis de viajantes brasileiros.
O mercado também oferece benefícios agregados, como aluguel de malas, chip internacional, descontos em aluguel de carro e acesso a salas VIP, tornando o seguro-viagem parte de um ecossistema mais amplo de serviços para o viajante.
LEIA MAIS: O que fazer quando sua mala some no aeroporto?
Caso Juliana Martins: qual relação com seguro-viagem?
A morte recente da brasileira Juliana Martins, de 26 anos, durante uma trilha no Monte Rinjani, na Indonésia, evidenciou a importância de um seguro-viagem adequado para roteiros de aventura. Juliana sofreu uma queda grave e faleceu no local; o resgate do corpo levou 4 dias para ser concluído.
O episódio trágico jogou luz sobre a preparação dos viajantes e a necessidade de proteção específica para atividades de risco. Gabriel Nascimento alerta que, para trilhas, esportes radicais e atividades em áreas de difícil acesso, é fundamental contratar coberturas específicas, que podem incluir:
- Cobertura para acidentes em trilhas e montanhas desde que praticadas de forma amadora e em áreas regulamentadas;
- Assistência médica e resgate, incluindo remoção médica e evacuação aérea em regiões remotas;
- Traslado de corpo e repatriação funerária, cobrindo custos e burocracias internacionais;
- Suporte jurídico e apoio à família em caso de fatalidades;
- Reembolso de despesas emergenciais.
“Pior do que não contratar seguro é contratar sem ler as condições. Para roteiros de risco, é fundamental checar se o seguro cobre o tipo de atividade planejada e quais são os limites e exclusões da apólice [contrato]”, reforça o executivo da Allianz Partners.
Em situações de falecimento durante uma viagem, é fundamental analisar atentamente as cláusulas do contrato de seguro-viagem referentes ao traslado do corpo. Esse procedimento é bastante delicado e envolve uma série de exigências legais e sanitárias: o corpo precisa ser preparado de acordo com normas internacionais, incluindo a utilização de um caixão de zinco lacrado para o transporte aéreo. Todo esse cuidado garante que o corpo chegue ao Brasil em condições adequadas para um funeral digno.
Tendências do setor
O perfil do consumidor de seguro-viagem mudou: além de turistas tradicionais, cresce o número de nômades digitais, intercambistas, famílias em viagens longas (staycation) e adeptos de esportes de aventura. Para esses perfis, é essencial avaliar limites de cobertura compatíveis com o tempo e o destino, já que o risco de incidentes aumenta proporcionalmente.
O setor investe em digitalização, com atendimento via WhatsApp, apps e telemedicina, e em personalização de planos. Há ainda uma preocupação crescente com sustentabilidade, como a locação de malas, tendência que já ganha força em regiões como São Paulo.
Como contratar um seguro-viagem adequado?
- Leia atentamente as condições gerais do contrato: verifique o que está coberto e as exclusões, especialmente para esportes, trilhas e destinos remotos;
- Avalie o atendimento: prefira serviços que ofereçam suporte 24h em português e múltiplos canais de contato (WhatsApp, telefone, app);
- Considere o perfil da viagem: se for praticar esportes de aventura, viagens longas ou intercâmbio, busque planos específicos para essas situações.
- Compare planos e coberturas: não escolha apenas pelo preço. Avalie limites de cobertura, serviços extras (telemedicina, chip internacional, descontos em aluguel de malas) e a rede de prestadores.
- Cheque a obrigatoriedade no destino: para muitos países, o seguro-viagem é requisito de entrada.
- Atenção ao seguro do cartão de crédito: ele costuma operar por reembolso e tem limites menores, podendo não ser suficiente para todas as necessidades;
- Pesquise os custos médicos do destino: isso ajuda a dimensionar o valor da cobertura necessária;
- Observe benefícios agregados: serviços como aluguel de malas, chip internacional e acesso a salas VIP podem fazer diferença na experiência.