O debate sobre a responsabilidade ambiental e social das empresas nunca foi tão relevante quanto agora. No Brasil, assim como em outros países, a crise da covid-19 trouxe à tona a necessidade de apoiar empresas, especialmente as PMEs, em momentos difíceis. Entretanto, precisamos abordar questões importantes: a gestão de curto prazo e as contrapartidas ambientais para empresas que gozam de fomento e contratos com entes públicos.
Você deve lembrar que muitas pequenas e médias empresas passaram por dificuldades durante a pandemia, mas é surpreendente que algumas delas não tenham sido capazes de garantir um fluxo de caixa para sobreviver por apenas três meses ou que grandes corporações, que faturam bilhões por trimestre, tenham implementado lay offs. Isso revela uma gestão voltada apenas para o lucro de curto prazo, com pouca preocupação com a preservação de capital, no das PMEs, e total falta de sensibilidade para a situação de seus colaboradores.
Com a perspectiva de décadas incertas, relacionadas tanto à saúde global quanto às mudanças climáticas, é essencial que as empresas, principalmente as brasileiras, comecem a incorporar práticas de gestão que garantam sua resiliência e condições dignas a seus colaboradores em momentos de crise.
Outra questão fundamental é a imposição de contrapartidas ambientais para empresas que possuam contratos ou recebam apoio de entes públicos, em especial do BNDES. Países como França e Canadá já estão adotando essa abordagem, exigindo melhorias significativas no desempenho ambiental em troca de auxílio financeiro. Por exemplo, na França, o apoio dado à Air France derivou no compromisso em prover melhorias ambientais significativas, tais como: baixar para metade as emissões de CO2 por passageiro até 2030, usar pelo menos 2% de fuel provindo de fontes mais sustentáveis até 2025, reduzir a concorrência com o transporte ferroviário, não podendo mais vender bilhetes a um preço mais barato do que o trem quando a viagem durar menos de 2,5 horas.
No Canadá, as empresas que receberam ajuda estatal são obrigadas a reportar como estão combatendo as alterações climáticas usando as recomendações da Task Force Force on Climate-related Financial Disclosures do Financial Stability Board, sendo também obrigadas a reportar como é que as suas operações futuras irão apoiar os objetivos ambientais e de sustentabilidade do país.
No Brasil, essa abordagem também faz sentido. As empresas que recebem apoio devem ser obrigadas a aumentar sua eficiência energética, aumentar participação de fontes de energia renovável em sua matriz energética, reduzir resíduos e consumo de matérias-primas virgens. Isso pode exigir mais capital, que poderia ser fornecido por bancos de fomento regionais, em parceria com o BNDES, oferecendo empréstimos pacientes, com pagamento vinculado às economias de energia alcançadas.
Essa abordagem demandaria simplificação burocrática e uma mudança cultural, mas teria um impacto positivo significativo nos objetivos ambientais do Brasil e promoveria o desenvolvimento de setores relacionados à eficiência energética e energias renováveis, nos tornando um case de economia Verde.
Além disso, todas as empresas que possuem relações com instituições públicas, independentemente de seu tamanho, deveriam ser obrigadas a relatar seu compromisso com os objetivos ambientais do país, detalhando a porcentagem de suas vendas, despesas operacionais e investimentos que são “verdes”.
O BNDES precisa desempenhar um papel crucial nessa transformação, apoiando empresas na transição para práticas mais sustentáveis e incentivando a responsabilidade corporativa em relação ao meio ambiente e à sociedade. A transparência e a responsabilidade ambiental não são apenas desejáveis, mas também necessárias para um Brasil mais resiliente e sustentável.
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