Rubens Ometto

O 'Rei do Etanol'

Ele já foi chamado de ‘o rei do etanol’ e também de ‘trator’ por seu estilo na lida com os interesses de suas empresas. O próprio Rubens Ometto Silveira Mello, CEO do Grupo Cosan, já disse o seguinte a respeito do seu estilo de gestão assim: “Em quase 40 anos como homem de negócios, fiquei conhecido por meu estilo agressivo ao adquirir usinas que estavam em dificuldades. Também fui chamado de megalômano ou lunático quando resolvi verticalizar os negócios e expandir nossa atuação para as áreas de logística e distribuição. Não me incomodo nem com a fama nem com os comentários.”

É com essas palavras que Ometto abre o prefácio de sua autobiografia “O inconformista: A trajetória e as Reflexões do Empresário que fez da Cosan um dos Maiores Sucessos Corporativos do Brasil”, publicada em 2021. Nela, o empresário revela nunca estar satisfeito com a maneira como as coisas estão e ter desde cedo o tino de querer saber cada detalhe dos seus negócios para pode explorar novas possibilidades. Isso o transformou em um dos mais influentes empresários do país, sem papas na língua ao dizer o que pensa e, se preciso, criticar o governo.

O que é o Grupo Cosan?

O grupo Cosan está entre os 10 maiores do país. Reúne empresas dos setores de energia, agronegócio (área que deu início ao grupo), óleo e gás, logística e mineração. Fatura R$ 40 bilhões ao ano e emprega 55 mil pessoas.

Aos críticos do seu estilo de gestão, Ometto costuma recorrer ao ditado “a pessoa vê as pingas que a gente toma, mas não vê os tombos que a gente leva”. Ele já brigou com primos, irmãos e até com a mãe para fazer prevalecer a sua maneira de administrar.

Mas esse estilo que fez dele o homem que resolveu os problemas dos negócios da família e transformou a indústria de açúcar e álcool no país. Com uma fortuna estimada em US$ 1,9 bilhão (R$ 11 bilhões), Ometto é um dos empresários mais influentes do Brasil.

Como presidente do Conselho de Administração do Grupo Cosan há quase 25 anos, Ometto transformou a empresa do setor sucroalcooleiro que passava por dificuldades em um império diversificado nos setores de energia, logística e infraestrutura.

Origens e formação

Ometto nasceu em Piracicaba, no interior de São Paulo, em 1959, cidade famosa pelo sotaque “caipira” de sua população, com o marcante erre retroflexo – ao “R puxado”. É filho de Celso Silveira de Mello e de Altina Ometto, de uma família tradicional na produção de cana-de-açúcar  da região de Piracicaba.

Na infância, a casa onde ele morava ficava a 100 metros da chaminé da usina da família, a Costa Pinto. Binho, apelido de Rubens Ometto, estudou em uma escola rural e em um colégio católico. Aprovado no curso de engenharia de produção da Escola Politécnica da USP, foi morar em São Paulo e logo entrou para o mundo corporativo. Fez pós-graduação em Finanças pela Unimep (Universidade Metodista de Piracicaba) e MBA pela FGV com programa de extensão pela Ohio University. Entrou no Unibanco em 1971 como estagiário e em pouco tempo se tornou assessor da diretoria.

Votorantim e TAM

Conheceu Mônica, com quem se casou e, por meio do sogro, Guilherme Mellão, foi apresentado a José Ermírio de Moraes, presidente do Grupo Votorantim. Encantado pela obstinação do jovem Binho Ometto pelos negócios, Ermírio levou o executivo, então com 24 anos, para trabalhar na Votorantim como diretor financeiro.

Orlando Ometto, tio de Rubens, convidou o sobrinho para administrar a empresa aérea TAM, hoje integrante da Latam Airlines, da qual era sócio majoritário. Orlando estava doente e precisou que Rubens comandasse os negócios e demitisse um dos principais executivos, o ex-piloto Rolim Amaro. O jovem empresário viu que seria um erro para a empresa e manteve Rolim Amaro no cargo. Não só isso: anos depois, Orlando saiu da Tam e Rubens permitiu que Rolim assumisse o controle da TAM.

Fundação da Cosan

A trajetória de Ometto na Cosan começou em 1986, quando ingressou no negócio da família. O empresário tinha 36 anos e logo assumiu a presidência do Conselho de Administração. A empresa enfrentava sérias dificuldades financeiras. Rubens administrava duas usinas, a Costa Ribeiro e a Santa Bárbara. Os primos cuidavam da principal, a Duas Barras. Depois de várias batalhas jurídicas, Ometto “passou o trator” nos parentes – primos, irmãos é até na mãe – e assumiu o controle total da Cosan.

“Quando assumi, éramos um conjunto de usinas familiares de cana-de-açúcar no interior do estado de São Paulo. Como em tantas outras empresas naquela época, a administração ficava por conta de membros da família, que nem sempre estavam preparados para a tarefa”
– Rubens Ometto, em sua autobiografia

Sob sua liderança, a empresa se tornou a maior produtora brasileira de açúcar e etanol. A visão estratégica de Ometto e sua capacidade de gestão foram fundamentais para a reestruturação da companhia. Um marco significativo foi a abertura de capital da Cosan na B3 (Bolsa de Valores), em 2005.

“Tenho orgulho de ter contribuído para a profissionalização do setor de açúcar e álcool no Brasil. E arrisco dizer que, se não fosse esse movimento, talvez estivéssemos acabado como muitas usinas que a Cosan comprou, [na época] endividadas por má administração e desgastadas por disputas entre herdeiros.”

Ometto diz que se encontra algo que não concorda, faz o que está ao seu alcance para promover mudanças, mas com a paciência de esperar o momento certo para cada coisa acontecer. “Essas características me ajudaram a transformar a Cosan no que ela é.

Expansão

Em 2007, Ometto criou uma estrutura corporativa que garante que as ações que ele detém valham 10 vezes mais, em poder de voto, do que o papel comum. Para isso, listou uma holding, a Cosan Limited, na Bolsa de Valores de Nova York.

Em 2008, Ometto fez uma joint-venture entre a Cosan e a Shell e comprou todos os postos da Esso no Brasil, acabando com a marca Esso no mercado brasileiro e colocando no lugar a bandeira Shell. Em 2019, a Raízen se juntou à Femsa, fabricante da Coca-Cola no Brasil, e trouxe para o Brasil a rede de lojas de conveniência Oxxo, de origem mexicana.

O grupo Cosan hoje é formado por:

• Raízen, uma das maiores distribuidoras de combustíveis do país e maior exportadora individual de açúcar de cana e etanol no mercado internacional;
• Compass Gás e Energia, empresa de geração, comercialização e distribuição de gás natural;
• Moove, que atua no setor de produção e distribuição de lubrificantes;
• Radar, que atua com gestão de propriedades agrícolas, compreendendo cerca de 320 mil hectares estrategicamente posicionados em sete estados brasileiros;
• Rumo, maior operadora logística com base ferroviária independente da América Latina.

Negócio frustrado com a Vale

A Cosan investiu, em outubro de 2022, cerca de R$ 18,5 bilhões em uma operação estruturada no mercado de capitais para assumir 4,9% da Vale, com opção de chegar a 6,5%. O negócio tinha um claro objetivo: participar das discussões sobre a sucessão no comando da empresa prevista para meados de 2024. E, dessa forma, influenciar decisões futuras da gigante da mineração. Ometto, no entanto, não conseguiu emplacar o executivo que queria para o cargo de CEO da Vale e fez duras críticas ao governo Lula. Na ocasião, Lula e Ometto estiveram em lados opostos, já que o governo também queria influenciar a escolha do CEO da mineradora.

O negócio frustrado virou uma grande dívida para o Grupo Cosan. No terceiro trimestre de 2024, a dívida líquida do grupo Cosan aumentou 59% em relação ao mesmo período de 2023, atingindo R$ 59,7 bilhões. A alavancagem – indicador que mede a relação entre dívida líquida e lucro operacional (Ebitda) – subiu de 1,7 para 2,9 vezes no período. Em janeiro de 2025, a empresa vendeu toda a sua participação na mineradora, arrecadando R$ 9,1 bilhões. Com a operação, a dívida corporativa da Cosan, aquela que não considera a de suas subsidiárias, cairá de R$ 23 bilhões para R$ 14 bilhões.

Embora a dívida feita pela Cosan para comprar a Vale marque o momento negativo vivido pela Cosan, boa parte da dívida do grupo hoje está concentrada na Raízen. Em um ano, o endividamento líquido da Raízen cresceu 19,5%, para R$ 35,9 bilhões, sendo que a maior parte (R$ 32,5 bilhões) está atrelada ao dólar – um problema a mais para a Raízen, já que o real perdeu força frente à divisa americana no último ano.

Esporte e tragédia familiar

O esporte sempre esteve presente na vida de Rubens Ometto. Ele jogou futebol desde menino até os 30 anos e começou a praticar tênis aos 12 anos. A bolinha e a raquete o ajudaram a ter concentração, controle da mente, paciência e foco. O esporte tem um papel importante na vida de Ometto: ele é conhecido pela preocupação com a saúde, principalmente depois que seu pai morreu vítima de um infarto.

Hermínio Ometto, bisavô de Rubens, foi um importante político e empresário do ramo de açúcar na região de Piracicaba. Em 1953, fundou a Sociedade Esportiva e Recreativa Usina São João, que mais tarde se transformaria no União São João Esporte Clube, de Araras, time que revelou ao futebol brasileiro o lateral-esquerdo Roberto Carlos e cujo estádio leva o nome de seu patrono.

O irmão de Rubens, Celso Silveira de Mello Filho, foi presidente do Esporte Clube XV de Novembro de Piracicaba em meados dos anos 1980.

No dia 14 de setembro de 2021, Celso Silva de Mello Filho morreu vítima de um acidente com um avião modelo King Air B200, ano 2019, prefixo PS-CSM, em Piracicaba. Além do empresário, que era acionista da Raízen, morreram a mulher dele, os três filhos do casal, o piloto e copiloto da aeronave.