O formato, adotado por diversas empresas de tecnologia da China na última década, agora começa a se espalhar por startups de inteligência artificial em outros países, inclusive no Ocidente.
De acordo com reportagem da Forbes, o ressurgimento do modelo se dá no embalo da pressão por entregas aceleradas e do clima de urgência em torno do desenvolvimento de soluções com inteligência artificial. Assim, com investidores exigindo resultados rápidos e equipes reduzidas, algumas empresas entendem que a carga horária pesada pode ser uma resposta pragmática para atender as demandas do setor, que só aumentam.
A inspiração vem de nomes influentes do mercado asiático, como Jack Ma, fundador do Alibaba. O bilionário já chegou a afirmar que trabalhar neste ritmo é um “grande privilégio”.
No entanto, a prática também ecoa entre executivos do Vale do Silício. Elon Musk, da Tesla e SpaceX, é conhecido por manter rotinas de até 120 horas semanais. Marissa Mayer, ex-Google e Yahoo, declarou que já teve semanas de 130 horas. Tim Cook, da Apple, responde e-mails por volta das 4h30 da manhã. Puxado!
Em entrevista a Wired, Adrian Kinnersley, que administra uma empresa de recrutamento e seleção, declarou ter ficado surpreso com a quantidade de startups que estão apostando tudo na escala “9x9x6”. “Está se tornando cada vez mais comum. Temos vários clientes para os quais um pré-requisito para a triagem de candidatos antes de irem para uma entrevista é se eles estão preparados para trabalhar no 9x9x6”, revelou ele.
Corrida da IA pode colocar saúde em risco
O que, de um lado, pode parecer uma dedicação admirável, do outro, esconde riscos sérios à saúde. A Organização Mundial da Saúde estima que mais de 745 mil pessoas morrem por ano em decorrência de jornadas excessivas. No Japão, esse fenômeno é conhecido como karoshi, ou “morte por excesso de trabalho”.
A disseminação do modelo “9x9x6” também encontra resistência, especialmente entre os mais jovens. Na China, trabalhadores começaram a popularizar o termo “tang ping”, que significa “deitar e relaxar”. É uma forma de protesto contra a exaustão. O movimento simboliza uma rejeição ao culto da produtividade sem limites e defende uma vida profissional mais equilibrada.
Esse espírito contrário às excessivas jornadas também se manifesta na Geração Z, que tem adotado uma postura mais crítica em relação ao trabalho. Para esses jovens, o equilíbrio entre vida pessoal e carreira não é um luxo, mas um requisito. Ou seja, eles priorizam empresas que oferecem modelos flexíveis, saúde mental, culturas colaborativas e propósito claro.
Escala 4×3
Enquanto o modelo “9‑9‑6” ganha adptos em meio à corrida da IA, uma alternativa engatinha no Brasil como um contraponto promissor. A empresária e mestre de torra Isabela Raposeiras, à frente da premiada cafeteria-laboratório Coffee Lab, em São Paulo, anunciou recentemente a adoção da escala 4×3 (quatro dias trabalhados e três de descanso) para sua equipe de atendimento. A decisão, afirmou Raposeiras, “é uma alegria sem fim”: permitir três folgas por semana é, nas suas palavras, “indescritível”.
“Nosso setor é exaustivo, com jornadas longas e repetitivas. O 4×3 é uma forma de buscar equilíbrio humano e operacional”, afirmou ela. A empresária destacou ainda que a carga horária semanal será mantida por meio de jornadas mais longas – 10 horas diárias – durante os quatro dias de trabalho.
A medida segue tendência já testada por grandes empresas de tecnologia e consultorias., rapidamente ganhou repercussão nas redes sociais e dividiu opiniões entre empresários e trabalhadores do setor de serviços. Ficou curioso? Leia mais sobre a escala 4×3.