Os investimentos feitos em inteligência artificial pelas grandes empresas de tecnologia parecem não ter fim. O mar de dinheiro aplicado pelas big techs – principalmente Microsoft, Meta, Apple e Google – gerou uma onda que continua a multiplicar produtos e aplicações de IA que agora precisam encontrar e fidelizar consumidores ainda atônitos com as possibilidades trazidas pela nova tecnologia.
Nas últimas semanas, notícias sobre desenvolvimentos de IA da Meta, da Apple e da OpenAI mostraram que as big techs ainda vão ter de se esforçar bastante para convencer os consumidores, dada a profusão de produtos.
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Na terça-feira (30), a Meta apresentou seu AI Studio, primeira grande aplicação de inteligência artificial no popularíssimo Instagram. A ideia é usar o Llama – modelo de linguagem desenvolvido pela empresa de Mark Zuckerberg – para criar “personas virtuais”, que funcionem como extensão dos criadores de conteúdo e sejam capazes de interagir com os seguidores como se fossem os próprios influenciadores.
A Meta vê o AI Studio como a primeira etapa para uma transformação do Instagram e das suas outras redes sociais – a companhia também é dona do Facebook e do WhatsApp. Zuckerberg acredita que num futuro breve boa parte do conteúdo consumido nas redes seja criado com a ferramenta, cujas funcionalidades devem se multiplicar com o tempo.
Ele também aposta alto no Ray-Ban Meta Smart Glasses, óculos com inteligência artificial e que têm embutidos microfone, câmera e alto-falantes – e podem ser controlados por discretos toques nas hastes. Com eles, é possível fazer ligações, ouvir músicas, filmar e fotografar, além de interagir por meio de comandos de voz.
Zuckerberg projeta que o gadget vai alcançar “centenas de milhões de pessoas” – dispostas a pagar US$ 300 pelos óculos inteligentes.
Muitos outros bilhões serão investidos pela Meta. Só em 2024, a empresa prevê algo entre US$ 37 bi e US$ 40 bi. A companhia ainda estuda comprar uma fatia de 5% da gigante EssilorLuxxotica, dona da Ray-Ban e de outras marcas de óculos. Dentre as gigantes do Vale do Silício, a Meta é quem mais está investindo, proporcionalmente falando: são 25% da receita estimada para o ano, enquanto Microsoft, Amazon e Alphabet (a dona do Google) devem ficar na faixa entre 10% a 20%.
A OpenAI, criadora do ChatGPT, também está expandindo seu portfólio. A empresa anunciou seu buscador, o SearchGPT, demonstrando que quer mesmo competir com o Google. Alimentado pelo GPT-4, o motor de buscas da OpenAI ainda está na versão de testes e quer botar toda a capacidade do seu modelo de linguagem para oferecer ao usuário respostas personalizadas e articuladas para todas as buscas imagináveis – nada de uma lista inesgotável de links.
A empresa comandada por Sam Altman também vai liberar nos próximos dias o assistente de voz que impressionou o mundo quando do lançamento do GPT-4o, em maio. Ele vai chegar primeiro aos assinantes do ChatGPT, mas ainda sem a função de “enxergar o mundo” por meio da câmera do celular ou do computador.
Todos os desenvolvimentos da OpenAI são observados bem de perto pela parceira Microsoft. Embora a criadora do Windows não tenha mais assento no conselho da startup, os laços entre as duas são estreitos. O caminhão de dinheiro que a Microsoft despejou na conta da OpenAI – US$ 13 bilhões – permitiu que a empresa fundada por Bill Gates largasse em boa posição na corrida da IA.
Produtos como o Copilot, o Bing e a divisão de computação em nuvem Azure já são impulsionados pelo GPT e fazem parte de um ecossistema que tem ficado com até 70% do que o mundo corporativo tem gasto com inteligência artificial ao longo dos últimos 12 meses, estimam especialistas.
A OpenAI, aliás, nem de longe é a única aposta da Microsoft em inteligência artificial. A companhia já incorporou uma startup inteira, a Inflection AI e segue com os cofres escancarados enquanto investe em várias outras empresas de inteligência artificial. Entre maio e junho deste ano, a Microsoft desembolsou US$ 19 bilhões em investimentos diversos, boa parte dessa quantia destinada a projetos de IA.
A relação da Microsoft com a Inflection AI abriu os olhos de órgãos reguladores do Reino Unido, que temem uma hiper-concentração de mercado quando o assunto é tecnologia e inteligência artificial. Os ingleses também estão investigando a parceria entre o Google e a startup de IA Anthropic.
Outra estrela da tecnologia que está às voltas com o uso de inteligência artificial nos seus produtos é a Apple. O clima de “demorou, mas chegou” com a Apple Intelligence ajudou a maçã a retomar o posto de empresa com maior valor de mercado no mundo, mas as funcionalidades anunciadas com pompa e circunstância em junho vão chegar mais tarde do que de costume aos novos iPhones.
A Apple quer evitar constrangimentos nas aplicações – como os que aconteceram com o Google e o seu Gemini – e entregar aos consumidores uma IA completamente integrada ao iOS 18; que faça jus à fama de que nos aparelhos da Apple tudo “roda liso”. A Apple Intelligence é a grande aposta da empresa para criar um ciclo de substituição nos seus iPhones, que respondem por metade da receita da companhia.
Todo mundo precisa da Nvidia
Trata-se de uma clássica corrida tecnológica. Dá para comparar com a disputa entre Estados Unidos e União Soviética pela tecnologia nuclear no século 20, mas agora os contendores são as big techs. Todas elas sediadas na Califórnia, todas com valor de mercado na casa dos trilhões de dólares.
E todas dependem dos chips fabricados pela Nvidia, que tem se dado muito bem obrigado – as ações dobraram de valor desde o começo do ano. É como se Moscou e Washington dependessem de um mesmo fornecedor de urânio para chegar à bomba atômica. E só houvesse um no mundo.
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Só a Meta, de Mark Zuckerberg, já gastou mais de US$ 30 bilhões nas GPUs da Nvidia. Não é mera coincidência que as declarações de Zuckerberg sobre o AI Studio foram dadas em entrevista ao CEO da fabricante de chips, Jensen Huang, num evento em Denver, Colorado.
Agora multibilionário por conta da disparada das ações, Huang parabenizou Zuckerberg pela infraestrutura que a Meta construiu com as 600 mil unidades de GPUs compradas da Nvidia.
“Somos bons clientes”, respondeu o CEO da Meta, arrancando gargalhadas da plateia.
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