Cui Shu, advogado na cidade de Xiamen, no sudeste da China, estava trabalhando em seu escritório na manhã de sexta-feira (28) quando recebeu uma enxurrada de ligações e mensagens de texto de clientes, que buscavam freneticamente orientação sobre a última proposta do presidente Trump, divulgada nas redes sociais horas antes: uma tarifa adicional de 10% sobre todas as importações chinesas.
Um dos clientes de Cui, fabricante de transformadores elétricos, já estava transferindo a produção para a Malásia. Outro, produtor de autopeças, queria transferir a fabricação para a Tailândia. Ambos tinham pedidos urgentes: Cui poderia ajudá-los a acelerar o processo?
“As empresas estão em pânico e procurando soluções”, disse Cui em entrevista.
Muitos fabricantes chineses achavam que conseguiriam resistir aos 10% em tarifas adicionais impostas pelo governo Trump no início de fevereiro. Mas o último aumento tarifário proposto de 10% — programado para entrar em vigor na terça-feira — aumentou a dor e é um presságio do que pode vir pela frente.
Os fabricantes chineses que planejavam reduzir os preços para ajudar os clientes a absorver o aumento tarifário inicial agora estão enfrentando tarifas potencialmente mais altas. Aqueles que já operam com margens de lucro muito pequenas podem ser ainda mais prejudicados.
A nova proposta tarifária de Trump acrescenta mais urgência aos planos entre os fabricantes chineses de transferir a produção para fora do país, especialmente para o Sudeste Asiático. Fabricar e enviar mercadorias de outros países significa que os importadores dos EUA podem evitar o pagamento de taxas mais altas sobre os produtos chineses — isto é, a menos que Trump também tenha esses países como alvo.
Quando Trump aumentou as tarifas sobre produtos chineses durante seu primeiro mandato presidencial, muitas empresas adotaram a estratégia “China mais um”, buscando alternativas à China como chão de fábrica do mundo.
Países como o Vietnã são grandes beneficiários, atraindo mais investimentos de empresas sediadas na China e em outros lugares. Os produtos do Vietnã representaram mais de 4% das importações de mercadorias dos EUA no ano passado, ante cerca de 2% em 2017, de acordo com a análise do Centro de Comércio Internacional feita com os dados do Escritório do Censo americano.
Mas as ambições de política comercial de Trump em seu segundo mandato vão além da China. Seu governo planeja continuar com os planos de impor tarifas sobre o Canadá e o México e propôs uma reciprocidade que poderia aumentar os impostos sobre as importações de muitos países. A Casa Branca também está tentando restringir os investimentos da China nos EUA.
Para Xue Feng, proprietário da Shanghai Jefa Machinery, a notícia de novos aumentos tarifários o estimulou não a agir rapidamente, mas sim a ser cauteloso ao tomar medidas drásticas das quais possa se arrepender mais tarde. Sua empresa fabrica válvulas usadas na perfuração de petróleo e vende principalmente para clientes dos EUA.
Xue estava considerando transferir parte da produção para os EUA para evitar tarifas ainda mais altas e aproveitar a demanda mais forte por válvulas dado o incentivo de Trump a um maior crescimento na produção doméstica de petróleo. Agora, ele está tendo dúvidas. Disse que consegue tolerar alguns aumentos de tarifas por enquanto porque seus produtos são vendidos por metade ou até um terço dos preços oferecidos pelos concorrentes americanos.
“Com todas as mudanças que estão acontecendo, a incerteza está ficando maior. Se estivermos com dificuldades e perdermos o ritmo, as consequências podem ser desastrosas”, disse Xue.
O Ministério do Comércio da China disse na sexta-feira que a China se opõe à imposição de tarifas unilaterais, instou os EUA a se envolverem em negociações para resolver as diferenças e prometeu adotar contramedidas, se necessário. Trump vinculou os dois aumentos de tarifas anunciados até agora em seu segundo mandato ao papel da China na cadeia global de fornecimento de fentanil, que o porta-voz do Ministério do Comércio chinês descreveu como uma tentativa de “passar a responsabilidade”.
Fabricantes chineses menores com recursos limitados estão em apuros, disse Ken Huo, consultor de manufatura em Foshan, cidade industrial no sul da China. Essas empresas não podem se dar ao luxo de fazer grandes investimentos, como novas instalações no Sudeste Asiático.
Huo faz parte de uma associação comercial em Foshan, centro de fabricantes de móveis. Ele disse que seu aplicativo de mensagens WeChat não parava, com proprietários de empresas locais expressando confusão e medo após o último anúncio de tarifas.
“O pior é que realmente não sabemos qual é o próximo passo do governo Trump em relação às tarifas”, disse ele.
O líder chinês Xi Jinping mostrou pouco interesse em um acordo focado exclusivamente no fentanil, mas pretende negociar um mais amplo, que possa definir o tom das relações bilaterais com os EUA, informou o Wall Street Journal.
Os economistas concordam em grande parte que as tarifas tornam os produtos mais caros para os consumidores americanos. Edward Rosenfeld, executivo-chefe da fabricante de calçados Steve Madden, disse em uma teleconferência de resultados na quarta-feira que a empresa “aumentará seletivamente os preços” no outono para combater o efeito das tarifas.
A Steve Madden disse que continua a retirar sua produção da China. A fabricante de calçados e acessórios de moda disse que, até agora este ano, 58% dos produtos importados para os EUA vieram da China, uma queda acentuada em relação aos 71% relatados em novembro.
Cui, o advogado, disse que tem dois conselhos para os clientes: diversificar as bases de clientes para depender menos dos EUA e transferir a produção para outro lugar para reduzir os riscos tarifários.
Escreva para Clarence Leong em [email protected] e Hannah Miao em [email protected]
Traduzido do inglês por InvestNews
Presented by