A BYD está ampliando sua liderança sobre a Tesla em tecnologia de direção autônoma para os compradores de carros chineses, com a introdução na segunda-feira (10) de um novo sistema para veículos populares.
Os avanços da BYD e de outras montadoras chinesas contrastam com a incapacidade da Tesla de lançar seu mais recente software de assistência ao motorista na China, devido ao que o CEO da marca, Elon Musk, descreveu em janeiro como obstáculos regulatórios.
A BYD disse que disponibilizará seu sistema de tecnologia de assistência à direção, chamado “Olhos de Deus” em chinês, em todos os seus modelos, incluindo o Dolphin Mini, seu modelo de entrada; que parte de R$ 60 mil na China e de R$ 115 mil no Brasil.
Carros com a tecnologia, que é chamada de DiPilot em inglês, podem estacionar e percorrer ruas da cidade com o mínimo de intervenção humana. A BYD não disse quando o serviço estaria disponível em seus veículos.
O fundador da BYD, Wang Chuanfu, disse que sua empresa leva vantagem porque tem muitos carros em uso, dos quais coletar dados para treinar seu sistema de IA. “Se os dados de um carro são uma gota d’água, então a BYD tem um oceano deles”, disse Wang.
O preço das ações da BYD subiu 17% em dois dias na semana passada, em antecipação ao anúncio de segunda-feira.
O software de direção autônoma alimentado por IA está evoluindo rapidamente na China, o maior mercado de veículos elétricos do mundo. As startups XPeng e Li Auto, além da fornecedora Huawei Technologies e outras, trouxeram ao mercado uma sofisticada tecnologia de assistência à direção.
A BYD vendeu 3,7 milhões de carros de passageiros no ano passado na China, um aumento de 37% em relação ao ano anterior. As vendas da Tesla também cresceram, mas não tão rapidamente, subindo 9%, para cerca de 660 mil unidades. Globalmente, a BYD está bem próxima da Tesla como a maior fabricante de VEs completos.
Há dez meses a Tesla aguarda a aprovação final na China de sua própria versão de direção com inteligência artificial, chamada “Full Self-Driving (Supervised)”, ou FSD. Em abril, Musk garantiu certa boa vontade depois de fazer lobby pessoalmente com o primeiro-ministro chinês.
“Se a BYD conseguir reduzir o custo desse tipo de tecnologia para um nível de preço tão baixo, o halo da marca Tesla será prejudicado”, disse Yale Zhang, diretor-gerente da empresa de pesquisa de mercado Automotive Foresight, com sede em Xangai. Ele acrescentou que os carros da Tesla, que são relativamente sofisticados, não competem diretamente com a maioria dos veículos do mercado de massa da BYD.
O site da Tesla na China mostra o FSD com preço equivalente a US$ 8.800, embora, no momento, os consumidores só possam obter serviços menos avançados. A Tesla não respondeu aos pedidos de comentários.
À medida que os VEs vão se tronando a norma na China — cerca de metade dos carros de passageiros vendidos hoje no país são VEs completos ou híbridos plug-in —, o software de assistência à direção surge como um fator-chave para os consumidores.
A tecnologia mais recente, incluindo a da BYD, usa modelos de IA para responder a novas vias e cenários e é projetada para ser capaz de dirigir o carro sem intervenção humana desde o ponto de partida até o destino sob certas circunstâncias. No entanto, dadas as regras de trânsito chinesas, os motoristas são instruídos a ficar alertas o tempo todo e prontos para assumir o controle.
As pessoas do setor dizem que os desafios de segurança permanecem, especialmente em situações incomuns, que não são necessariamente refletidas no treinamento dos modelos de IA.
A BYD disse que planeja investir cerca de US$ 14 bilhões em IA e tecnologia de inteligência automotiva. A empresa tem mais de cinco mil engenheiros trabalhando na tecnologia. A BYD também disse que começou a usar modelos de IA desenvolvidos pela startup chinesa DeepSeek.
Seu sistema “Olhos de Deus” tem o nome de uma divindade da mitologia chinesa com três olhos. Ele coleta dados através de três câmeras no para-brisa dianteiro. Já há versões do sistema para veículos topo de linha.
Além das câmeras, o serviço da BYD também conta com radar e um sistema a laser conhecido como lidar para identificar veículos e pedestres na rua, o que, segundo ela, ajuda a melhorar a segurança e o desempenho quando a iluminação fraca dificulta a visão das câmeras. A BYD não usa o lidar na versão que planeja instalar em veículos populares.
A Tesla utiliza mais as câmeras. Musk disse que a abordagem é mais avançada e econômica, mas, em termos de segurança, preocupou alguns reguladores e motoristas.
A Tesla disse que espera que Pequim aprove seu software avançado este ano. Houve poucos sinais de progresso até agora.
Em uma teleconferência de resultados em 29 de janeiro, Musk reconheceu os desafios ao lançar o FSD na China. Ele disse que a empresa vivia um dilema, porque as autoridades chinesas não permitiram que a Tesla transferisse vídeos para fora do país para treinar seus modelos, enquanto as autoridades dos EUA não permitiram que a montadora treinasse o sistema FSD na China. Ele não deu detalhes sobre as restrições. A Tesla tem usado vídeos de ruas chinesas na internet para treinar seu sistema, disse ele.
As autoridades chinesas estão revisando como a Tesla planeja armazenar e processar dados coletados por meio de seu serviço FSD, disseram pessoas familiarizadas com o assunto. Os tecnocratas chineses também estão focados em determinar a segurança da Tesla, afirmaram as pessoas, depois que os reguladores de segurança automotiva dos EUA disseram em outubro que estavam investigando acidentes envolvendo o software de assistência ao motorista da Tesla. Esses acidentes ocorreram em condições de visibilidade reduzida, como neblina ou poeira.
Para Musk, a implantação do FSD na China é essencial para elevar a Tesla de uma fabricante de veículos elétricos para uma empresa de IA.
A Tesla ainda não obteve a aprovação oficial do ministério responsável pela indústria automobilística, segundo pessoas familiarizadas com o assunto. A empresa também precisaria obter aprovação em regiões individuais, como Xangai, onde a Tesla espera oferecer o software a um número limitado de motoristas.
Mesmo que Pequim fosse convencida da adequação do FSD da Tesla, consideraria a aprovação uma peça de xadrez no jogo geopolítico emergente no segundo governo Trump, dada a proximidade de Musk com o presidente, disseram analistas.
“Fazer um favor a Elon Musk sem receber um em troca é uma tática de negociação ruim. Uma coisa que você pode dizer sobre os chineses é que eles são negociadores muito bons”, disse Bill Russo, executivo-chefe da Automobility, empresa de consultoria com sede em Xangai.
Escreva para Raffaele Huang em [email protected] e Yoko Kubota em [email protected]
Traduzido do inglês por InvestNews
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