Os grãos de arábica brasileiros são a fonte de cerca de 35% a 40% do café consumido nos EUA, e uma taxa sobre importações aguardada a partir de 6º de agosto aumentaria o preço em cafeterias e supermercados.
O Brasil é de longe o maior produtor mundial de café e deve produzir um total de 65 milhões de sacas de grãos entre 2025 e 2026 — mais que o dobro do segundo maior produtor, o Vietnã — de acorod com estimativas do Departamento de Agricultura.
De fato, com mais de 40 milhões de sacas, o Brasil produz mais café arábica do que os cinco maiores produtores mundiais juntos. Isso inclui países como Colômbia e Honduras, onde os fabricantes de café americanos já compram grande parte de sua produção.
“Não temos condições de substituir facilmente o café brasileiro”, disse James Watson, analista sênior de bebidas do Rabobank. “Na maior parte, o café que é consumido é arábica.”
Vietnã
O Vietnã é o segundo maior produtor de café do mundo, mas praticamente não produz café arábica. A previsão é que o país produza 30 milhões de sacas de café robusta em 2025 e 2026, sendo o robusta um tipo de café mais barato e mais comumente usado em cafés instantâneos. Diversas marcas vendidas em supermercados são feitas com uma mistura de arábica e robusta.
A capacidade das torrefadoras americanas — algumas pertencentes a empresas como JM Smucker e Kraft Heinz — de trocar o café brasileiro por um exportador diferente é limitada. A produção doméstica é pequena e os EUA importaram 99% de suas necessidades de café até 2024. Havaí, Califórnia e Porto Rico são os únicos territórios americanos que produzem alguma quantidade de café.
Isso deixa poucas opções para as torrefadoras de café. As empresas podem procurar alterar suas receitas para os blends que produzem ou simplesmente aceitar preços mais altos devido às tarifas.
No mês passado, a JM Smucker — cujas marcas incluem Folgers, Dunkin’ e Café Bustelo — anunciou que aumentou os preços de seu café em maio e que fará o mesmo novamente em agosto. Esse comunicado foi divulgado antes do anúncio da tarifa sobre o Brasil por Trump.
Os envolvidos na cadeia de suprimentos de café hesitam em fazer negócios sem saber ao certo se a tarifa de 50% será implementada. Os comerciantes se apressaram para trazer mais café para os EUA antes da tarifa, desviando-o de outros países, afirmou a Citi Research em nota.
“O efeito real que estamos vendo é que as cadeias de suprimentos estão travando”, disse Tomas Araujo, associado comercial do StoneX Group.
Em uma publicação no Truth Social nesta quarta-feira (30), Trump se gabou do prazo de 1º de agosto para a imposição de tarifas como sendo “sólido” e não deverá ser prorrogado.
Contratos futuros
As negociações de contratos futuros de café na Intercontinental Exchange vinham em queda nos últimos meses, após a máxima recorde de US$ 4,29 por libra-peso atingida em fevereiro. Os contratos futuros de café ficaram entre as commodities com maior valorização em 2024, devido à seca que atingiu as lavouras brasileiras. Mas o clima melhorou desde então, fazendo com que o contrato futuro caísse 35%.
Os preços voltaram a subir no início de julho, com o acordo comercial sobre o café. Se a tarifa de 50% sobre o Brasil for implementada — “o que empresas e operadores não estão convencidos de que acontecerá”, disse Watson —, espera-se que os importadores cobrem mais dos compradores pelo embarque de café, o que, por sua vez, será repassado aos consumidores pelas torrefações nacionais.
Mas, sem tarifas, os preços dos contratos futuros do café deveriam cair. As lavouras de café no Brasil têm recebido mais chuvas, o que, por sua vez, está aumentando as estimativas de produção para o ano comercial de 2025-2026, de acordo com dados do USDA.
Os preços no varejo estão cerca de seis meses atrasados em relação às variações nos preços futuros. Portanto, os consumidores ainda estão sentindo o impacto da alta histórica dos preços de contratos futuros no início deste ano.
No acumulado do ano, o preço médio de varejo de uma xícara de café nas cidades dos EUA aumentou 9% em 2025.
“Os varejistas esperavam pagar menos com a queda dos preços futuros”, disse Watson. Mas, se as tarifas entrarem em vigor, os preços de contratos futuros e de varejo provavelmente não terão trégua. “Leva um tempo para que essa queda chegue ao mercado”, disse Watson.
Traduzido do inglês por InvestNews
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