A queda do presidente-executivo da Nestlé, Laurent Freixe, começou com uma denúncia anônima feita num canal interno da empresa chamado Speak Up.

Freixe mantinha um relacionamento íntimo com uma executiva de marketing que se reportava a ele, segundo o informante. O casal inicialmente negou qualquer relacionamento, informou a direção da empresa.

Foram necessárias duas investigações, mais denúncias no canal interno e uma carta enviada ao presidente do conselho da Nestlé para que a empresa de alimentos agisse, demitindo Freixe na segunda-feira (1) por violar seu código de conduta.

Freixe não respondeu aos pedidos de comentário.

CEO da Nestlé demitido por manter romance secreto com subordinada
Laurent Freixe mantinha um relacionamento íntimo com uma executiva de marketing – Foto: Divulgação

Desordem na Nestlé

A queda do executivo instaurou o caos na Nestlé depois de a empresa ter demitido de forma abrupta seu presidente anterior, por baixo desempenho.

Freixe, de 63 anos e na Nestlé desde 1986, havia redirecionado a empresa para marcas principais, como o café instantâneo Nescafé, as barras de chocolate KitKat e a ração para gatos Fancy Feast, desde que foi nomeado para o cargo há um ano.

O CEO francês cortou custos para reinvestir em produtos mais promissores, como café gelado, e reforçou a equipe executiva da Nestlé na sede da empresa, às margens do Lago Genebra.

A demissão de Freixe também envia a mensagem de que ninguém está acima das regras na empresa sediada em Vevey, Suíça. A Nestlé afirma que relatos recebidos no ano passado pelo canal Speak Up levaram à saída de mais de 100 funcionários.

A missão do sucessor

O suíço Philipp Navratil, sucessor de Freixe, enfrenta a tarefa de conter uma queda de anos nas ações da empresa e restaurar a calma após uma série de escândalos, confusões e saídas de executivos.

Navratil, de 49 anos, atuou mais recentemente como CEO da marca Nespresso. Ele ingressou no conselho executivo em janeiro.

Navratil ingressou na empresa como auditor interno em 2001. Nos últimos anos, liderou uma unidade responsável pela estratégia dos negócios de café da empresa. Ele não comandou nenhuma das principais operações regionais da Nestlé, ao contrário de seu antecessor, o que gerou ceticismo de alguns analistas quanto à sua nomeação.

Ele pareceu comprometido em seguir a estratégia definida por Freixe no outono passado, afirmando em uma declaração por escrito que estava totalmente alinhado à direção da Nestlé.

Freixe se junta a uma onda de outros CEOs que renunciaram devido a relacionamentos que violavam as políticas da empresa, incluindo o CEO da BP, Bernard Looney, há dois anos.

No início deste ano, o presidente da loja de departamentos americana Kohl, Ashley Buchanan, foi demitido por tentar canalizar negócios para uma parceira romântica com quem trabalhou.

Na Europa, os executivos frequentemente desfrutam de mais privacidade em relação à sua vida pessoal do que seus colegas nos EUA. Mas as investigações sobre relacionamentos no local de trabalho cresceram após o movimento #MeToo, de 2017.

“É improvável que o episódio restaure a confiança na empresa entre os investidores”, disse Jean-Philippe Bertschy, analista de investimentos da suíça Vontobel. Ele disse que mesmo na Suíça, onde a tradição é de que a vida pública não interfira na vida privada, as empresas que desejam investidores americanos precisam obedecer aos padrões americanos de governança corporativa.

Executivo polêmico

Freixe já havia causado polêmica internamente após criticar seu antecessor em entrevistas. Ele sugeriu que a Nestlé, com mais de 275 mil funcionários, havia se perdido com aquisições e diversificado demais suas linhas de produtos nos últimos anos.

O dilema da Nestlé em relação ao CEO começou quando surgiram relatos por meio do canal interno sobre um suposto caso entre Freixe e uma mulher de sua equipe, que respondia diretamente a ele.

O código de conduta empresarial da Nestlé determina que quaisquer relações pessoais entre funcionários devem ser divulgadas, para evitar conflitos de interesses.

Em seu site, a empresa informou ter recebido mais de 3 mil relatos sobre problemas de conduta em 2024. A empresa afirmou ter comprovado 644 e que 119 pessoas deixaram a Nestlé.

Além dos relatos no canal interno, uma carta enviada em maio ao presidente do conselho da Nestlé, Paul Bulcke, também trouxe denúncias sobre a conduta de Freixe. Não foi possível saber quem informou a empresa sobre o relacionamento.

A Nestlé investigou as conversas entre o CEO e a executiva de marketing, que também trabalhava na sede às margens do Lago Genebra. “Mas a investigação interna não encontrou nada que comprovasse o suposto caso”, disse um porta-voz da Nestlé. Ambos negaram ter tido um relacionamento.

A questão parecia ter se acalmado, mas a Nestlé começou a receber perguntas da mídia. No final de julho, o blog financeiro de Zurique Inside Paradeplatz noticiou o relacionamento, contando como os dois se conheceram em Vevey, em 2022. Ela havia ingressado na Nestlé como trainee de gestão 20 anos antes, de acordo com seu perfil no LinkedIn.

Após a notícia, Freixe continuou a negar que houvesse um relacionamento não revelado, disse uma pessoa familiarizada com o assunto.

Bulcke e o conselho decidiram contratar investigadores externos do escritório de advocacia Bär & Karrer para analisar os dados pessoais do CEO, incluindo textos e fotos.

Executivo tentou contornar a história

Quando a investigação foi concluída, mostrando evidências claras de um relacionamento íntimo, Freixe tentou mostrar que ainda estava no controle.

Ele se juntou inesperadamente ao seu diretor financeiro em um roadshow para investidores, reunindo-se na semana passada com analistas e investidores em Londres, Frankfurt e Zurique, segundo pessoas a par do assunto. De última hora, a Nestlé solicitou ao Barclays uma vaga na principal conferência de bens de consumo básicos do banco britânico, que ocorreria em Boston.

Freixe parecia quieto e desanimado, de acordo com pessoas presentes nas reuniões. Àquela altura, muitos analistas que cobriam a empresa já haviam lido sobre o relacionamento no blog suíço.

Com base na linguagem corporal de Freixe, segundo as pessoas presentes, alguns se perguntaram se a investigação poderia ser mais séria do que a empresa havia dito anteriormente.

Analistas que tomaram café da manhã com Freixe em Londres no final da semana passada não mencionaram o suposto relacionamento, embora fosse um assunto de preocupação para os investidores, de acordo com um participante.

Àquela altura, o conselho da Nestlé já tinha visto o suficiente no relatório do escritório de advocacia. Reuniu-se no fim de semana e, na segunda-feira, confirmou a demissão de Freixe. A executiva de marketing envolvida na história também deixou a empresa.

Traduzido do inglês por InvestNews

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