O presidente eleito Donald Trump planeja incentivar a retomada intensa da exploração de petróleo nos Estados Unidos, mas o setor de xisto mudou significativamente desde seu primeiro governo.
A exploração desordenada praticamente acabou, substituída por uma abordagem mais metódica das grandes petroleiras. Wall Street contribuiu para essa mudança, pressionando as empresas a priorizar retornos aos investidores. Paralelamente, a produção na maioria das regiões petrolíferas americanas deve diminuir devido ao amadurecimento dos campos e à redução de áreas promissoras.
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O cenário indica que o setor dificilmente repetirá o crescimento explosivo do primeiro mandato de Trump, quando a produção diária saltou de 9 para quase 13 milhões de barris.
“Não veremos mais aquele crescimento explosivo”, reforça Richard Dealy, responsável pelas operações da Exxon Mobil na Bacia do Permiano, principal região produtora dos EUA. No início do ano, a Exxon adquiriu a concorrente Pioneer por US$ 60 bilhões e planeja dobrar sua produção na região até 2030, chegando a 2,3 milhões de barris diários.
Na Bacia do Permiano, que abrange o oeste do Texas e Novo México, a concentração do mercado é evidente. Há 10 anos, 30 empresas produziam cerca de um terço do petróleo. Em julho, apenas três companhias – Exxon, Diamondback Energy e Occidental Petroleum – respondiam por volume similar.
Independentes diminuem
O fim da era dos exploradores independentes exemplifica essa transformação. Essas empresas, majoritariamente de capital fechado, foram pioneiras em técnicas avançadas de perfuração e fraturamento hidráulico (do inglês, “fracking”: processo de extração que utiliza água pressurizada para liberar o petróleo das rochas). Elas mantiveram ritmo acelerado de perfuração mesmo quando empresas de capital aberto começaram a controlar gastos.
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Quando os preços do petróleo se recuperaram após a pandemia, empresas privadas como a Endeavor Energy Resources lideraram a retomada gradual da produção. Desde então, companhias de capital aberto absorveram muitas dessas empresas menores, incluindo a própria Endeavor, adquirida pela Diamondback por US$ 26 bilhões este ano.
Hoje, empresas de capital fechado, de perfil independente, controlam apenas 25% das plataformas na região do Permiano, contra 50% em janeiro de 2022, calcula Rob Wilson, analista da East Daley Analytics.
Apesar da onda de fusões recentes, o setor de xisto ainda é menos concentrado que os setores automobilístico ou aéreo. Investidores preveem mais megafusões. “Com a consolidação, o Permiano está se tornando uma gigantesca fábrica”, observa Chris Atherton, CEO da EnergyNet, plataforma de negociação de ativos petrolíferos.
Eficiência é o foco
Após recuperar-se da pandemia, a produção americana atingiu recorde de 13 milhões de barris diários sob Biden. Embora os preços garantam lucro para muitos produtores, limitações geológicas devem restringir o crescimento futuro, mesmo com avanços tecnológicos.
Os operadores enfrentam ainda restrições na rede elétrica para suas operações e dificuldades no descarte das enormes quantidades de água residual geradas junto com o petróleo.
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Outras regiões produtoras importantes, como Eagle Ford (Texas), Williston (Dakota do Norte) e DJ Basin (Colorado), registram produção estagnada ou em declínio, segundo o JPMorgan Chase.
O banco projeta crescimento de 3,6% na produção americana até 2030, alcançando 13,5 milhões de barris diários, comparado ao aumento anual de 13,4% desde 2022.
Em vez de novas perfurações, as empresas focam em maximizar a extração das reservas existentes. “Perfuramos 300 poços anuais aqui por oito anos. Precisamos melhorar nossa eficiência”, diz Kaes Van’t Hof, presidente da Diamondback.
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Traduzido do inglês por InvestNews
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