O pessimismo entre os investidores — medido pela porcentagem dos que esperam que os preços das ações caiam nos próximos seis meses — atingiu 47,3% na semana encerrada em 12 de fevereiro, de acordo com a última pesquisa da Associação Americana de Investidores Individuais (AAII na sigla em inglês). Esse é o nível mais alto desde novembro de 2023.
O otimismo que marcou grande parte dos últimos dois anos foi abalado por ameaças de guerra comercial, turbulência regulatória, inflação teimosa e expectativas cada vez menores de cortes adicionais nas taxas de juros.
O S&P 500 subiu 23% em 2024, liderado por algumas poucas ações que alcançaram avaliações altíssimas no decorrer do ano. E embora os investidores não estejam totalmente desanimados com o mercado, uma constante enxurrada de manchetes deixou alguns deles menos confiantes sobre o rumo das ações a partir de agora.
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O aumento do pessimismo nem sempre é um mau sinal. De fato, alguns investidores usam a pesquisa como um indicador contrário, vendendo quando o sentimento de alta atinge patamares máximos e comprando quando a baixa aumenta.
“O clima está confuso. Ninguém sabe quais políticas serão adotadas e quais não serão”, disse Ed Yardeni, presidente da Yardeni Research. “Não é necessariamente pessimismo, apenas não é otimismo.”
Tom Yaeger, aposentado de 74 anos que mora nos arredores de Allentown, na Pensilvânia, está entre os que estão reavaliando suas perspectivas de mercado. Ele votou em Donald Trump na eleição de novembro — mas achou confusas certas atitudes iniciais do presidente.
“Algumas medidas são boas; outras confundem”, disse ele, citando exemplos como o desejo do presidente de assumir o controle da Groenlândia ou sua agressividade contra parceiros comerciais de longa data, como México e Canadá. “Estou em modo de espera, tentando ver para que lado as coisas vão.”
Recentemente, Yaeger transferiu cerca de US$ 600 mil de ações de crescimento para fundos focados em valor e dividendos, investindo no que espera ser uma parte do mercado menos arriscada e com preços mais atraentes.
Além dessa incerteza, as poderosas empresas de tecnologia, estrelas do mercado de ações do ano passado, perderam um pouco de seu brilho. O ETF Roundhill Magnificent Seven subiu 2,08% este ano até o momento, ficando atrás de todos os três principais índices.
Alguns investidores estão retirando dinheiro das ações: as saídas de fundos mútuos e negociados em bolsa dos EUA superaram as entradas em quase US$ 11 bilhões em janeiro, o que significa que os investidores retiraram mais dinheiro do que adicionaram, de acordo com dados da Morningstar Direct. Em dezembro, esses fundos tiveram entradas líquidas de US$ 62,8 bilhões.
As tarifas são a política de Trump que os investidores estão observando, agora que o presidente decide quando elas serão implementadas e quais países serão visados. Economistas disseram que as tarifas podem piorar a inflação, aumentar os custos para as empresas americanas, além de pesar sobre o crescimento e, portanto, os mercados.
Quando questionados sobre como achavam que as tarifas afetariam a economia, 57,4% dos investidores disseram esperar que a política comercial desaceleraria o crescimento e aumentaria os preços, de acordo com a pesquisa da AAII.
Essas apreensões também se espalharam por toda a economia, derrubando o sentimento do consumidor e preocupando os executivos de negócios.
Os investidores institucionais também estão reavaliando o risco do mercado. O apetite pelo risco caiu acentuadamente em fevereiro, de acordo com o S&P Global Investment Manager Index, à medida que os investidores em ações reconsideram o possível efeito do governo Trump no aumento dos lucros e na economia. As expectativas dos investidores sobre os retornos das ações nos EUA no próximo mês também baixaram.
Entre os fatores que complicam o clima estão as chances do fim dos cortes nas taxas do Federal Reserve. A maioria dos investidores esperava que o banco central reduzisse as taxas duas ou três vezes este ano, mas o relatório de inflação mais alta que o esperado na última quarta-feira provavelmente atrapalhou a perspectiva de um corte para breve.
Contudo, os investidores não estão virando as costas para as ações por completo. Os principais índices subiram em dez de fevereiro, apesar das recém-anunciadas tarifas sobre o aço e o alumínio. Na quinta-feira, Trump adiou um plano de reciprocidade com países que cobram tarifas sobre as importações dos EUA. Isso ajudou a elevar as ações.
E, após vários anos de grandes retornos, será preciso muito para azedar totalmente a opinião dos investidores individuais sobre o mercado de ações.
“Esses indicadores de sentimento mostram do quão mimados fomos nos últimos dois anos”, disse Adam Turnquist, estrategista-chefe técnico da LPL Financial. “Há muito otimismo implícito neste ano, e acho que parte disso precisará ser redefinido à medida que avançamos.”
Escreva para Hannah Erin Lang em [email protected]
Traduzido do inglês por InvestNews
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